Por Fabio Murakawa, Rafael Walendorff, Anaïs Fernandes e Marta Watanabe / Valor Econômico
Pacote do Executivo também inclui iniciativas regulatórias e incentivos para a produção de itens da cesta básica no próximo Plano Safra
O governo anunciou ontem uma série de medidas
para tentar combater a inflação de alimentos, com destaque para a redução a
zero do Imposto de Importação sobre produtos como café, açúcar e carnes. O
pacote inclui iniciativas regulatórias e incentivos para a produção de itens da
cesta básica no próximo Plano Safra, num momento em que a alta de preços da
comida afeta a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além
disso, o Executivo vai pedir aos governos estaduais para que o ICMS seja
eliminado na comercialização de produtos da alimentação básica.
O anúncio foi feito pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, após uma tarde de reuniões com ministros e representantes do setor privado no Palácio do Planalto. O governo ainda não tem cálculo do impacto na arrecadação tributária. Alckmin afirmou que serão zeradas as alíquotas de importação de carne (atualmente em 10,8%), café (9%), açúcar (14%), milho (7,2%), óleo de girassol (9%), azeite de oliva (9%), sardinha (32%), biscoitos (16,2%) e massas alimentícias (14,4%). No caso do milho, Alckmin disse que a isenção terá “grandes reflexos nos custos dos ovos e proteínas animais, as carnes”. Ele também anunciou a ampliação da cota para importação isenta de óleo de palma, de 65 mil para 150 mil toneladas. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que vai conceder a equivalência do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi) aos produtores de leite, ovos e mel fiscalizados pelo Sistema de Inspeção Municipal (SIM) por um ano. Com isso, esses produtos poderão ser comercializados em todo o país e não apenas na cidade em que são produzidos.
Para André Braz, coordenador dos índices de
preços do FGV Ibre, zerar o Imposto de Importação de itens como carne, café,
massas e açúcar pode ajudar “um pouco” a reduzir a inflação de alimentos, mas
não resolverá o problema. Outras medidas anunciadas sem muitos detalhes, como
estímulos para a produção de alimentos da cesta básica no Plano Safra, são
válidas, caso também do fortalecimento de estoques reguladores, mas não devem
ter efeito a curto prazo, avalia Braz.
Veja o que o governo vai fazer para tentar
baixar preços de alimentos
Medidas incluem regulações para cesta básica, além de zerar alíquota para carne, café e açúcar
Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sob pressão e com a popularidade em queda, o governo anunciou nessa
quinta-feira (6) um pacote de medidas para tentar reduzir o preço dos alimentos
no país.
Serão zerados impostos de importação de
vários itens, como café, açúcar e carnes. Também foram divulgadas iniciativas
regulatórias e incentivos para a produção de itens da cesta básica no próximo
Plano Safra. O Executivo também vai pedir aos governos estaduais para que o
ICMS seja eliminado na comercialização desses produtos de alimentação básica.
O anúncio foi feito pelo vice-presidente
Geraldo Alckmin, após uma tarde de reuniões com ministros e representantes do
setor privado no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
não participou das conversas, apesar de o encontro com sua equipe e os
empresários estar previsto em sua agenda oficial. Segundo Alckmin, Lula deu
aval às iniciativas. O governo ainda não tem cálculo do impacto que as medidas
terão na arrecadação tributária.
Alckmin disse que serão zeradas as alíquotas
de importação de carne (hoje em 10,8%), do café (9%), açúcar (14%), milho
(7,2%), óleo de girassol (9%), azeite de oliva (9%), sardinha (32%), biscoitos
(16,2%) e massas alimentícias (14,4%).
No caso do milho, Alckmin disse que a isenção
terá “grandes reflexos nos custos dos ovos e proteínas animais, as carnes”. A
inflação desses alimentos têm sido citadas nas pesquisas como motivo de
insatisfação da população em relação ao presidente.
O vice-presidente também anunciou a ampliação
da cota para importação isenta de óleo de palma, de 65 mil toneladas para 150
mil toneladas.
