quarta-feira, 30 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Maré favorável à ultradireita reflui com ‘efeito Trump’

O Globo

Vitória de liberais no Canadá depois de campanha antitrumpista traz inspiração a outros países

A vitória de Donald Trump no ano passado parecia prenunciar o avanço da ultradireita populista no mundo todo. Antes mesmo da posse, Elon Musk, arauto do trumpismo, não perdeu tempo para tentar influenciar eleições na Alemanha e pelo mundo. Parecia que as democracias seriam varridas pelo populismo da direita radical. Passados três meses, Trump começa a surtir o efeito oposto nas disputas eleitorais.

Nas eleições de segunda-feira no Canadá, Mark Carney liderou a vitória do Partido Liberal, de centro-esquerda, para mais um mandato — o quarto consecutivo. O fator determinante na campanha foi a bandeira anti-Trump. Se o estilo errático e caótico que impera na Casa Branca persistir, é bastante provável que outras eleições mundo afora tenham desfecho semelhante.

Em tempos de incerteza, os canadenses correram para a opção mais segura e sensata. Carney é um novato na política. Nunca concorrera a cargo eletivo. Assumiu o posto de primeiro-ministro em março, ao vencer a disputa no partido após a desistência do impopular Justin Trudeau. Sem carisma, com francês deficiente, tem um currículo em que se destacam dois postos de natureza técnica, a presidência dos bancos centrais de Canadá e Inglaterra. O conhecimento técnico e o estilo sereno, muitas vezes vistos como desvantagens em tempos de polarização, se converteram em atributos fundamentais para enfrentar o trumpismo.

STF se cansou de brigar sozinho - Vera Magalhães

O Globo

Ministros demonstram incômodo de se indispor com o Congresso enquanto governo, fraco, se omite

As conversas ainda mais incipientes para a construção de uma saída negociada para os condenados do 8 de Janeiro evidenciam que o Supremo Tribunal Federal (STF) se cansou de comprar todas as brigas políticas do Brasil enquanto o governo não consegue se articular minimamente para deixar de ser um mero coadjuvante nas mais prementes discussões da política nacional.

Depois de duelar por meses a fio com a cúpula do Congresso tentando disciplinar as emendas parlamentares, devolvendo alguma transparência ao Orçamento da União e alguma capacidade de o Executivo programar os gastos federais, estabeleceu-se neste primeiro semestre uma circunstância em que os ministros têm de brigar em duas frentes contra o golpismo.

Numa, o grupo mais duro em relação aos que perpetraram o ataque aos Três Poderes em janeiro de 2023 começou a ver ganhar corpo na sociedade a versão segundo a qual tudo não passou de arruaça ocasional de um bando composto por donas de casa, velhinhas desavisadas e outros iludidos, sem comando nem qualquer objetivo político a alcançar.

O paradoxo de Sobral Pinto - Elio Gaspari

O Globo

A História é mesquinha com quem condena. São comuns os julgamentos em que promotores e/ou magistrados encarceram réus acompanhando a vontade dos poderosos ou ainda o sentimento da opinião pública. Passa o tempo, e a poeira do tempo acaba os encobrindo. É o paradoxo da biografia do advogado Sobral Pinto (1893-1991). Todo mundo se lembra do campeão na defesa das liberdades públicas nas ditaduras do Estado Novo e de 1964. A poeira cobriu a memória do combativo promotor dos anos 20, que pedia cadeia para os tenentes insurretos. (Passados 40 anos, os tenentes viraram generais da última ditadura e continuavam o detestando.)

O Supremo Tribunal Federal condenou a 14 anos de prisão em regime fechado a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos. No dia 8 de janeiro de 2023 ela escreveu com batom “Perdeu Mané” na estátua da Justiça que enfeita a Praça dos Três Poderes. Houve algo de cenográfico na decisão. A maioria dos ministros acompanhou o voto de Alexandre de Moraes. Tudo bem, mas o mesmo Moraes havia concedido a Débora o benefício da prisão domiciliar.

Cassação na surdina Bernardo Mello Franco

O Globo

Acusado de assassinato, deputado perdeu mandato por excesso de faltas

Numa semana marcada por morte do Papa, escândalo do INSS e prisão de Fernando Collor, a notícia passou quase batida. Não deveria. Na quinta passada, a Câmara cassou o deputado Chiquinho Brazão. Ele é acusado de planejar a execução da vereadora Marielle Franco.

