domingo, 20 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Redução da jornada de trabalho não passa de engodo

O Globo

PIB brasileiro sofreria queda de até 16% caso houvesse mais uma folga semanal, estima estudo da Fiemg

Os projetos em tramitação no Congresso defendendo a redução da jornada semanal de trabalho ganharam apoio de setores da esquerda com base numa visão idealista e distorcida da realidade econômica. Defensores do fim da jornada de 44 horas semanais — ou 6x1, com seis dias trabalhados e um de folga — ignoram (ou fingem ignorar) que a mudança teria consequências dramáticas para o crescimento e a geração de riqueza.

Num cenário otimista, reduzi-la para 40 horas, com duas folgas semanais, provocaria queda de 14,2% no PIB, com perda de 16 milhões de empregos e de R$ 102 bilhões em impostos, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Tal cenário considera que haveria aumento de 1% na produtividade do trabalho, patamar muito superior ao 0,2% anual registrado entre 1981 e 2024. Sem esse aumento, a queda no PIB chegaria a 16%, com perda de 18 milhões de empregos e de R$ 118 bilhões em impostos, destinados a investir em educação, segurança ou saúde.

O Capital (Prefácio à primeira edição) - Karl Marx

Crítica da Economia Política

A obra, cujo primeiro volume entrego ao público, constitui a continuação do meu escrito publicado em 1859: Zur Kritik der Politischen Oekonomie. Do longo intervalo entre começo e continuação é culpada uma doença de muitos anos que repetidamente interrompeu o meu trabalho.

O conteúdo daquele escrito anterior está resumido no primeiro capítulo deste volume. Isto não aconteceu apenas por causa da conexão e da integralidade. A exposição está melhorada. Tanto quanto o estado das coisas de alguma maneira o permitiu, muitos dos pontos anteriormente apenas aludidos estão aqui desenvolvidos, enquanto inversamente o ali circunstanciadamente desenvolvido é aqui apenas aludido. As seções acerca da história da teoria do valor e do dinheiro naturalmente foram agora completamente suprimidas. Contudo, o leitor do escrito anterior encontra patentes, nas notas do primeiro capítulo, novas fontes para a história daquela teoria.

Todo o começo é difícil — isto vale em qualquer ciência. A compreensão do primeiro capítulo, nomeadamente da seção que contém a análise da mercadoria, constituirá, portanto, a maior dificuldade. Tornei o mais possível popular aquilo que mais de perto diz respeito à análise da substância do valor e da magnitude do valor. A forma-valor, cuja figura acabada é a forma-dinheiro, é muito simples e vazia de conteúdo. Não obstante, o espírito humano, desde há mais de 2000 anos, tem em vão procurado sondar-lhe os fundamentos, enquanto, por outro lado, a análise de formas muito mais plenas de conteúdo e complicadas pelo menos aproximadamente resultou. Por quê? Porque o corpo [já] formado é mais fácil de estudar do que a célula do corpo. Além disso, na análise das formas económicas não podem servir nem o microscópio nem os reagentes químicos. A força da abstração tem de os substituir a ambos. Para a sociedade burguesa, porém, a forma-mercadoria do produto de trabalho ou a forma-valor da mercadoria é a forma económica celular. Ao não instruído a análise desta parece perder-se em meras subtilezas. Trata-se aqui de fato de subtilezas, só que, porém, do mesmo modo que delas se trata na anatomia micrológica.

Números revelam o nó inescapável - Míriam Leitão

O Globo

As contas públicas estão numa rota perigosa e para entender a situação fiscal do país é preciso fugir da polarização política

O governo Lula reduziu o déficit primário, mas a dívida pública subiu. Ele tem alguns números melhores do que os do governo Temer, e corrigiu erros de Bolsonaro. O gasto de pessoal é menor hoje do que no governo Temer. A despeito de tudo isso, as contas públicas estão numa rota perigosa. Para entender a situação fiscal do país é preciso fugir da polarização política. No Brasil, esquerda e direita gostam de gastar. A situação das contas públicas exigirá tarefas inescapáveis dos brasileiros.

O apagão orçamentário – Elio Gaspari

O Globo

Para gastar, os ministérios são 39. Mas quando se fala que vai faltar dinheiro, surgem apenas dois: Saúde e Educação

Na semana passada os brasileiros souberam de duas novidades: é possível que haja vida no planeta K2-12b, a 124 anos-luz de Brasília, e foram avisados por Fernando Haddad e Simone Tebet de que em 2027 o governo não terá dinheiro para honrar os compromissos de verbas para a Educação e Saúde.

A primeira novidade pertencia ao campo da busca do conhecimento. O telescópio James Webb varre o espaço desde 2021 procurando sinais de vida. A segunda novidade pertencia ao campo da empulhação, pois nada há de novo no fato de que o governo ficaria sem dinheiro para fechar suas contas, honrando os compromissos constitucionais.

