Folha de S. Paulo
Gonet inocentou o Exército, mas o golpe
fracassado tinha o DNA da farda
Era pule de dez. A investigação da Polícia
Federal sobre o golpe fracassado de 2022 foi ampla e detalhista, mas
sobretudo técnica, resultando no relatório de 884 páginas baseado nos
depoimentos e no cruzamento de informações colhidas ou recuperadas de celulares
e computadores, além de documentos, entre os quais a famosa minuta, e anotações
dos acusados.
(O general Heleno fazia garranchos numa agenda. O que os golpistas pretendiam ao deixar, com a certeza da impunidade, um rasto tão acessível e incriminatório? A glória dos heróis? A adoração dos netinhos?)
Redigida com essencialidade, a denúncia de
272 páginas reúne provas num relato cronológico, quase um roteiro de cinema
pronto para ser filmado. Dá a dimensão de todo o projeto contra a democracia,
como começou (com os ataques às urnas eletrônicas em 2021), se desenvolveu e
terminou, incluindo a insurreição fascista de 8/1 —que alguns parlamentares
querem desconhecer.
Aponta que o plano Punhal Verde e Amarelo —o
de executar o presidente Lula, o vice Alckmin e o ministro Alexandre
de Moraes—
foi estruturado no Palácio do Planalto e levado a Bolsonaro, "que a ele
anuiu". É espantoso, mas nem tanto para quem declarou que "o erro da
ditadura foi torturar sem matar".
Paulo Gonet inocentou
o Exército, mas é evidente que as fardas fervilhavam. Estão denunciados os
ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier, e do Exército, Paulo Sérgio Nogueira,
os generais de quatro estrelas Braga Netto e Estevam Theophilo. E Augusto
Heleno, que parecia ter a importante função de anotador e apontador do golpe. É
de imaginar a gloriosa carreira que ele teria no jogo do bicho.
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