Brazão foi preso em março de 2024 e responde a processo por homicídio e organização criminosa no Supremo. O que surpreendeu em sua cassação foi o pretexto usado pela Câmara. Réu por assassinato, ele perdeu o mandato por excesso de faltas.

Federação e fusão de partidos miram o pós-Bolsonaro – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ex-presidente da República, que ainda se recupera de complexa cirurgia no abdome, já é tratado como carta fora do baralho pelas lideranças desses partidos

Sepultado o projeto de anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro de 2023 pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), o PP e o União Brasil, e o PSDB e o Podemos se movimentam para ocupar o espaço vazio na centro-direita, deixado pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, que convalesce ainda de uma grave cirurgia e está impedido de disputar as próximas eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mesmo que não venha a ser condenado no processo no qual é acusado de tentativa de golpe de Estado — além de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado —, Bolsonaro já é tratado como carta fora do baralho pelas principais lideranças desses partidos.

Aliança rumo a direita - Lauriberto Pompeu

O Globo

Maior grupo partidário do país, federação União-PP é lançada com gestos à oposição e desafia o governo Lula

Alguns dos principais políticos recém-reunidos emitiram sinal de distância cada vez maior do petista para 2026, embora as siglas contem com quatro ministérios

O anúncio da federação União-PP foi marcado na terça-feira pelo gesto de aproximação da nova agremiação à direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no momento em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para organizar a base e negociar sua agenda no Legislativo. Maior força do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores, bem como em número de prefeitos (1.330) e governadores (6), o grupo divulgou um manifesto político no qual defende “um choque de prosperidade” e menos intervenção do Estado na economia — governos do PT são, constantemente, alvos de críticas pelo tamanho da máquina pública e o papel conferido ao Estado como indutor do desenvolvimento.

Alguns dos principais políticos da federação emitiram sinal de que o grupo está cada vez mais distante de Lula para 2026 e mais próximo da oposição, embora conte com quatro ministérios. Pelo governo, compareceram os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes), indicados por União e PP.

Viagem no tempo rumo à estreia do ‘Valor’ - Fernando Exman*

Valor Econômico

Manchete do jornal de 2 de maio de 2000 serviu de cartão de visita para que qualquer governo passasse a compreender que a partir de então a imprensa nacional teria um veículo com olhar atento para as contas públicas

Dizem os especialistas na teoria da relatividade que pode até ser possível viajar para o futuro, mas praticamente inviável teletransportar algo ou alguém em direção ao passado. Às vésperas do 25º aniversário deste jornal, pode-se apelar para uma licença poética e discordar da ciência neste caso. Revisitar a primeira edição do Valor contraria a tese de Albert Einstein e seus discípulos.

São de arrepiar alguns relatos de integrantes da equipe pioneira, quando foi anunciado que a sucursal de Brasília emplacara a primeira manchete do jornal: “Carga fiscal recorde só reforça caixa da União”.

Abaixo do título em letras garrafais, o texto da principal matéria da edição de 2 de maio de 2000 detalha os efeitos do ajuste fiscal realizado no país, com elevação da carga tributária para um nível recorde e concentração da maior parcela das receitas obtidas com impostos e contribuições nas mãos do governo central, em prejuízo de Estados e municípios. A matéria mostra, também, como esse esforço se deu por meio da cobrança de taxas de má qualidade, as quais passaram a incidir em cascata sobre a produção.

Vai começar a batalha de R$ 30,9 bilhões - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Ressarcimento aos aposentados lesados no escândalo do INSS é só uma das despesas que precisam ser encaixadas no orçamento deste ano

Nos próximos dias, será travada nos bastidores do governo uma batalha de R$ 30,9 bilhões. O governo divulgará, no dia 22, as novas projeções para receitas e despesas deste ano e, por consequência, o valor dos gastos que precisarão ser congelados para alcançar a meta fiscal do ano, o déficit zero. E aí está a disputa: mirar no zero ou mirar na parte de baixo da margem de tolerância, R$ 30,9 bilhões abaixo?

A primeira opção serviria para fortalecer o compromisso do governo com o arcabouço fiscal. A segunda evitaria cortes impopulares nas despesas e atenderia outra frente de batalha do governo: a baixa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se disse “candidatíssimo” à reeleição.