Sabe-se pouco sobre o K2-12b, pois ele está a 124 anos-luz, e uma notícia vinda agora de lá teria sido emitida em 1901, quando aqui na Terra um sinal de rádio de Guglielmo Marconi atravessou o Atlântico. Já o apagão orçamentário é coisa atual, por perene.

O fantasma voltou - Merval Pereira

O Globo

Há dois líderes populares no Brasil. Um de direita, Jair Bolsonaro, e outro de esquerda, Lula. Há ainda 29 partidos políticos registrados, mas nenhum deles tem vida própria. O PT é menor do que Lula. O PL também depende de Bolsonaro, que já perambulou por oito partidos até estacionar, por enquanto, nele. Isso quer dizer que nós ainda dependemos de nomes, não de ideias.

Quando Lula estava impedido pela legislação eleitoral de se candidatar a presidente, o PT perdeu. Antes, perdera outras três vezes, duas para uma ideia, o Plano Real, e outra para outro populista, este de direita, Collor de Mello. Sem Bolsonaro para competir em 2026, o PL não tem quem o substitua, por isso o ex-presidente insiste com o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas para que saia do Republicanos, filiando-se ao PL. Pode ser um sinal de que já começa a aceitar que não poderá concorrer, e quer fazer do PL o seu partido. Valdemar Costa Neto, que controla o PL, deve se preocupar.

Um escritor no palanque - Bernardo Mello Franco

O Globo

Depois de trocar marxismo por liberalismo e se candidatar a presidente, escritor se aproximou da extrema direita no fim da vida

Mario Vargas Llosa passava férias no norte do Peru quando ouviu pelo rádio um discurso do presidente. Era julho de 1987, e Alan García anunciava a nacionalização de bancos e seguradoras. Liberal de carteirinha, o romancista escreveu um artigo exortando os compatriotas a protestarem contra a medida, que considerava um salto para a ruína econômica.

Publicado no jornal El Comercio, o texto deu origem a um manifesto, que logo se converteu num movimento e num partido. Em menos de um mês, o autor de “Conversa no Catedral” estava no alto de um palanque, discursando para 130 mil pessoas na Praça San Martín. Vieram outros comícios, e Vargas Llosa saiu dos cadernos de literatura para entrar nas páginas de política. A aventura durou até junho de 1990, quando ele perdeu a eleição presidencial para outro outsider: Alberto Fujimori.

O (in)concebível – Dorrit Harazim

O Globo

Segundo pesquisa da revista Nature com 1.600 cientistas nos EUA, 75% declararam estudar a possibilidade de sair do país

Semanas atrás, três professores da Universidade Yale — uma das oito instituições privadas que compõem a estelar Ivy League americana — tornaram pública sua mudança para a Munk School of Global Affairs and Public Policy, de Toronto, no Canadá. Em tempos normais, a notícia nem notícia seria, dada a mobilidade inerente ao mundo acadêmico. Só que o filósofo Jason Stanley, o historiador Timothy Snyder e sua mulher Marci Shore, professora de História intelectual europeia, não são nomes quaisquer.

Stanley, autor de seis livros — incluindo “Como funciona o fascismo” —, centra sua obra na manipulação emocional da propaganda fascista e nos riscos de uma sociedade ignorar sinais precoces de autoritarismo. Judeu, pai de dois filhos multirraciais (foi casado com a cardiologista negra Njeri K. Thande), ele já sofreu inúmeras ameaças de morte digitais recentes. Por isso decidiu empacotar seu saber e filhos para além do ambiente político opressor instaurado por Donald Trump.

A fotobiografia de JK - Celso Lafer

O Estado de S. Paulo

JK teve a capacidade de compreender a complexidade da realidade do País, suas urgências e seus desafios

Juscelino Kubitschek – uma fotobiografia, organizada com dedicação e competência por Fábio Chateaubriand, foi recém-publicada (2024) sob os auspícios da Fundação Padre Anchieta (FPA). José Roberto Maluf, presidente da FPA, destacou o significado para o conhecimento da vida brasileira das imagens que o livro apresenta. Ele pontua que o norte e a âncora da trajetória de JK foram permeados pelos valores e pelas práticas da democracia. É o que configurou exemplarmente o parâmetro em cujo âmbito deu rumo às transformações do Brasil, que liderou como notável homem público.

A fotobiografia é um gênero pouco explorado entre nós. Tece a tradicional narrativa da palavra de uma biografia com o poder visual das fotos. As fotos compõem uma antologia que capta a experiência de uma vida. Esclarecem de onde veio, como veio e a que veio JK, e também o que padeceu no final, por conta do arbítrio do regime autoritário de 1964. Na edição comercial dessa fotobiografia, de próxima publicação, essa maior investigação iconográfica sobre JK estará distribuída em 13 capítulos, que dão o fio estruturador de um admirável trabalho de pesquisa.

