Mariana ZylberkanYuri Eiras / Folha de S. Paulo
Manifestação em São Paulo
fez caminhada até o antigo Doi-Codi e teve presença do deputado Boulos
Neste domingo (30), a
esquerda realizou atos dispersos pelo país, tendo a pauta contra a anistia aos
envolvidos com os atos golpistas de 8 de janeiro como bandeira principal e
defendendo a prisão do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL).
A organização da maioria
dos atos, que seguem ao longo dos próximos dois dias, foi feita pelas entidades
que formam as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular.
Em São Paulo, partidos de
esquerda e centrais sindicais se reuniram na praça Oswaldo Cruz, na região da
avenida Paulista. Dali, seguiram em caminhada até o antigo Doi–Codi
(Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa
Interna), principal centro de tortura da ditadura militar na cidade.
Convocada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) em suas redes sociais, a manifestação reuniu também outros congressistas do PSOL como Ivan Valente (SP) e Erika Hilton (SP). O Partido dos Trabalhadores (PT) foi representado pelo deputado federal Lindbergh Farias (RJ), líder do partido na Casa, e o deputado estadual Antônio Donato (SP).
"Esse ato de hoje,
antes de tudo, ele é muito simbólico, porque amanhã completa 61 anos do golpe
militar de 64 que instaurou uma ditadura nesse país. E nós estamos aqui
defendendo a democracia, defendendo punição aos golpistas 61 anos depois",
disse Boulos.
Afirmou ainda que será
feita articulação para que o projeto de lei da anistia não seja aprovado.
"Anistia é o escambau", afirmou ele.
"Essa semana a gente
ficou ouvindo provocação da imprensa, da direita, dizendo que nosso ato ia ser
esvaziado", disse ainda o deputado. "Eu digo a vocês sem medo de
errar, aqui hoje na avenida Paulista tem mais gente do que o ato golpista em
Copacabana".
Quando começou a seguir
rumo ao Doi-Codi, no Paraíso, zona sul de São Paulo, a manifestação ocupava o
espaço da praça Oswaldo Cruz e seu entorno e tomava uma das duas vias da
avenida Paulista, no quarteirão entre a praça e a rua Teixeira da Silva.
Levantamento do Monitor
do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common apontou que o público do
ato foi de 6.600 mil pessoas.
A medição foi feita no
horário considerado o pico do evento, às 15h15, por meio de fotos aéreas
analisadas com inteligência artificial. O mesmo grupo contabilizou a presença
de 18,3 mil pessoas em ato com Bolsonaro, no último dia 16, no Rio de Janeiro,
a favor da anistia.
No ato em São Paulo deste
domingo, os manifestantes também pediam a retirada do governo de Israel da
Faixa de Gaza e o fim da escala de trabalho 6x1. Houve ainda gestos a favor
de Lula (PT),
com participantes que faziam a letra "L" ao passar por apoiadores do
presidente que estavam nos prédios ao longo do caminho.
No Rio de
Janeiro, o ato foi marcado para a próxima terça-feira (1°), mas entidades
realizaram panfletagem e ações com cartazes pela cidade neste domingo.
Membros do MTST (Movimentos
dos Trabalhadores Sem-Teto) carioca estenderam sob os Arcos da Lapa uma
bandeira com a frase "sem anistia para quem ataca a democracia".
A bandeira, segundo
membros da entidade, foi colocada às 7h e retirada dez minutos depois por
policiais militares. Em nota, a PM afirmou que a remoção foi feita por se
tratar de um monumento histórico e cultural.
Militantes do PT (Partido dos
Trabalhadores) e da UP (Unidade Popular) entregaram panfletos e adesivos contra
a anistia na feira da Glória e no parque do Flamengo.
O ato na capital
fluminense na próxima terça está marcado para ocorrer na sede do antigo Dops
(Departamento de Ordem Política e Social), no centro, com caminhada em direção
ao Clube Militar, na Cinelândia.
Em Belo
Horizonte, Minas Gerais, o ato se concentrou na praça da Independência, na
avenida Afonso Pena. Os mineiros levaram cartazes com fotografias de
desaparecidos e mortos pela ditadura
militar e um boneco de pano com o rosto de Bolsonaro colocado entre
grades.
Os manifestantes que
carregavam as grades usavam máscaras dos ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal) Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, dois dos que votaram, na
quarta (26), pelo recebimento da denúncia
da PGR (Procuradoria-Geral da República), em julgamento da Primeira
Turma da corte que tornou
o ex-presidente réu.
Em Recife,
Pernambuco, o ato ocorreu no parque Treze de Maio, no bairro da Boa Vista e
em Belém,
no Pará, a manifestação concentrou estudantes ao redor do Theatro da Paz.
Já em Brasília, o
ato no Eixão do Lazer teve cartazes contra a anistia e pela memória dos mortos
na ditadura, com referências ao filme "Ainda Estou Aqui". Também
houve bandeiras e cartazes a favor da Palestina e de um cessar-fogo na região.
Há atos previstos nesta
segunda-feira (31) em Niterói, no Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, interior de
São Paulo, e Fortaleza.
Na terça (1°) estão
programadas manifestações nas capitais Aracaju, Campo Grande, Salvador, João
Pessoa, Rio de Janeiro, Teresina, São Paulo e Fortaleza.
As frentes Povo Sem Medo
e Brasil Popular programaram 29 mobilizações, em municípios de diversos estados
do país, entre sexta (28) e terça-feira (1°). Já o coletivo de advogados
Prerrogativas promoverá um ato na segunda-feira, na PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo), na capital paulista.
Pelo segundo ano
consecutivo, o governo Lula não
realizará atos oficiais em memória da data que marca o golpe militar de 1964.
No ano passado, no
aniversário de 60 anos, o presidente orientou
os ministérios a não fazerem nem críticas nem cerimônias ligadas ao
tema, em uma tentativa de não tensionar a relação com os militares. Em 2024,
Lula disse que preferiria não ficar "remoendo" sobre o golpe de 1964
porque isso "faz
parte do passado" e ele queria "tocar o país para
frente".
O Ministério dos Direitos
Humanos e da Cidadania afirmou que a pasta demonstra, por meio de ações, seu
compromisso com a democracia, a verdade e a memória da história política do
Brasil. Em nota, destacou ações em março sobre o tema.
Entre elas, está o pedido
de desculpas da ministra Macaé Evaristo às famílias de mortos e desaparecidos
por negligência da União na guarda e identificação de restos mortais na vala de
Perus.
Colaborou Ana Gabriela
Oliveira Lima, de São Paulo
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