Por que os EUA perderão para a China - Martin Wolf*

Valor Econômico

A China também tem cartas poderosas na manga

O “dia da libertação” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com suas supostas “tarifas recíprocas” contra o resto do mundo - possivelmente as propostas de política comercial mais excêntricas já feitas), tornou-se, depois de um recuo precipitado diante do fogo cerrado dos mercados, uma guerra comercial contra a China. Isso pode (ou não) ter sido o que se pretendia desde o início. Então, será que Trump conseguirá vencer? Mais do que isso, os EUA, como são agora, depois da segunda chegada de Trump à Casa Branca, podem ter a esperança de triunfar em sua rivalidade mais geral com a China? A resposta, nos dois casos, é “não”. E não porque a China seja invencível, longe disso. Mas porque os EUA estão jogando fora todos os ativos de que precisam para manter seu status no mundo contra uma potência tão enorme, capaz e determinada quanto a China.

Anistia não, reduzir pena sim - Antonio Cláudio Mariz de Oliveira

O Estado de S. Paulo

Qual a razão pela qual a sociedade brasileira deverá apagar essa conduta vil e repelente de sua história?

A Constituição federal prevê intervenções dos Poderes Executivo e Legislativo na configuração de três institutos nela consagrados que têm por escopo minimizar o rigor e as agruras do processo penal e das decisões proferidas pelo Poder Judiciário.

A doutrina considera a anistia, a graça e o indulto como atos de indulgência, que extinguem a punibilidade daquele que responde a um processo ou já sofreu condenação.

O Estado renuncia ao seu direito-dever de punir.

O destino do inquérito das fake news - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Investigação do fim do mundo completa seis anos e vira ‘botão de segurança’ do STF

Na madrugada de 14 de março, quando uma “lua de sangue” aparecia no céu com o eclipse total e bolsonaristas ampliavam a ofensiva por anistia, o inquérito das fake news completava seis anos. Desde 2019 tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF), a investigação que ficou conhecida como “inquérito do fim do mundo” foi prorrogada até junho, mas a verdade é que não tem data para acabar. Na prática, virou uma espécie de “botão de segurança” da Corte.

Sob a batuta do ministro Alexandre de Moraes, também relator da ação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, a investigação tem um foco amplo, geral e irrestrito. Foi aberta por Dias Toffoli, então presidente do STF, para apurar notícias falsas, ofensas e ameaças aos magistrados e à própria democracia.

Desastre econômico e fuga de aliados - Andrés Oppenheimer

O Estado de S. Paulo

Não será fácil restaurar a credibilidade dos EUA após 100 dias de governo errático

O presidente Donald Trump, que prometeu consertar a economia e alcançar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia no primeiro dia da presidência, completa 100 dias no cargo e até mesmo alguns de seus apoiadores mais ativos admitem que seu segundo mandato tem sido um desastre.

O índice de ações S&P 500 caiu 10% nesses primeiros três meses, o pior declínio no período de qualquer presidente dos EUA desde a Grande Depressão, de acordo com o Dow Jones Market Data. As tarifas sobre países amigos e hostis, que o presidente foi forçado a reverter parcialmente, diante de uma onda de críticas, levaram o FMI a prever uma desaceleração econômica global. O FMI agora projeta que o crescimento econômico global cairá de 3,3% para 2,8% este ano.

No escuro com Trump - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Empresas nos EUA deixaram de fazer novas projeções em função das incertezas com o tarifaço

Nem chegou à metade, e a temporada de balanços do primeiro trimestre deste ano das empresas nos Estados Unidos já causou um choque entre os analistas – não pelos lucros ou vendas registrados no período, mas, sim, pelo crescente número de empresas que se recusaram a fazer projeções sobre os seus resultados nos próximos trimestres.

É o que se chama de “guidance”, ou seja, as estimativas para o ano inteiro de métricas, como receitas e indicadores operacionais, que são habitualmente divulgadas com os resultados do trimestre recém-apurado. Muitas vezes, são as estimativas, mais do que os resultados concretos do período em questão, que influenciam o comportamento dos investidores, correndo para comprar ou, se decepcionados, para desovar as ações de uma empresa.

Jogo sujo da CBF e da Nike - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Parceria segue invicta, enquanto a seleção e o país continuam a tomar de lavada

A notícia é que a CBF e a Nike devem lançar uma camisa vermelha para a seleção. A cor divide mesas de bar, famílias e timelines desde que virou sinônimo de comunismo, feminismo, gayzismo e outras palavras que a histeria aprendeu a gritar sem entender o que significa. Claro que causou alvoroço. Os patriotas do amarelo se sentem traídos. Os progressistas da Santa Cecília acham revolucionário. A CBF faz o que sabe: capitaliza.