‘Me first’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A relação entre Brasil e China: de política e comércio a inflação; de aviões e soja a quinquilharias

Donald Trump empurrou o mundo para o colo da China e o desafio do Brasil é calibrar a intensificação da parceria, não apenas no comércio, que é óbvia, mas também na política, que é consequência. As exportações para a China vão crescer, mas as importações também tendem a disparar. O risco para os consumidores/eleitores brasileiros é aumento de preços, já excessivos. E, para a indústria, competição desleal.

A China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil ainda nos primeiros governos Lula, com um detalhe que vai muito além do detalhe: o Brasil é superavitário nas relações com a China e deficitário com os EUA, o que deve ficar ainda mais estridente a partir da guerra insana, irresponsável e inconsequente de Trump contra tudo e todos. A diferença: os EUA estão reféns de Trump, impetuoso e personalista, e a China é estratégica, tem rumo e determinação.

Não vai dar certo - José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

Há uma percepção generalizada de que Donald Trump não sabe muito bem o que está fazendo

A avalanche de notícias ruins continua, sem qualquer indício de que vá parar logo. Na segunda semana de abril, o mercado de Treasures estressou, após um leilão com demanda fraca e boatos recorrentes de ordens de venda vindas da Ásia, um sinal de que a confiança nos papéis sempre considerados como livres de risco está sofrendo arranhões. Essa situação levou o presidente americano a adiar por noventa dias as chamadas tarifas recíprocas.

Poucos dias depois, foi a vez da liberação de importações vindas da China na área de telefones e outros eletrônicos, a chamada “emenda Apple”. Mas tudo isso em meio a ameaças de novas tarifas e outras retaliações.

A complicação, certamente não esperada por Trump, foi a decisão chinesa de enfrentar a guerra na linha de olho por olho, tanto na área tarifária quanto na comercial. O controle mais estrito nas exportações de terras raras e a suspensão das entregas de aviões da Boeing são bons exemplos.

Um ataque às instituições americanas - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Trump encontrou no presidente do Fed o bode expiatório para o estrago causado por suas políticas

A ameaça de Donald Trump de destituir o presidente do Banco Central (Fed), Jerome Powell, é mais um golpe no sistema que transformou os EUA na nação mais rica e poderosa de todos os tempos. O presidente está destruindo o maior ativo do país: a independência e confiabilidade de suas instituições.

As leis americanas pressupõem presidentes que compartilham valores fundamentais do país, incluindo o respeito às normas e à Justiça e os limites do poder, sujeito a freios e contrapesos. A lei que criou o Fed, em 1913, não explicita que seu presidente não pode ser destituído, mas estabelece as condições para sua autonomia, no plano operacional e institucional: o banco não depende de dotações orçamentárias nem presta contas ao Congresso – e muito menos ao Executivo, o que parecia óbvio ao legislador, até surgir Trump.

Brasil: país do vale tudo? - Dóris Faria*


Correio Braziliense

O vale tudo no Brasil não é só um objeto de duas edições de novela, é um processo histórico recorrente de nosso passado, presente e será que ainda do futuro?

O vale tudo no Brasil não é só um objeto de duas edições de novela, é um processo histórico recorrente de nosso passado, presente e será que ainda do futuro? A começar com a própria Proclamação da República (1889), que, desde então, sofre algumas ocorrências em processo contínuo, sob o controle das elites econômicas que dominam as políticas regionais e nacionais. Foram várias as tentativas de golpe que não tiveram punição e, mutatis mutante, se repetiram. Com anistia garantida a todos seus executores, essas recorrências foram acontecendo ao longo de nossa história republicana.  

Três períodos podem ser compreendidos com similaridades e diferenciações do vale tudo que vem dominando a nação brasileira: o primeiro, ao longo da ditadura (anos 60 a 80), garantiu aos militares torturadores a isenção de um processo de anistia; o segundo — a partir de 1985, no início do processo de democratização, conclusão da nova Constituição (1988) — ocorreu até 2002, com a primeira eleição presidencial direta e o (primeiro) governo Lula. 

Xi, me dá um dinheiro, aí - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Até o final deste ano de caos trumpista, Lula vai se reunir três vezes com Xi Jinping

Luiz Inácio Lula da Silva vai à China em maio. Assunto com a China jamais falta, menos ainda com os destampatórios do Nero Laranja, Donald Trump. Mas o que Lula ou o Brasil querem com a China?

Em abril de 2011, no início de seu primeiro mandato, Dilma Rousseff foi à China. Queria diminuir o "desequilíbrio comercial". O Brasil vendia à China commodities (comida e minérios), então 82,4% do total das exportações (dados da Secretaria de Comércio Exterior, aritmética deste jornalista). Importava manufaturados, mais de 99% das compras.

