quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O PIB e os juros de Lula - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

A aposta é de que a ala política, com o marqueteiro à frente, vai ditar as decisões do governo até 2026

É crescente o temor de que o tombo nos índices de aprovação do presidente Lula terá um impacto populista sobre as principais variáveis macroeconômicas em 2025 e, sobretudo, em 2026, ano de eleição presidencial: um piso para a desaceleração do crescimento do PIB e um teto para o aumento dos juros, com efeito colateral sobre a inflação.

Com a reeleição no foco do presidente, especialmente depois de ter colocado o seu marqueteiro da campanha eleitoral em 2022 como funcionário do governo, ocupando a Secretaria de Comunicação Social, dificilmente Lula abrirá mão das suas principais bandeiras políticas, como criação de postos de trabalho, baixa taxa de desemprego e programas de transferência de renda.

Para tanto, seria necessário evitar que um aperto adicional na política monetária leve a um esfriamento demasiado da economia. Assim, o Banco Central manteria a taxa Selic no patamar de 14,25% ou não a elevaria muito além desse nível. Mas, se o BC decidir adotar uma postura mais dura, jogando os juros para acima de 15%, a suspeita é de que Lula possa neutralizar o efeito restritivo da política monetária ao adotar medidas fiscais de estímulo ao consumo. Um exemplo disso seria a aprovação do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, sem as devidas medidas de compensação da arrecadação.

Na última pesquisa Focus, do BC, o consenso das projeções aponta para um crescimento de 2,01% do PIB, em 2025, e de 1,70% em 2026. A estimativa dos analistas é de uma taxa Selic a 15% no fim deste ano, com a inflação subindo 5,60%, em 2025, e 4,35% em 2026, acima da meta de 3% perseguida pelo BC.

Uma das vítimas acidentais desse cenário de “tudo pela reeleição” é o modelo dos economistas para projetar as variáveis macroeconômicas. Os erros dessas projeções ao longo dos anos são até corriqueiros, mas agora o grau de confiabilidade é ainda menor. Se um economista trabalhar com o cenário de uma Selic a 15,50% ou até 15,75%, a sua projeção de PIB talvez não seja reduzida tanto, como a hipótese de juros mais altos exigiria, diante da suspeita de que uma postura fiscal mais frouxa acabe sabotando a intenção de esfriar a economia para trazer a inflação de volta à meta.

Já está sacramentada a visão entre analistas de que, para Lula e o PT, gasto é vida e que, para isso, não há problema em ter um pouco mais de inflação. Não à toa, a aposta é de que a ala política, com o marqueteiro à frente, vai ditar as decisões do governo até 2026. A política fiscal de Fernando Haddad perdeu completamente a relevância.

 

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