O novo uniforme não é um gesto político, é uma planilha de Excel com costura. Não é homenagem aos povos indígenas ou qualquer outro banho de marketing com cara de conscientização social. Tampouco um manifesto contra o sequestro da identidade de um povo. A tonalidade é nova, o truque é velho: lança-se a polêmica, finge-se ousadia, alimenta-se a polarização —e assiste-se à mágica do engajamento virar lucro. De preferência, em três vezes sem juros.

Trump perde eleição no '51º estado' - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desfeitas de presidente americano ao Canadá revertem desvantagem do Partido Liberal, que conquista seu quarto mandato

Donald Trump queria transformar o Canadá no 51° estado americano, mas o que conseguiu foi dar sobrevida ao Partido Liberal (PLC) daquele país, que, até a chegada do agente laranja ao poder, parecia fadado a uma derrota eleitoral histórica.

Nas pesquisas de janeiro deste ano, os conservadores abriam mais de 20 pontos percentuais de vantagem sobre os liberais. É verdade que muito da impopularidade se devia ao desgaste pessoal do então premiê Justin Trudeau, que sofria da fadiga de material de quase dez anos no poder.

Bolsonaro aposta na morbidez e gera repulsa - Wilsom Gomes

Folha de S. Paulo

A exibição do próprio corpo mutilado transforma sofrimento em espetáculo repulsivo

Que Bolsonaro é um personagem que se representa em dois registros performáticos, alternados conforme a conveniência, é algo que venho afirmando há anos. Há, de um lado, o modo valentão, arruaceiro, irreverente e afrontoso, que serve bem ao vitalismo de quem aprecia líderes autoritários, fortes e que se impõem. Mas há também a chave oposta: a do coitadinho, da vítima, do perseguido e do sofredor, que exige comoção e compaixão —acompanhadas, naturalmente, de um sentimento de revolta contra quem lhe teria infligido tamanha injustiça.

Os dois modos se sucedem em circuito contínuo, sempre nesta sequência: primeiro, a bravata, o insulto, a ameaça expelida em nuvens de perdigotos, a exibição da coragem viril; depois, caso algo dê errado, o ator troca a máscara e reaparece coberto de dores e tormentos, lágrimas nos olhos ou expressão resignada, clamando por solidariedade dos seus diante do cerco de inimigos implacáveis.

Afrouxem os cintos, a reforma sumiu - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

As anunciadas trocas de ministros parecem ter caído no limbo das incertezas governamentais

Não faz muito tempo porta-vozes governistas diziam haver dois remédios para a crise de popularidade: melhorar a comunicação e dar um trato no visual do ministério.

A primeira medicação (placebo?) segue sendo aplicada à espera da recuperação do paciente, mas a segunda parece suspensa. Se temporária ou definitivamente, as circunstâncias vão se encarregar de nos informar.

Qual a saída? - Ivan Alves Filho*

Diariamente - ou quase -, a imprensa brasileira vem estampando escândalos econômicos de toda natureza. Isso é muito preocupante. Para as finanças públicas, naturalmente; mas, também, para a política e a ética. A associação com episódios de corrupção anteriores é quase automática e atinge em cheio o governo Lula. Com pouco mais de dois anos de existência, o governo caminha melancolicamente para o fim. Infelizmente, eu escrevi, quando da montagem ainda do seu gabinete ministerial, em 2022, que Lula da Silva não tinha projeto de nação e sequer projeto de governo. Possuía somente um projeto de poder pessoal. E que sua gestão não tinha como dar certo. Sempre foi assim, isto é, a busca pela perpetuação pura e simples no poder. Só que agora a fórmula está esgotada. 

terça-feira, 29 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Calendário abre espaço a reforma administrativa

O Globo

Um quarto dos servidores federais parará de trabalhar nos próximos dez anos, segundo o próprio governo

Nos próximos dez anos, um quarto do total de servidores públicos federais, um contingente de 153,6 mil, deverá se aposentar. O pico de desligamentos ocorrerá neste ano, segundo estimativas do governo reveladas pelo GLOBO. Trata-se de uma ótima oportunidade para promover uma reforma administrativa que represente ganhos de eficiência no setor público. Infelizmente é difícil acreditar que tal iniciativa parta do atual governo, que já deu diversas mostras de não considerar o tema prioritário.