Débora é Jair de peruca? - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

O projeto de anistia legaliza o golpe, mas não faz só isso: ele ressuscita o golpe

A menos que a cabeleireira Débora seja a versão drag queen do Jair ou do Braga Netto, o projeto de anistia que tramita na Câmara dos Deputados não foi feito para salvá-la.

Agora, se ela for a versão drag queen de um dos dois, deixo aqui meus parabéns ao maquiador. Se ele quiser um desafio ainda maior, proponho o Magno Malta.

Para se ter uma ideia do quanto Jair e sua quadrilha se preocupam com Débora, lembre-se de que, logo após o fracasso do 8 de janeiro, a versão oficial do bolsonarismo era de que os golpistas eram petistas infiltrados, criminosos que, além de serem presos, deveriam ser desmascarados como comunistas.

Governo subestima a oposição – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Alguma anistia haverá, e a responsabilidade é do Palácio que tira por menos a força dos oponentes

Incrível como o governo é pego desprevenido pela oposição. Leva rasteira atrás de rasteira e ainda se surpreende. Isso acontece porque subestima o oponente.

Acabou se acontecer com o projeto de anistia aos golpistas. O Palácio dormiu no ponto, acordou tarde e o líder no SenadoRandolfe Rodrigues (PT), para justificar a inércia, saiu-se com esta: "Não entramos em campo antes porque quando o adversário está errando não se deve interrompê-lo".

A vez da performance do papagaio - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Na verborragia, importa a voz da chefia e o desempenho, não o significado das palavras

O democrata Cory Booker, primeiro senador negro de New Jersey, bateu o recorde mundial de duração de um discurso parlamentar, falando em pé na tribuna contra Trump 25 horas ininterruptas, sem pausa para a toalete. Oposicionistas insinuaram o uso de fralda, mas o fato é que ele superou o recorde do republicano Strom Thurmond, supremacista branco da Carolina do Sul que, muitos anos atrás, deblaterou por 24 horas contra a Lei dos Direitos Civis.

Em termos de energia física, essas façanhas evocam as maratonas de dança durante a Grande Depressão nos EUA, cujos participantes iam até a exaustão para ganhar alguns trocados. Foram dramatizadas em "A noite dos desesperados", filme célebre de Sidney Pollack (1969). Algo não tão estranho quanto a famosa epidemia de Estrasburgo (1518) em que as pessoas dançavam até a morte, mas extremo ainda assim.

A arte da incerteza - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro discute a natureza da estatística e conclui que probabilidades não são uma propriedade objetiva do mundo

Seres humanos temos horror ao acaso, mas é ele quem dá as cartas nos mais diversos aspectos de nossas vidas. Pior, a estatística, que é a ferramenta de que dispomos para entender o acaso e lidar com ele, é irredutivelmente subjetiva. Esse é um resumo, só um pouquinho floreado, de "The Art of Uncertainty" (a arte da incerteza), de David Spiegelhalter (Cambridge).

O que eu gostei em "The Art..." é que o autor não se furta às questões difíceis, que ficam na zona cinzenta entre a matemática e a filosofia. Um exemplo? Ele chega a afirmar que a probabilidade, compreendida como uma propriedade objetiva do mundo, não existe. Quer dizer, talvez até exista em nível subatômico, no mundo quântico. Mas, nas dimensões em que operamos, probabilidades só refletem expectativas subjetivas de quem as enuncia.

Os EUA e seu presidente antiliberal – Juliana Diniz*

O Povo

É muito difícil imaginar que tal deterioração aconteça tão rapidamente. Por enquanto, assistimos um tanto incrédulos à passividade de uma sociedade que vê ruir, em meses, toda uma centenária tradição de defesa das liberdades. A América livre acabará?

O que acontece quando a autoproclamada maior democracia do mundo elege um presidente contrário ao liberalismo? Não devemos nos deixar enganar pelas aparências: mais do que o discurso, liberal é aquele que age como tal, que respeita os pressupostos do liberalismo, tanto na política quanto na economia. Donald Trump, por tudo que já fez em seu segundo mandato, é um presidente antiliberal, um dirigente mais aproximado a um autocrata do que a um presidente republicado contido pela "rule of law".

Leôncio Basbaum, sempre – Ivan Alves Filho*

Pernambucano, de origem judaica, Leôncio Basbaum foi um pensador refinadíssimo, sabendo aliar, como poucos, formulação política e participação militante. Preso 11 vezes ao longo da vida, esse comunista histórico seria o primeiro secretário-geral da Juventude Comunista, por indicação de Astrojildo Pereira. Em 1929, abriu conversações com Luiz Carlos Prestes, então no exílio, com o objetivo de lançá-lo candidato à Presidência da República pelo PCB, já no ano seguinte. Levava na bagagem um programa de governo, que submeteu ao Cavaleiro da Esperança. Prestes, naquele momento, considerou o programa partidário um tanto quanto radical para as condições do país.

