Folha de S. Paulo
Alvos americanos são variados, mostra relatório do Representante de Comércio dos Estados Unidos
O Brasil quase não tem o que fazer na
hipótese de levar pauladas
comerciais dos Estados
Unidos. Para piorar, os ataques podem ir além de retaliações no comércio. É
importante lembrar também que a discussão vai muito além de impostos de
importação, "tarifas", apesar da simplificação midiática que se lê e
ouve sobre o assunto, as "tarifas recíprocas".
Seja lá o tiro, a pancada e a bomba que venham de Donald Trump nesta quarta, responder com aumento de importação sobre algum produto americano seria providência burra. Apenas aumentaria custos de matérias-primas, partes, peças, máquinas, encarecendo a produção nacional e até exportações brasileiras de bens complexos, como aviões.
Felizmente, nenhum profissional envolvido
na negociação pensa no assunto. Além do mais, há lobbies empresariais
preventivos contra "tarifas". Mas estão vendo que é difícil arrumar
saída, vide o fracasso, até agora, das negociações sobre o aço.
Há discussões e rumores sobre o que fazer,
em particular no que diz respeito a direitos de propriedade intelectual.
Digamos que, em última instância, o governo do Brasil recorra a esse tipo de
retaliação.
Primeiro problema, como em qualquer outro tipo de retaliação, seria a reação
americana. E se eles dobrarem a aposta? Ameaçarem medidas mais duras? No
limite, dizem americanos, essa guerra pode ir até a medidas que afetem haveres
quaisquer de cidadãos e empresas brasileiras nos EUA.
No caso de Trump, não é exagero, dizem
técnicos do governo americano (no Tesouro, no Escritório ou Consultoria do
Representante de Comércio dos EUA, o USTR). Dada a confusão trumpista, porém, o
primeiro ataque americano até pode sair barato.
Segundo problema: os americanos estão
engasgados faz tempo com restrições brasileiras a importações de bens e
serviços dos EUA, como pode se ler nos relatórios
anuais do USTR sobre barreiras comerciais. Mais grave agora é que Trump
determinou que essas listas de queixas do USTR fossem aprofundadas.
A reclamação básica é de altos impostos de
importação, que simplesmente barram certos negócios (não adianta dizer que o
imposto é baixo sobre bens efetivamente negociados). A segunda reclamação é que
o Brasil muda impostos e regras de importação à vontade, o que dificulta
negócios.
Um caso que incomodou muito, de mais
recente (quase uma década), foi o grande aumento de impostos de importação
sobre etanol (depois
de 2017), depois de o setor ficar meio mal das pernas por aqui. Isso pegou
muito mal, não apenas entre o pessoal do etanol e seus parlamentares nos EUA.
Como se lê no relatório do USTR, citando o
caso da cachaça,
o Brasil cobra impostos domésticos diferentes sobre produto nacional e
importado. Outras políticas industriais, setoriais, também são e serão ainda
mais objeto de críticas....
É o caso de proteções e incentivos a
biocombustíveis e para o audiovisual (cinema, TV), de reconhecimento de
patentes e direitos intelectuais, como na área farmacêutica ou biomédica.
Reclamam de regras de compras
governamentais que dão preferência a produtos brasileiros. De restrições a
comércio digital. Reclamam ainda e obviamente de pirataria.
O relatório do USTR chega a citar a região
da rua 25 de Março, no centro velho de São Paulo, de comércio dito
"popular" e de muamba, com base no relatório sobre "Mercados
Notórios de Falsificação e Pirataria" de 2024.
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