O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) afirma dimensionar as demandas antes de definir os concursos públicos que realizará. Com o aumento da automação digital, diversas tarefas se tornaram obsoletas. Seria um contrassenso contratar novos datilógrafos ou até mesmo vigias, serviços que podem ser fornecidos por empresas privadas. Mas é uma lástima que o MGI não demonstre disposição para enfrentar a baixa produtividade dos servidores.

Acordo político - Merval Pereira

O Globo

A negociação política parece bem adiantada, retirando a aparência de revanche das penas excessivas já determinadas, mas mantendo o rigor com os financiadores e organizadores da tentativa de golpe, nisso incluídos os generais e Bolsonaro

Está em andamento uma negociação política que permitirá superar a campanha pela anistia aos rebelados do 8 de Janeiro e proporcionará a possibilidade de revisão das penas já decretadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sem que seja criado um impasse entre os Poderes da República. O governo petista, por intermédio de seus líderes no Congresso, sob a coordenação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, está à frente das negociações, com o conhecimento do STF.

O presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, evidentemente mandou um recado ao Congresso ao afirmar que o ocorrido no 8 de Janeiro é imperdoável, mas, ao mesmo tempo, abriu uma brecha para reduzir as penas. É um ponto delicado, porque até o momento considerava-se uma afronta ao STF que o Congresso reduzisse as penas já definidas aos condenados do 8 de Janeiro.

Cem dias de demolição - Míriam Leitão

O Globo

O mundo está há cem dias sob os mandos e desmandos de Trump: cenário de retrocesso, insegurança e ameaça à democracia

O governo de Donald Trump tem sido um tormento. Diário, continuado. Seus disparos sequenciais de tarifas contra países parceiros, suas idas e vindas em decisões econômicas e políticas, e suas declarações sobre tomar territórios de outros países levaram o mundo a um retrocesso de um século pelo menos. Trump desrespeitou direitos humanos na pressão contra imigrantes, fechou agências governamentais importantes, colocou um agente privado dentro do governo com poderes demais e nenhum controle, chantageou universidades e intimidou a Justiça. A distopia parece não encontrar limites.

Faltam 1.348 dias de Donald Trump no poder. E o projeto está claro. Ele quer demolir o Estado, e a democracia americana. Nos 100 dias está encontrando um primeiro problema, a opinião pública. Tem a menor aprovação de qualquer governante americano em 80 anos, a maioria desaprova a maneira como ele conduz seu governo. Mas há outras barreiras que podem ser erguidas. Uma delas é a eleição de meio de mandato que pode enfraquecê-lo no Congresso, o que tiraria um pouco do seu poder. Se isso é uma esperança, por outro lado é um alerta de que ele tentará tudo o que puder até as eleições legislativas do final do ano que vem.

Para Haddad, é ‘ruim’ só Executivo arcar com responsabilidade fiscal

Marcelo Osakabe, Camila Souza Ramos e Guilherme Pimenta / Valor Econômico

Ministro da Fazenda cita medidas legislativas que geraram gastos de R$ 200 bilhões sem que fosse definida origem para os recursos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira, 28, que tem trabalhado juntamente com os demais poderes para alçar a questão fiscal como uma agenda de Estado, defendida independente da que está no Planalto.

“Tenho conversado com presidente [da Câmara] Hugo Motta [Republicanos-PB]. Acho ruim a responsabilidade fiscal ser uma atribuição exclusiva do Executivo. As medidas tomadas por Legislativo e Judiciário podem prejudicar muito mais que as do Executivo”, afirmou Haddad, que respondia a uma pergunta sobre as prioridades do governo no Legislativo neste ano.

Lula tem margem de manobra estreita na Previdência - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Às vésperas do 1º de Maio, crise põe em xeque não apenas os benefícios previdenciários como a manutenção do PDT na base e a ressurreição de Ciro Gomes

Nem a Polícia Federal nem a Controladoria-Geral da União forneceram ao presidente da República prova cabal do envolvimento direto do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, na rapina feita nos benefícios de cerca de 6 milhões de aposentados. Como incompetência e omissão não têm configurado impedimento para a ocupação de assentos na Esplanada, esta é a explicação mais imediata para sua permanência no cargo.