Além de ter sido um dos representantes do PCB junto à Internacional Comunista, Leôncio Basbaum chegou a assumir, durante alguns meses, a secretaria geral do Partido, em 1932. Foi nesse ano que se deu o afastamento de Astrojildo Pereira da agremiação, por divergências em torno do chamado “obreirismo”: Astrojildo não via com bons olhos a política de “classe contra classe” defendida pelos partidários de Joseph Stalin no movimento comunista internacional, apontando para a diversificação existente na sociedade brasileira, onde as camadas médias assumiram funções cada vez mais importantes.  

A democracia é uma construção social conflitiva - Elimar Nascimento*

Revista Será?

Comentários do livro A construção da democracia no Brasil de Alberto Aggio

Os 40 anos ininterruptos de democracia no Brasil, comemorados no dia 14 de março, é um feito, em um País que tem uma história de muito autoritarismo. Na história republicana brasileira tem-se apenas uma feito maior, se, e com benevolência, considerarmos a estreita e elitista democracia a dobra dos séculos XIX/XX, entre 1889/1930. Tomando em consideração os dados mais consistentes, o percentual de eleitores no Brasil naquela época não chegava a 2% da população, enquanto o percentual de eleitores nas eleições de 2022 foi de 77%. A título de ilustração, analfabetos e mulheres não votavam em 1889, e como o regime eleitoral era censitário, além de ser homem o eleitor tinha de ser alfabetizado e ter um mínimo de renda.

Foram muitas as comemorações no passado mês de março por ocasião dos 40 anos de retorno à democracia que se deu com a posse do vice-presidente José Sarney, após a internação do presidente eleito pelo colégio eleitoral Tancredo Neves. Foram dias tensos naquele março de 1985, pois ainda havia, no âmbito das Forças Armadas, militares que não concordavam com o fim da ditadura. 

No sábado de 14 de março de 2025, a Fundação Astrojildo Pereira promoveu, com apoio do Correio Braziliense, no Panteão da Pátria, uma cerimônia comemorativa com a presença de José Sarney que discursou do alto de seus 95 anos a respeito do seu mandato presidencial, no qual o País dotou-se de uma nova Constituição. Seu maestro, o então deputado Ulisses Guimarães, denominou-a de Constituição Cidadã. Finalmente, depois de 21 anos os brasileiros voltavam a ter plena liberdade de se organizar e se expressar.

Poesia | Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, de Fernando Pessoa

 

Música | Las Tres Grandes - Gracias a la Vida (Violeta Parra)

 

sábado, 19 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nova condenação do Google reúne apoio bipartidário

O Globo

Plataformas digitais bajularam Trump acreditando em reviravolta na Justiça. Por ora, estratégia deu errado

Pela segunda vez em menos de um ano, o Google foi julgado culpado de abuso de monopólio nos Estados Unidos. A primeira sentença dizia respeito ao mercado de buscas na internet. Nesta semana, a juíza Leonie Brinkema, da Virgínia, considerou que a empresa também agiu ilegalmente no mercado de anúncios digitais. Ainda cabem recursos nos processos, que provavelmente chegarão à Suprema Corte. De todo modo, tem sido notável o avanço da Justiça sobre as plataformas digitais, com apoio tanto de democratas quanto de republicanos.

Na mesma semana, a Meta — dona de Facebook, Instagram e WhatsApp — começou a se defender num processo diante da Comissão Federal de Comércio (FTC), autoridade reguladora da concorrência nos Estados Unidos. A mesma FTC processou a Amazon, sob a acusação de sufocar pequenos negócios. E o Departamento de Justiça — autor das ações contra o Google ao lado de estados governados por ambos os partidos — também entrou com ação contra a Apple, argumentando que ela dificulta o acesso de consumidores a produtos e serviços de concorrentes.

Urgência para o PL da anistia causa divergência no PSDB e Cidadania

O Globo

Líder tucano lembra luta histórica contra ditadura; Comte avalia expulsão

Lideranças do PSDB e do Cidadania, partidos que formam uma federação marcada por desavenças, se uniram no discurso de repúdio a deputados das respectivas siglas que apoiaram pedido de urgência para a votação do projeto de lei que busca anistiar os envolvidos em atos golpistas. O ex-senador José Aníbal, dirigente tucano em São Paulo, pressionou cinco deputados do PSDB a retirarem suas assinaturas do requerimento de urgência. Já o presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, disse que o apoio à Anistia pode acarretar em punições, “inclusive a expulsão do partido”.