As medidas de redução tributária ainda
precisam ser aprovadas pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de
Comércio Exterior (Camex), ainda sem previsão de quando a análise ocorrerá. As
desonerações não terão prazo específico de validade.
“É difícil marcar data, mas é uma questão de
dias. Recebendo as notas técnicas dos ministérios, em poucos dias [a nova
tarifa] entrará em vigor”, disse Alckmin. Ele afirmou que ainda não tem o
cálculo para cada produto, mas que a medida mira a redução de preços aos
consumidores.
Alckmin afirmou ainda que governo e setor de
supermercados estudam uma forma de fazer publicidade dos melhores preços, como
forma de “estimular a disputa e favorecer o consumidor”. Ele não detalhou, no
entanto, como isso será feito.
Outra ação será pedir aos governadores de
alguns Estados para zerar tributos estaduais sobre produtos da cesta básica.
Segundo o vice-presidente, os impostos federais já são zerados, mas certos
Estados ainda cobram ICMS sobre esses itens.
Ele disse ainda que esse é o “primeiro
conjunto de medidas” acertado com setor privado. E afirmou que a cobrança de
taxa sobre exportações brasileiras, algo que chegou a ser discutido no governo,
não foi tema das conversas ontem.
O governo também atuará para fortalecer os
estoques reguladores e a concessão de incentivos no próximo Plano Safra para a
produção de itens da cesta básica. Alckmin não informou se haverá reforço
orçamentário para bancar a compra dos produtos pela Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), mas garantiu que a estatal terá o “recurso necessário”.
A previsão de verba para este ano, ainda pendente de aprovação pelo Congresso,
é de apenas R$ 189 milhões para aquisição de arroz, feijão e milho.
Para o Plano Safra, a intenção é estender
para os médios produtores incentivos com juros mais baratos para o cultivo de
produtos estratégicos, como o Valor já
havia mostrado. “O Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar] já tem centralidade de diminuição dos juros para subsidiar produtos
da cesta básica. O que está sendo pensado é estender subsídios para o Pronamp
[médios produtores]”, disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo
Teixeira. “Assim teremos um conjunto de produtos que serão subsidiados para
oferecer à sociedade centrando na cesta básica. Vamos estender esses subsídios
para os médios produtores.”
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro,
anunciou que vai conceder a equivalência do Sistema Brasileiro de Inspeção de
Produtos de Origem Animal (Sisbi) aos produtores de leite, ovos e mel
fiscalizados pelo Sistema de Inspeção Municipal (SIM) durante um ano. Com isso,
esses produtos poderão ser comercializados em todo o território nacional, não
apenas no município em que são produzidos.
“Vamos, por um ano, dar os efeitos do SIM
para todo território brasileiro. Aqueles produtos que não correm nenhum risco
de precarização sanitária, como foi dito, leite fluido, mel, ovos, que possam,
sem nenhum risco da qualidade dos alimentos [ser comercializados]”, afirmou
Fávaro, durante o anúncio.
Segundo o Valor apurou, a reunião
teve momentos tensos e de divergências mais acaloradas.
Um deles ocorreu após o governo sugerir a
manutenção, por tempo indeterminado, das misturas dos biocombustíveis ao diesel
e à gasolina. A proposta desagradou a produtores, apesar do argumento de
integrantes do governo de que o aumento das misturas, principalmente do
biodiesel e do etanol de milho, encarece o preço da ração animal. Os
empresários sustentaram que é o contrário: maior produção dos biocombustíveis
gera mais farelo de soja e de milho (DDG) para alimentar os animais.
Em outro momento, quando se falava de dar publicidade das ofertas ao consumidor, foi debatida a ideia do governo de criar um aplicativo para anunciar quais mercados têm os melhores preços de determinados produtos. Na avaliação de entidades presentes, o mecanismo poderia pressionar pequenos e médios comerciantes e gerar concorrência desleal com grandes empresas, que têm escala e poderiam fazer mais promoções. Ainda segundo os relatos, foi pedido ao governo que se reveja o aumento recente do imposto de importação de embalagens plásticas.
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