Silvio Cascione / O Estado de S. Paulo
Nome apoiado pelo ex-presidente dependerá de
demonstrações de lealdade, o que tende a elevar a desaprovação de quem for
escolhido
Mesmo com perfis distintos, os nomes mais
prováveis do bolsonarismo seguirão roteiro eleitoral parecido; campanha exigirá
defesa ativa do ex-presidente e tende a nivelar postulantes.
O campo conservador deve passar os próximos dez meses discutindo quem será o herdeiro político mais viável de Jair Bolsonaro. Mas a escolha não dependerá apenas das pesquisas: o verdadeiro teste será de lealdade — e isso tende a elevar a taxa de rejeição de quem vier a ser escolhido.
As pesquisas recentes permitem uma comparação
preliminar entre os nomes mais citados: Tarcísio, Eduardo e Michelle.
Tarcísio tem hoje a melhor performance entre os três. Nas simulações de segundo
turno feitas pelo Datafolha, registra 39% das intenções de voto, contra 38% de
Michelle e 34% de Eduardo. Na pesquisa da AtlasIntel, sua vantagem é apenas
simbólica no segundo turno (0,6 ponto percentual), mas sua taxa de aprovação
supera a de Michelle em sete pontos. Eduardo, por ora, não aparece nos cenários
testados pela AtlasIntel.
Essas diferenças alimentam algumas crenças —
especialmente entre políticos — sobre a competitividade de cada pré-candidato.
Michelle é vista como opção relativamente forte por ser mulher, o que poderia
atenuar a resistência do eleitorado feminino ao bolsonarismo. Tarcísio carrega
a credencial de gestor e um discurso de moderação, mas também pode ser alvo de
ataques sobre temas econômicos, como o risco de congelamento do salário mínimo.
Já Eduardo é, até aqui, o nome menos competitivo.
As diferenças de potencial eleitoral existem,
mas são menores do que o senso comum costuma sugerir. O que tende a nivelá-los
é o fato de que o candidato precisará demonstrar alinhamento irrestrito a
Bolsonaro — não apenas agora, mas principalmente entre março de 2026 e o
primeiro turno. Caso Bolsonaro esteja preso, como é provável, seu representante
terá de combinar uma campanha de oposição ao PT com a defesa ativa do
ex-presidente: pedindo anistia, atacando o Supremo, sustentando a narrativa do
“preso político”. Qualquer hesitação nesse discurso pode ser fatal. A base
bolsonarista reage com rapidez a sinais de distanciamento — e pode rotular como
traidor quem recuar, abrindo espaço para um nome alternativo, como quase
ocorreu na eleição municipal de São Paulo em 2024.
Essa associação tem seu custo. A tendência é
que a rejeição do candidato bolsonarista aumente, espelhando os índices do
próprio Bolsonaro. Isso vale para Tarcísio, Michelle ou Eduardo. No segundo
turno, o escolhido até poderá tentar deixar o ex-presidente em segundo plano e
centrar a disputa em Lula. Mas, a essa altura, o vínculo político já estará
consolidado — e suas consequências, também..
Tarcísio, Michelle ou Eduardo podem começar a corrida com perfis diferentes, mas todos terão de seguir o mesmo roteiro. Ao final do ciclo eleitoral, devem chegar com chances de vitória — e taxas de rejeição — surpreendentemente parecidas.
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