Mauro Vieira diz que asilo diplomático a ex-primeira-dama do Peru foi concedido por questões humanitárias

Ivan Martínez-Vargas / O Globo

Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão no Peru, foi recentemente operada e está em recuperação

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta sexta-feira que o governo Lula decidiu conceder o asilo humanitário à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia por razões humanitárias, e explicou que ela foi recentemente operada e está em recuperação. Vieira também disse que a decisão foi tomada e só depois informada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nadine e o marido, o ex-presidente peruano Ollanta Humala foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro nesta semana em um caso relacionado ao recebimento de caixa 2 do regime venezuelano e da empreiteira Odebrecht (hoje Novonor) nas eleições presidenciais do país vizinho de 2006 e 2011.

Vieira ressaltou que tratou do pedido de asilo de Nadine "de acordo com o que estabelece a Convenção de Caracas, de 1954", que dita normas para a concessão de asilo diplomático.

Corrupção vai, impunidade vem – Pablo Ortellado

O Globo

Muitas vozes reagiram indignadas quando Donald Trump concedeu perdão aos vândalos e golpistas que invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos. Outras vozes se escandalizaram quando o ex-presidente Jair Bolsonaro concedeu indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, acusado, entre outras coisas, de incentivar a agressão a ministros do STF. A maioria dessas vozes, porém, se calou quando o presidente Lula concedeu asilo, intercedeu por um salvo-conduto e enviou um avião da FAB para resgatar Nadine Heredia no Peru.

Nadine foi condenada pela Justiça peruana por gerir o caixa dois da campanha do marido, o ex-presidente Ollanta Humala, e por ter recebido pelo menos US$ 3 milhões de doação ilegal da empreiteira brasileira Odebrecht. Segundo delações premiadas dos executivos da Odebrecht no Brasil, o pedido para a doação ilegal veio do PT. De acordo com a delação do ex-ministro Antonio Palocci, diretamente do então presidente Lula.

Apertem os cintos: o humor sumiu - Eduardo Affonso

O Globo

O humorista é o bobo da corte, aquele a quem cabe enunciar o que não queremos ouvir

Procure um bom programa humorístico na TV aberta. Encontrou? Pois é, pode dar descanso ao controle remoto: o humor sumiu. Imbuídos das melhores intenções do politicamente correto, ao jogarem fora a água do banho (o racismo recreativo, a ridicularização de minorias sexuais, a desumanização de pessoas com deficiência, a objetificação da mulher etc.), descartaram também a bacia, o bebê, o berço e a babá.

O humor — como a Vila de Noel e a crase — não foi feito para humilhar ninguém. É só uma quebra de expectativa, uma subversão da lógica, um olhar para o absurdo. Mas requer — de quem faz e de quem consome — inteligência e coragem, insumos escassos no mercado.

Três problemas em busca de soluções - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Mais grave, no entanto, é que sequer compreendemos as raízes de nossa ingovernabilidade, ou seja, essa difusa maçaroca que mal conseguimos identificar

Francamente, nunca me ocorrera que cedo ou tarde iria s i mpatizar com um país governado de forma totalitária – a China –, e me posicionar contra outro que sempre vira como uma “democracia exemplar”, os Estados Unidos.

Três fatores contribuíram para alterar minha perspectiva. Primeiro, eu me haver convencido de que o atual governo dos Estados Unidos representa um risco muito maior para o mundo do que o destrambelhado sr. Donald Trump. Custa-me acreditar que a maioria dos cidadãos americanos tenha prostituído suas instituições a ponto de eleger e empossar na Presidência um indivíduo duas vezes condenado por tentativa de golpe de Estado e se abalançado a praticar políticas comerciais capazes de desmantelar toda a ordem mundial edificada desde a Segunda Guerra Mundial. Isso sem contar as incontáveis ameaças e violências contra indivíduos, instituições culturais e de governo em seu próprio país. A esperança de superar esse estado de coisas, se houver, será o Congresso americano acionar contra ele, o quanto antes, o instituto constitucional do impeachment.

Ouro, prata e pânico: a era Trump - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

O tarifaço foi um catalisador para uma corrida no mundo por ‘ativos de refúgio’

Na era Trump, o mundo financeiro está vivendo um fenômeno que já não se via com tanta intensidade desde 2008: a busca frenética por proteção. Com a escalada do tarifaço, os investidores têm abandonado o mercado de capitais dos EUA e migrado para o que o mercado chama de “ativos de refúgio”.

Investidores institucionais e bancos centrais estão abandonando títulos dos EUA e migrando para metais preciosos e dívidas soberanas de países mais estáveis. A demanda por ouro disparou e, em abril, o metal atingiu a máxima histórica de US$ 3.290 por onça. A prata seguiu o mesmo caminho. Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram para mais de 4,5%. Em paralelo, os títulos da Alemanha e do Japão foram os mais procurados, com seus rendimentos caindo – um clássico sinal de busca por segurança.