Por mais que o governo consiga superar a grande complexidade envolvida na devolução do que foi surrupiado dos benefícios e repisar a tecla de que foi este governo que desbaratou o esquema que atravessou incólume os anos Michel Temer e Jair Bolsonaro, a permanência do ministro deixará, sobre Lula, o carimbo da conivência.

Demissão de Lupi tem custo político para Lula, e mantê-lo também - César Felício

Valor Econômico

É interessante para presidente inviabilizar o fantasma Ciro, amarrando o PDT ao seu governo

Demitir o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, é uma operação de custo político significativamente maior para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que foi exonerar o deputado Juscelino Rezende Filho do Ministério das Comunicações. Em que pese ter eclodido no ministério de Lupi o maior escândalo de corrupção neste governo, com as denúncias de descontos fraudulentos nas aposentadorias de segurados do INSS, o ministro tem densidade política.

Trata-se de um dos dois únicos presidentes de partido com assento na Esplanada dos Ministérios. No caso, o PDT, com 17 deputados federais e três senadores. O outro caso é o de Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, dirigente do pequeno PCdoB. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, renunciou à presidência do PT para assumir seu cargo.

Lupi luta para ficar na Previdência, mas desgaste só aumenta – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Num único ato, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) desbloqueou descontos não autorizados nas folhas de pagamento de quase 34,5 mil aposentados

Júlio César casou-se com Pompeia em 67 a.C., depois de ter servido na Hispânia, já viúvo de sua primeira mulher, Cornélia, que morrera no parto de um filho natimorto. Em 63 a.C., César foi eleito pontífice máximo (pontifex maximus), o sumo-sacerdote da religião oficial romana,

No ano seguinte, na sua residência na Via Sacra, realizou um festival em homenagem à Bona Dea ("Boa Deusa"), no qual homem nenhum poderia participar, em sua casa. Entretanto, um jovem patrício chamado Públio Clódio Pulcro entrou na festa disfarçado de mulher, supostamente com o objetivo de seduzir Pompeia. Ele foi preso e processado por sacrilégio. Como César não apresentou nenhuma evidência contra Clódio, ele acabou inocentado.

Mesmo assim, César se divorciou de Pompeia: "Minha esposa não deve estar nem sob suspeita", justificou. Vem daí o provérbio famoso: "A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta".

É o caso do ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente do PDT, cujo desgaste à frente da pasta somente aumenta, em razão do escândalo bilionário dos descontos feitos pelo INSS em aposentadorias e pensões, sem autorização de seus segurados.

Corrupção, o novo velho problema - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

No colo de Lula: Collor e BR, Lupi e INSS, jetons e amigos, PT e respiradores

O Congresso está parado, só discute anistia para o 8/1, enquanto a palavra “corrupção” anda a mil por hora e invade manchetes da mídia e a pauta da sociedade. Esta semana, que no setor público só tem três dias, já começou com o plenário do Supremo convalidando a prisão do ex-presidente Collor, o governo sob pressão para demitir o ministro da Previdência, Carlos Lupi, e dois escândalos “novos” que, de novos, não têm nada.

Collor caiu em 1992 e só agora, 33 anos depois, foi preso, por uma acusação nada a ver com o mandato de presidente, mas com o de senador, quando foi pego com a mão na botija na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, dez longos anos atrás. A Justiça tardou e prendeu Collor aos 75 anos, com Parkinson e deficiência cardíaca, trunfos da defesa.

União Alcolumbre - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O União Brasil não é partido político. Tampouco agremiação rachada – o que pressuporia haver estado unida. Nunca esteve. Fragmentação que os seus operam, tanto para vender terrenos na lua quanto para tirar o corpo fora quando ante a impossibilidade de entregar os lotes.

Trata-se de uma confederação de oportunismos-patrimonialismos, cujos grupos se articulam e cooperam – disputam e se afastam – em função de interesses específicos eventuais. Dinâmica que constitui a própria negação do minimamente necessário à composição de base de apoio parlamentar.

Abrigo formal a projetos os mais díspares, o pulverizado União Brasil não tem corpo para garantir suporte a governo. Estando no governo, porém, não abrirá mão do espaço. Na hora de deliberação importante, tenha um ou dez ministérios, negociará caso a caso e votará conforme a oferta de emendas na ocasião.

