terça-feira, 1 de abril de 2025

Firmas dos EUA temem retaliação e menos ganhos no exterior - Assis Moreira

Valor Econômico

Alguns setores americanos chegam a obter mais de 50% de seus ganhos nos mercados internacionais

A inquietação global aumenta à véspera do choque tarifário que Donald Trump vai impor aos países, na quarta-feira. O banco Goldman Sachs aponta risco maior de recessão no rastro de uma escalada na guerra comercial.

O banco americano diz agora esperar que Trump anuncie tarifas de 15% na média contra todos os parceiros comerciais dos EUA. Assessores trumpistas ontem falavam em alíquotas de até 20% por país.

Com seu dito ‘dia da liberação’, Trump quer ao mesmo tempo aumentar a receita fiscal com as tarifas e usá-las para impor às outras nações que baixem suas alíquotas de importação aplicadas sobre produtos americanos, ou fazer mudanças em suas políticas comerciais.

O que é inegável é o impacto que o tarifaço vai provocar na economia mundial. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) calcula que, no médio prazo, os volumes de comércio global devem cair em cerca de 2% se a alta de tarifas bilaterais por Washington for de 10 pontos percentuais sobre as importações de todos os parceiros comerciais e esses, por sua vez, retaliarem aumentando as tarifas sobre as importações dos Estados Unidos também em 10 pontos percentuais.

Globalmente, são os consumidores que vão amargar a maior parte do peso da alta das alíquotas, com a renda real das famílias devendo ter diminuido por volta de 1,25% no nos EUA e de 0,50% no Canadá no terceiro ano da aplicação das sobretaxas.

Para os EUA, essa baixa equivale a uma perda de mais de US$ 1.600 de renda disponível em termos líquidos por família. O investimento do setor privado também será penalizado, podendo baixar até 2% nos EUA, 1,5% no Canadá e 0,6% na zona do euro.

O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa as grandes instituições financeiras do mundo, aponta crescente preocupação do lado das empresas americanas com retaliação no exterior e queda de seus ganhos.

No ano passado, mais de 30% da receita das empresas do S&P 500 (índice financeiro que compreende as 500 maiores empresas listadas nas bolsas NYSE e NASDAQ dos Estados Unidos) foram obtidos no exterior. Alguns setores tem exposição maior. Os setores de tecnologia da informação e de materiais fazem mais de 50% de seus ganhos nos mercados internacionais, e health care fica em torno de 35%.

Ocorre, como toda o IIF, que uma parte significativa dessa receita externa vem de países que Trump já passou a alvejar com tarifas mais altas e considera impor mais restrições, incluindo a China, Canadá e México.

Como constata o IIF, com a escalada comercial, também campanhas de boicote contra produtos americanos em resposta às altas tarifárias ganham ritmo em vários países, incluindo o vizinho Canadá.

Também há mais monitoramento regulatório sobre companhias americanas.

Além disso, 17% das ações de bolsa de valores nos EUA é diretamente detida por investidores estrangeiros, sobretudo do Canadá, Europa e Japão. Isso eleva preocupações sobre potencial armamentização (weaponization) de fluxos de capitais se as tensões comerciais continuarem a aumentar, avalia o IIF.

Aparentemente, a Casa Branca não conta, porém, com enorme retaliação. Assessores dizem que vários países já buscaram contato com o governo americano, oferecendo baixar suas tarifas em troca de algo mais leniente nessa quarta-feira. Ou seja, uma vez que Trump termina seu show no jardim da Casa Branca, negociações vão começar com alguns países e as alíquotas eventualmente vão baixar dentro de algum tempo.


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