Globo
Projeção para a inflação dos próximos meses
não é boa. Não é a disparada que houve em outros momentos, quando chegou a dois
dígitos, mas ficará acima de 5%
A inflação vai ser um problema para as famílias e o governo ao longo de todo o ano e talvez o Banco Central tenha que escrever duas cartas se explicando. Fevereiro terá um número bem ruim. Estas são as más notícias. As boas são que há indicações de queda de preços de alimentos no atacado e no varejo, principalmente em óleos, suínos e leite. Do ponto de vista político, a inflação será explorada fortemente pela oposição, mas um olhar pelos dados dos últimos anos mostra que a alta de preços de alimentos foi muito mais pesada no governo passado.
O economista José Roberto Mendonça de Barros,
da MB Associados, tem dito que o pior passou em alimentos. Esse gráfico foi
elaborado pela MB Agro e mostra a história recente da inflação de alimentos.
Chegou a 21% no começo da pandemia, e em todo o governo Bolsonaro esteve bem
alta. Em 2023, houve uma queda forte, com deflação de alguns preços, como
carne. Em 2024, voltou a subir e agora as curvas começam a ceder. Perguntei a
José Roberto o que acrescentar diante desse gráfico:
— No IPA atacado em janeiro, o preço agrícola
foi para o negativo. E eu olhei a Fipe de primeiro de fevereiro — como é um
índice quadrissemanal, o dado é mensal — e óleos caíram 0,70% de antecipação da
safra de soja. Leite caiu 1,70%, produtos in natura 1,04%, suínos 3,62%, porque
a boa safra de grãos barateia a ração. Não é só no produtor, não é só no
atacado, mas também no varejo, como mostram nos dados da Fipe, há queda
apreciável de alguns produtos. Obviamente isso não vai afetar café, nem
laranja. Os produtos in natura são sazonais. Mas até a carne bovina caiu meio
ponto.
Esse alívio é bem-vindo, mas a projeção dos
próximos meses não é boa. Não é a disparada que houve em outros momentos,
quando chegou a dois dígitos, mas ficará acima de 5%. O Focus mostra que a
projeção do mercado subiu pela 18ª semana e está em 5,60%, dos atuais 4,56%. O
economista Luiz Roberto Cunha, da PUC, disse que mesmo nos melhores cenários, a
inflação ficará até o fim do ano acima do teto da meta. E o mês de fevereiro
vai assustar.
— Em fevereiro, a inflação deve ficar em
1,37%, porque em janeiro houve o bônus de Itaipu que derrubou o índice. O IPCA
ficaria em 0,71% em janeiro, mas com o bônus reduzindo o preço da energia, foi
para 0,16%. Houve redução na conta de janeiro, mas agora o preço volta ao
normal, um impacto de 15%. Isto levará o índice em 12 meses para 5,12%. A
previsão do Focus para março é 0,48%, e como em março do ano passado ficou
0,16%, a anual vai para 5,46%. Luiz Roberto Cunha estava ontem diante de uma
planilha de números tentando fazer todas as projeções. Acha que em abril o
índice nos 12 meses chegará a 5,59%.
— Se a partir daí a média mensal for de
0,35%, atinge 5,45% no final do ano. Se for 0,25%, dá 4,61%. Como a nova
fórmula da meta de inflação obriga o Banco Central a escrever carta se
explicando quando houver seis meses de inflação acima do teto, é possível que
Gabriel Galípolo tenha que escrever uma carta em junho e outra em dezembro.
A coleta de alimentos já está dando números
melhores, confirma Cunha. Além disso, o câmbio em queda terá efeito. Se os
preços do petróleo diminuírem será uma ajuda. Mas o problema continuará
pressionando. O
ministro Fernando Haddad disse que a inflação (entre 4% e 5%) está no normal do
Plano Real, que acabou com a hiperinflação. Mas o fato é que está
acima da meta que o próprio governo estabeleceu.
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