Vícios e virtudes do Congresso - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Democracia é saber negociar e chegar a soluções de meio do caminho

Os presidentes do Senado e da Câmara protagonizam uma negociação junto ao Supremo para a redução da pena dos invasores do 8 de janeiro. Assim, eles poderão logo ir para casa sob progressão de pena; evitando assim a completa anulação de seus processos e a anistia prévia a Bolsonaro e outros cabeças do golpismo. Mais uma vez, é o Congresso resolvendo um problema criado pela polarização do país.

De um lado, centenas de fanatizados pelo bolsonarismo que se fizeram de bucha de canhão de uma tentativa insana de golpe de Estado. Do outro, um Supremo que —sob a liderança de Alexandre de Moraes— pune os invasores de maneira exemplar, chegando a penas superiores às de muito assassino. Moraes se tornou um herói da esquerda petista.

A rotina de crise entre Câmara e o STF - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Para salvar Bolsonaro e atacar a Corte, deputados querem suspender ação penal contra Ramagem

Para ter validade, o projeto de anistia aos participantes da insurreição fascista do 8 de Janeiro teria de passar pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, pela própria Câmara, pelo Senado, pelo presidente Lula e pelo STF. Sem respaldo popular, tropeçou no primeiro obstáculo.

O perdão geral, ou esculhambação geral, alcançaria quem tivesse participado de atos passados e futuros ligados à destruição dos Poderes. Qualquer estagiário de ditador poderia sentir-se autorizado a dar um golpe e promover as mortes do presidente, de ministros do Supremo e —por que não?— de senadores e de deputados.

Escandalosa imprevidência – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Carlos Lupi está mais enrolado do que linha em carretel e, no rolo, leva o governo junto

Muito antes da criação do PT, no início dos anos 1970, Luiz Inácio da Silva cuidava da diretoria de Previdência Social e FGTS no sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em São Paulo. Era responsável pelos benefícios.

Não só, mas também por isso, o agora presidente da República tem perfeita noção do potencial de estrago que fraudes naquela área podem causar a um governo.

Nem são Sidônio faz milagre no INSS - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Próximos lances dirão se medidas adotadas por novo chefe da comunicação do governo bastarão para conter danos à imagem da gestão

Não há são Sidônio que faça milagre aqui. A nova eminência parda do governo Lula fez o que tinha de fazer diante do escândalo dos descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS.

Sidônio Palmeira instruiu a administração a suspender os repasses às entidades, a prometer ressarcir os prejudicados, cuidou para que uma alta autoridade, o presidente do INSS, fosse demitida e tentou emplacar uma narrativa favorável ao governo, destacando que o escândalo veio à tona em investigação da própria gestão e que os descontos suspeitos tiveram início bem antes de Lula tomar posse.

Tudo bichado! - bichado! ... - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão**

De repente... Não mais que de repente: está tudo bichado. Governo manda anular 100 por cento dos descontos na folha de pagamentos dos aposentados e suspender   os    acordos do INSS com 29 organizações não governamentais que manipulam, sem autorização, este dinheiro, comprando imóveis na praia e até carros de luxo.  Os desvios chegam a 6 bilhões de reais. Há mais de três anos o Governo sabe disso. A omissão durou, até que alguém denunciou publicamente.

Os governantes e seu entorno não se emendam. O pessoal é insaciável:  "mensalão", "petrolão", dilapidação de Fundos de Pensão, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, do Sistema de Aposentadorias e Pensões  do INSS, desvios nos Correios,   no  Bolsas Família, no Bolsa Educação, no  Auxílio Gás,  calotes no Crédito estudantil da Caixa Econômica ,  no  Fundo  Brasil, ausência  de prestação de contas de organizações não governamentais,  tudo coroado com a introdução de  163 Bets legalizadas  para Atuar no Brasil em 2025: Betano, Superbet, MagicJackpot, Super, Rei do Pitaco, Pitaco, Sportingbet, Betboo, sem falar nas loterias que tem origem lá no jogo do bicho. E ainda   se fala em um novo, novo fundo de pensão para completar a sina nos estados e municípios.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

COP30 exige esforço maior no combate a emissões de gases

O Globo

Apenas 19 de 197 países que integram convenção da ONU apresentaram novas metas previstas pelo acordo

No ano em que o Brasil sediará a COP30, conferência da ONU sobre o clima, em Belém, o mundo enfrenta dificuldades crescentes para cumprir o que foi acertado na COP21, dez anos antes, em Paris. Aprovado por consenso e assinado formalmente em abril do ano seguinte nas Nações Unidas, em Nova York, o Acordo de Paris estabelece que os países tomarão medidas para que, neste século, a temperatura global não suba além de 2°C, ou desejavelmente 1,5°C, ante os níveis da era pré-industrial. O ano passado já foi 1,5°C mais quente, e ainda faltam sete décadas e meia para acabar o século.

