Karoline Bandeira, Jeniffer Gularte, Sérgio Roxo, Victoria Abel e Camila Turtelli / O Globo
Escolha de Lula foi criticada por não atender
a siglas aliadas que reivindicam mais espaço na Esplanada
A posse dos ministros Alexandre
Padilha, na Saúde, e Gleisi
Hoffmann, na Secretaria de Relações Institucionais, em evento ontem no
Palácio do Planalto, foi marcada por recados
ao Congresso, sinalizações sobre 2026 e a ausência de parte dos líderes do
Centrão. A escolha do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pelos dois novos ministros, ambos filiados ao PT, foi
criticada nos bastidores por não atender a siglas aliadas que reivindicam mais
espaço na Esplanada.
As trocas foram as primeiras da reforma ministerial prevista por Lula para a segunda metade do mandato, quando passou a enfrentar queda vertiginosa de popularidade. As nomeações de Padilha e, em especial, Gleisi, ex-presidente do PT, foram vistas por aliados como uma guinada à esquerda do governo, principalmente pelas críticas públicas que ela já fez à pauta econômica do ministro Fernando Haddad. Ao tomar posse, Gleisi adotou um tom de conciliação, com acenos tanto ao titular da Fazenda quanto ao Congresso.
— Tenho plena consciência do meu papel, que é
da articulação política. Estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar
nas consolidações das pautas econômicas do governo. Pautas que você conduz e
que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da
renda — disse Gleisi, acrescentando que “cumprirá acordos” com o Congresso. —
Devemos fazer política para somar, respeitando adversários, construindo
alianças e cumprindo acordo legitimados no interesse do país e da população — afirmou
ela.
‘Críticas e sugestões’
Sob o comando de Gleisi, o PT chegou a
divulgar nota na qual chamava medidas do agora colega de Esplanada de
“autericídio fiscal”. A indicação da ex-dirigente partidária para assumir a
articulação política do governo também gerou desconfiança entre aliados, uma
vez que a petista tem histórico de embates com parlamentares.
Sentados no palco do evento ao lado de Lula,
os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ouviram da ministra promessas de
parceria.
— Quero manter a relação respeitosa, franca,
solidária e direta. Não tenham dúvidas que estarei sempre aqui para conversar,
ouvir críticas e acolher sugestões — disse Gleisi.
A principal pauta do governo no Congresso
para 2025 é aprovar a reforma que prevê isenção de Imposto de Renda para quem
ganha até R$ 5 mil por mês. O texto, contudo, ainda está em discussão no
governo. A promessa de campanha de Lula deve valer apenas a partir de 2026, ano
eleitoral, caso seja aprovada pelos parlamentares até lá.
Também uma das prioridades do governo, o
Congresso pode se debruçar sobre a limitação dos supersalários no serviço
público. A ideia é usar um dos projetos que já estão no parlamento para retomar
o assunto, já que a medida do pacote de corte de gastos que endurecia as regras
para a contabilidade do teto salarial foi desidratada pelos parlamentares. Esse
tema foi tratado por Haddad com os líderes do Senado em fevereiro.
Além disso, há pressa da equipe econômica em
aprovar o Orçamento de 2025, que teve a análise adiada pelos parlamentares
diante de um impasse com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pagamento de
emendas.
Substituta do próprio Padilha na articulação
política, Gleisi almoçará hoje com líderes da Câmara. O objetivo, além de
desenhar prioridades na agenda de votações, será a articulação com as legendas
para ampliar o espaço das siglas aliadas no governo. Segundo interlocutores, a
nova ministra deverá organizar uma nova fase da reforma ministerial em acordo
com o presidente da Casa, Hugo Motta, e com aval de Lula.
No domingo, véspera da posse, a nova ministra
se reuniu com Motta em Brasília para dar o pontapé inicial nas articulações. No
mesmo dia, se encontrou com o líder do MDB,
Isnaldo Bulhões (AL), que chegou a ter o nome cotado para assumir a Secretaria
de Relações Institucionais em seu lugar.
Isnaldo foi um dos poucos líderes dos
partidos de centro a comparecer na posse da nova ministra em Brasília. Apesar
de ter sido uma cerimônia lotada, em que foi preciso utilizar um salão a mais
no Palácio do Planalto para acomodar todos os convidados, poucos líderes de
partidos aliados da Câmara e do Senado estiveram presentes.
Entre os líderes da Câmara, nomes como
Gilberto Abramo (MG), do Republicanos, Doutor Luizinho (RJ), do PP, e
Antonio Brito (MG), do PSD, não
participaram do evento no Palácio do Planalto. Já entre os senadores, o líder
do União, Efraim Filho (PB), assim como o do MDB, Eduardo Braga (AM), e do PSD,
Otto Alencar (BA), não foram. Todos eles disseram que estavam fora de Brasília.
Ao mesmo tempo em que precisará contornar as
desconfianças de partidos da base, Gleisi terá de lidar com a artilharia que a
oposição prepara para surfar na queda de popularidade de Lula. A intenção é
pressionar com convocações de ministros e pedidos de informação. Aliados do
ex-presidente Jair Bolsonaro têm também como missão destravar a proposta de
anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Embate com a oposição
Em seu discurso, Gleisi deu indícios de que
seu papel na pasta também será o de fazer o enfrentamento à oposição, já tendo
em vista a disputa eleitoral de 2026, quando o próprio Lula ou um nome apoiado
por ele deve concorrer contra o candidato do bolsonarismo. A avaliação no
Planalto é que o governo ficou carente de ministros com perfil mais combativo
após a saída de Flávio Dino, no início de 2024, para assumir uma cadeira no
Supremo. A aposta é que a nova titular das Relações Institucionais possa exercer
esse papel.
— Ao fim da duríssima campanha de 2022, a
democracia venceu nas urnas pela vontade popular, e venceu a trama golpista do
8 de janeiro — disse ela, que agradeceu ao ministro Alexandre de Moraes, do
STF, pelas investigações que resultaram na denúncia de Bolsonaro e outras 33
pessoas por suspeitas de envolvimento em trama golpista.
Além dos embates políticos, Gleisi assume o cargo no governo com a missão de costurar alianças para a campanha presidencial de 2026, tanto para o caso de Lula disputar novo mandato como para o de ele indicar outro nome para a sucessão. Um dos motivos citados para que ela fosse a escolhida como ministra foi o trabalho em 2022, quando coordenou a campanha petista e ajudou a articular uma frente ampla de partidos.
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