Trump repete erro da década de 1930 - Fareed Zakaria

O Estado de S. Paulo

EUA vivem nostalgia, que olha com receio para o passado, em vez de mirar o futuro com confiança

Estamos tributando todo o país para subsidiar os 8% que trabalham com manufatura

Quando Donald Trump tomou posse, pela maioria dos indicadores, os EUA eram a economia mais forte do mundo. O crescimento era robusto, o desemprego estava um pouco acima do mínimo histórico, a inflação havia caído para um nível controlável e a produtividade – elixir da economia – havia aumentado. Trump pegou a economia em expansão e a derrubou com aumentos de tarifas. Já houve algo parecido antes?

Bem, nada tão autodestrutivo, mas as tarifas Smoot-Hawley também foram impostas depois de uma década de crescimento inebriante. Vale a pena relembrar essa história, porque há paralelos surpreendentes com a situação atual.

Lembramos a década de 1920 como os “loucos anos 20”. Em termos econômicos, isso é apropriado. A taxa de crescimento anual foi superior a 4%. O desemprego permaneceu baixo durante a maior parte dela. Inovações revolucionárias definiram o período, permitindo a produção em massa de carros, aviões, telefones, rádios e filmes. A televisão nasceu nessa época, assim como os band aids, que muitos consideraram a melhor coisa desde o pão fatiado, também inventado nessa época.

21 de abril - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

O nome de JK entrou na história do Brasil pela coragem de mudar o país. Desde então, os políticos se acovardaram

Na noite do dia 21 de abril de 1960, estava com um amigo na Praça dos Três Poderes. Assisti, maravilhado, às festas da inauguração da nova capital do Brasil. Meu pai foi convidado para o baile de gala, que foi realizado no Palácio do Planalto. Eu e um amigo carioca ficamos passeando pela imensa praça ouvindo o magnífico coral de não sei quantas centenas de vozes, os gritos entusiasmados dos candangos. Vi os fogos. Senti a alegria. A festa atingiu seu ápice quando o presidente Juscelino Kubitschek desceu a rampa, atravessou a rua e se jogou no meio da multidão. Foi um suceder de abraços, parabéns, cumprimento, apertos de mão. Uma senhora beijou-lhe os pés.

Lições de um jovem magistrado - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Poder e autoridade judicial são fenômenos semelhantes

Certa vez fui despachar com um jovem magistrado, que me interrompeu no meio de uma frase: "Já entendi, o senhor está dizendo que eu errei". Percebendo a minha perplexidade, voltou-me sua folha de anotações, onde estava escrito, em letras garrafais: "Errei!!! Corrigir", numa clara demonstração de que sua autoridade não estava em jogo.

Poder e autoridade judicial são fenômenos semelhantes. Ambos se referem a capacidade de um juiz ou tribunal de impor conduta a outro agente. O respeito à autoridade judicial, no entanto, está intrinsecamente associado à imparcialidade, objetividade e rigor com que um juiz ou tribunal aplicam a lei. Já a submissão ao poder judicial decorre, sobretudo, do medo de sofrer alguma forma de coerção.

Os atritos entre a Justiça do Trabalho e o Supremo Tribunal Federal têm origem na forma equivocada como o Supremo vem aplicando a legislação trabalhista, assim como as normas constitucionais relativas ao direito do trabalho, nos últimos anos.

Sob o pretexto de que a Justiça do Trabalho estaria confrontando a jurisprudência do Supremo, diversos de seus ministros têm cassado decisões proferidas por juízes e tribunais do trabalho que, no exercício de suas competências constitucionais, detectaram a existência de fraude na contratação de trabalhadores, por meio de pessoas jurídicas.

A China de amanhã - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

País se tornará economia industrial normal após mutação acelerada por Trump, mas custo do reequilíbrio recairá sobre EUA

China representa 19% do PIB global, mas responde por 32% da produção industrial mundial. O desequilíbrio, cujas implicações contribuíram para a ascensão de Trump, não é sustentável. No fim do percurso, o triunfo chinês na guerra tarifária depende da "normalização" de sua economia.

O modelo exportador da China ancora-se no excesso de poupança doméstica –ou, dito de outro modo, num consumo interno reprimido. O segredo repousa no sistema político totalitário, que mantém baixos salários, veta políticas de bem-estar social e recusa-se a erguer um sistema decente de seguridade social.

Desde o ingresso chinês na OMC, em 2001, à base de uma intrincada rede de subsídios estatais, o modelo propiciou a expansão da indústria em saltos tecnológicos sucessivos, até a produção de veículos elétricos, painéis solares, baterias e softwares de IA. Os bens chineses inundaram o mercado mundial, eliminando competidores, devastando antigas regiões industriais e, nesse passo, deslocando os sistemas políticos nacionais.