Um ano isolado não define tendência, mas 2024 já é resultado da incapacidade de os países cumprirem o prometido em Paris. Cada um deles define de modo voluntário as próprias metas para corte de emissões de gases de efeito estufa, conhecidas pela sigla em inglês NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Apesar de todo o esforço diplomático, nos últimos cinco anos as emissões aumentaram o equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO₂ (dióxido de carbono) — de 52,8 bilhões para 53,8 bilhões por ano. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) calcula que, assim, o planeta chegará a 2100 com temperatura 3,1°C acima dos níveis da fase pré-Revolução Industrial. Se o mundo já enfrenta eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes, daqui para a frente poderá ser pior.

Subterrâneos das redes sociais – Fernando Gabeira

O Globo

Somos um país muito presente na internet, onde se articulam atentados em escolas, assassinatos e outros crimes

Três homens foram presos no Domingo de Páscoa. Planejavam matar um morador de rua, no Rio, e transmitir o crime ao vivo pela rede Discord. A notícia passou um pouco batida. Para mim, que acompanho algumas pesquisas, como as de Michele Prado sobre extremismo na internet, foi mais um sinal do tenebroso subterrâneo das redes sociais.

Por coincidência, um órgão da ONU, o Instituto Inter-Regional de Pesquisa sobre Crime e Justiça das Nações Unidas (Unicri), lançou um documento sobre o abuso das tecnologias digitais, focando na América Latina, África e Ásia. É um texto de 84 páginas que recomenda aumentar o investimento em investigações, a intensidade das pesquisas e a responsabilidade das big techs.

O mercado é de esquerda? – Demétrio Magnoli

O Globo

Não é um partido, mas a estrutura constituída por incontáveis agentes que, em ambiente competitivo, buscam preservar e ampliar sua riqueza

O ouro bateu na marca recordista de US$ 3.500 a onça na segunda passada, dia 21. Na terça, 22, Trump desmentiu a si mesmo, assegurando que não tentaria violar a lei para demitir Jerome Powell, presidente do banco central (Fed) dos Estados Unidos, e insinuou a hipótese de recuo na guerra tarifária com a China. Na quarta, 23, os índices das Bolsas voltaram a subir. Seria o mercado financeiro, no fim das contas, de esquerda?

A indagação ridícula poderia ser uma réplica lógica ao discurso de Lula e do PT, que cultivam o hábito de apontar o mercado como agente político da direita: o “inimigo do povo”, o longo tentáculo dos bancos, a mão invisível do imperialismo. A ideia, que circula há décadas, atingiu o paroxismo durante a campanha movida pelo governo contra Roberto Campos Neto e, mais amplamente, contra a independência do Banco Central.

A batucada encontra o futuro - Preto Zezé

O Globo

A Tardezinha não é apenas um evento. É uma plataforma onde o entretenimento não é fim, mas ponto de partida

A Tardezinha não é apenas um evento. É um fenômeno que faz do samba um vetor de futuro. Nascida no improviso caloroso das tardes cariocas, chegou a 2025 celebrando dez anos com alma de festival, fôlego de multinacional e coração de roda de amigos. Se antes era domingo de sol e cerveja gelada, hoje é estratégia, inclusão e legado. Uma plataforma onde o entretenimento não é fim, mas ponto de partida.

Lula vai entregar a LAI de bandeja para os políticos? - Bruno Carazza

Valor Econômico

Dois projetos sob análise do presidente podem ser grande retrocesso contra transparência, favorecendo supersalários e mau uso de recursos públicos

O governo levou quase uma década para descobrir uma quadrilha que descontava pequenas quantias de milhões de aposentados e pensionistas, lesando a população em mais de R$ 6 bilhões desde pelo menos 2016.

Mesmo dispondo de uma estatal para gerenciar os sistemas de arrecadação e benefícios previdenciários (Dataprev) e de contar com milhares de auditores fiscais (que atuam na Receita Federal e no INSS), de Finanças e Controle (CGU) e ainda agentes, peritos e delegados da Polícia Federal, a fraude bilionária atravessou mandatos de pelo menos três presidentes da República (Temer, Bolsonaro e Lula) até ser desbaratada.