Folha de S. Paulo
Selic pode subir mais um tico, como insinua
ata do BC, mas debate central é alta da dívida pública
O Banco Central bem
que gostaria de ter encerrado a campanha de alta da Selic, que chegou
a 14,75% ao ano na quarta passada. Nesta terça, na
exposição de motivos dessa alta extra de meio ponto percentual, reiterou
que deixa a porta aberta para mais alguma alta, de 0,25 ponto percentual, como
havia feito no comunicado da decisão da semana passada. Foi
o que disse na chamada "Ata do Copom". Se tiver qualquer fio de
esperança, deixa a coisa em 14,75%.
Ainda assim, afora milagres, a taxa de juros de um ano, no mercado, deve ficar em 8% ao ano ou mais até fins do governo Lula, em termos reais —descontada a inflação. Está ora perto de 9% ao ano (triscou em 10% no pânico de dezembro).
Para quem tem perspectiva FIRME de fazer um
investimento de prazo mais longo (uns quatro anos, ao menos) e tem a boa sorte
de dispor de uma poupança financeira
já convenientemente diversificada, é um momento muito bom para colocar títulos
do governo em sua carteira.
Sim, a taxa real pode cair um pouco de agora
em diante, afora trumpices piores ou outras desgraças. Ainda será um rendimento
absurdamente alto (para quem se dispõe a mantê-lo até o vencimento, ATENÇÃO) e
um sinal de que as contas do governo estão em uma situação desgraçada. Mas,
enfim, o pico do arrocho vai passar.
O Banco Central foi convincente? Foi
convincente ao menos no sentido de reafirmar o tamanho da confusão, de dizer
que está muito mais difícil do que de costume dar um chute informado a respeito
do que vai acontecer.
Por exemplo, repete, como em março, que há
sinais "incipientes" de desaquecimento da atividade econômica. Até
que há, para quem olha a coisa com lupa. Mas são tão poucos e pequenos que não
servem para fundamentar decisão alguma.
Nos "riscos de baixa" para a
inflação incluídos na Ata deste maio, estão uma desaceleração maior da economia mundial
e do preço das commodities (petróleo, grãos, ferro). Hum.
Entre a decisão da quarta passada e a
divulgação da Ata, nesta terça, Estados
Unidos e China declararam trégua na guerra estúpida de Donald Trump. Os
preços de commodities como minério de ferro e petróleo se reanimaram (tanto que
a Bolsa brasileira subiu, nesta terça). Sim, aumentaram a partir de valores
desanimados, mas subiram. Até onde vão?
Por outro lado, talvez ainda prevaleça a tese
de que o dólar perderia valor ao longo do ano, dando uma mão para o trabalho do
Banco Central de conter a inflação. Mesmo com a reversão do pior cenário para
os efeitos das "tarifas" de Trump, o
dólar desceu a R$ 5,60. Indo a perto de R$ 5,40, terá voltado aos valores
reais do início de 2024.
O cenário ainda é de névoa total. Há Trump,
suas reviravoltas e seus efeitos incertos na economia real. Há o fato de que,
pelo menos desde 2022, não entendemos bem o que se passa com a economia
brasileira, que cresceu mais do que o previsto.
Aliás, o PIB cresceu por um tempo, acima do
previsto e do hipotético potencial, sem pressões maiores sobre a inflação,
estresse que começou a ficar visível apenas no ano passado e em parte
desnecessário —se o governo tivesse tomado alguma atitude em relação às contas
públicas, a história seria um pouco outra. O assunto macroeconômico essencial é
esse.
Dívida explosiva e taxas de juros altas por
um longo tempo, seja lá o que faça o Banco Central, serão nosso problema e
nosso conflito social e político em 2027 e, talvez, bem além.
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