LDO de 2026 mostra realidade inconveniente - Marcos Mendes

Folha de S. Paulo

Podemos ter soluções reais, ou mais complacência

Na última terça-feira (15) foi apresentado o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026. Ele estima receitas e despesas até 2029, explicitando uma realidade inconveniente: a partir de 2027, depois de pagas as emendas parlamentares e cumprido o gasto mínimo em saúde e educação, não restará um tostão para financiar outras despesas discricionárias.

Vamos aos números. O total de despesas discricionárias previstas para 2027 é de R$ 122 bilhões. Porém, as emendas parlamentares obrigatórias serão de, no mínimo, R$ 55 bilhões.

Além disso, aproximadamente R$ 70 bilhões serão gastos para complementar a despesa mínima em saúde e educação, pois o gasto obrigatório nessas rubricas não é suficiente para cumprir o mínimo exigido pela Constituição.

O arcabouço fiscal já era - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Em 2027, segundo as previsões oficiais, o dinheiro acaba. Feitos os gastos obrigatórios, não sobra nem para o cafezinho

Quando o governo Lula criou o arcabouço fiscal, muitos analistas e jornalistas, inclusive o autor desta coluna, sustentaram que só funcionaria com expressivos aumentos de receita. Como a carga tributária já era elevada, parecia tarefa impossível. Vá lá que se conseguisse algum ganho inicial, mas imaginar que se poderia tirar mais dinheiro do contribuinte por anos a fio era ilusão.

Do outro lado da conta, o arcabouço garantia crescimento da despesa de 2,5% ao ano, acima da inflação. E esse era o verdadeiro objetivo do governo Lula: voltar à velha política petista do aumento permanente do gasto público. Como a dívida pública já estava em níveis muito elevados, foi preciso criar o tal arcabouço, apresentado como sistema mais sofisticado que o teto de gastos.

Havia aí um argumento: o teto de gastos havia sido furado no governo Bolsonaro. Mas o teto serviu muito bem durante o governo de Michel Temer, com Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. A regra, introduzida naquele mesmo governo, era de uma simplicidade brilhante, facilmente compreensível. Dizia: o gasto do governo de um ano será igual ao do ano anterior, mais a inflação do período. Não haveria aumento real da despesa.

Quem domina a pauta? - Aldo Fornazieri

CartaCapital

O governo não consegue enfrentar o bolsonarismo na disputa da opinião pública

A pesquisa Datafolha divulgada no início de abril trouxe certo alívio ao governo. Depois de ter caído para o patamar de 24% de avaliação positiva, agora o instituto mostra uma reação, de 24% para 29%, enquanto a avaliação negativa caiu de 41% para 38%. Somados os dois ganhos, são 8 pontos. Mas isso não significa que a avaliação seja confortável, pois ela está ainda a uns 11 a 12 pontos do patamar mínimo que poderia tranquilizar o governo para transitar rumo a 2026 e às eleições presidenciais.

Existem muitas e variadas análises que buscam explicar as vicissitudes do governo na opinião pública. Uma das mais apontadas é a da inflação, com destaque para o preço dos alimentos. Além de corroer os salários, principalmente dos setores de renda baixa, a inflação bate forte na mesa das famílias. Outra pesquisa do Datafolha mostra que 58% dos brasileiros reduziram a compra dos alimentos e o consumo de água, luz e gás por causa dos reajustes. Para 54%, o governo Lula é muito responsável pela inflação, para 29% ele é um pouco responsável e para 14% ele não tem nenhuma responsabilidade.

Darwinismo monetário - Manfred Back e Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

O movimento do dinheiro e suas formas mudam, mas sempre acabam no mesmo lugar, na preferência pela liquidez

As relações entre dívida pública, gestão monetária e setor financeiro privado não são “externas”. São orgânicas e constitutivas. A dívida do governo é a garantia de última instância das operações financeiras privadas. Nos tempos de “normalidade”, as formas financeiras do poder privado permitem diversificar a riqueza de cada grupo, distribuí-la por vários mercados e assegurar o máximo de ganhos patrimoniais, se possível no curto prazo. Os agentes dessas operações são as instituições da finança privada. São elas que procuram antecipar movimentos de preços e definir os instrumentos de hedge e os riscos de contraparte nos mercados financeiros contemporâneos.

O choque necessário - Cristovam Buarque

Veja

É preciso criar um ministério para a educação de base

É atávico. Todos os anos, os brasileiros se surpreendem com os baixos índices na qualidade e na equidade como a educação é oferecida. Apesar de avanços, três brechas estão aumentando. Uma brecha social: mesmo com a evolução no número de matrículas na escola para os pobres, a qualidade cresce mais para a parcela rica. A brecha internacional: outros países avançam mais rapidamente, nos deixando para trás. E aumenta a brecha pedagógica: entre o que é ensinado e o que deveria ser ensinado para preparar um jovem para as necessidades de conhecimento que o mundo contemporâneo exige.