Correio Braziliense
A empresa também vai prorrogar o programa de
demissão voluntária até 18 de maio, para economizar R$ 1,5 bilhão em 2025 e
evitar o megaprejuízo de R$ 3 bilhões
Os Correios pedem a colaboração dos funcionários no plano de recuperação da empresa, diante de um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024. A nova crise da estatal é um bumerangue corporativista: foi a resistência dos próprios funcionários à privatização da empresa que levou ao quadro atual. Houve uma mudança de paradigma no setor postal, que a empresa não soube acompanhar, quando ainda não tinha grande concorrência no que seria sua vocação natural, após as mudanças tecnológicas que a levaram à substituição de cartas e telegramas por e-mails e mensagens de WhatsApp: a logística, sobretudo a entrega de encomendas e compras on-line.
Entre as medidas propostas, os Correios pedem
que os funcionários adiem as férias de 2025 para 2026 e aceitem a redução da
jornada de trabalho com redução proporcional de salário. A empresa também vai
prorrogar o programa de demissão voluntária até 18 de maio. Tudo para
economizar R$ 1,5 bilhão em 2025 e evitar um megaprejuízo neste ano, que pode
ultrapassar os R$ 3 bilhões. O modelo de negócio, o tamanho e a eficiência da
estatal estão no centro da crise.
Os Correios têm 11,7 mil agências de
atendimento, 25 mil veículos próprios e estão presentes em 100% dos municípios
brasileiros. Porém, têm um histórico de complexos problemas administrativos,
com greves prolongadas de profissionais, corrupção, balanços negativos em anos
consecutivos e perda de prestígio e qualidade no serviço, que já foi exemplar.
O presidente dos Correios justifica parte do
prejuízo com os investimentos da empresa: R$ 1,6 bilhão nos últimos dois anos
em tecnologia, infraestrutura operacional e renovação da frota de veículos.
“Nós pegamos uma empresa que estava prestes a ser privatizada, então é uma
empresa que estava sucateada, se deixou de investir em inovação, e isso para
uma empresa que se pretende ser eficiente na logística, nas entregas”, diz
Fabiano Silva dos Santos.
Na verdade, houve aumento dos custos em mais
de R$ 700 milhões, puxados pelo reajuste salarial dos servidores e as despesas
com pagamento de precatórios. A empresa afirma que precisou recompor salários
defasados, porém, a receita obtida pela prestação de serviços caiu R$ 335
milhões em 2024. Cerca de 85% das agências operam no vermelho. Ou seja, os
salários aumentam e a produtividade cai.
Os argumentos a favor da venda de ativos como
os Correios são verdadeiros. O país não tem como financiar investimentos na
modernização de nossa infraestrutura sem privatizações e entrega de serviços à
exploração das empresas privadas em diversas áreas onde a presença do estado
deixou de ser necessária. A esquerda demoniza o uso de mecanismos de mercado
para melhorar a atuação do Estado. A direita demoniza o uso do Estado para
lidar com as falhas do mercado.
Modelo alemão
Enquanto isso, as empresas de tecnologia
estão reinventando o mundo. Hoje, os principais concorrentes dos Correios são a
Amazon e o Mercado Livre, além da DHL, o verdadeiro bicho papão, fruto de um
caso bem-sucedido de privatização. Trata-se de uma divisão da Deutsche Post do
setor de logística internacional e correio expresso. Tem sede na cidade alemã
de Bonn. Fundada em 1969, DHL é um acrônimo do nome dos seus criadores
norte-americanos, Adrian Dalsey, Larry Hillblom e Robert Lynn (History, 2008).
Na sua rede global, a DHL incorpora cerca de
6.500 escritórios e mais de 120.000 destinos espalhados por mais de 220 países.
No Brasil, opera com remessa de documentos e correspondência, logística para
empresas (transporte, embalagem e armazenamento) e movimentação de cargas
(aérea, ferroviária, marítima e rodoviária). Domina o mercado internacional com
aproximadamente 1,5 bilhão de remessas por ano, sob o lema “Nós movemos o
mundo”.
A marca DHL incorporou várias empresas
adquiridas pela Deutsche Post, o antigo Deutsche Bundespost da Alemanha, a
empresa de correios alemã, que foi privatizada em 1995 e transformada em três
sociedades anônimas: um banco, uma companhia aérea e uma empresa de logística.
É a privatização mais bem-sucedida do mundo, que começou na década de 1990, de
forma escalonada e sob proteção do governo durante a transição.
O governo alemão vendeu 50% das ações do
Deutsche Post para um banco público, o KfW; no ano seguinte, um lote com 29%
das ações foi oferecido a investidores, que arrecadou 6,6 bilhões de euros (R$
29,9 bilhões). Até 2005, o governo vendeu todas as suas ações remanescentes ao
KfW, que, por sua vez, as ofereceu para investidores no mercado de capitais.
O Deutsche Post comprou a empresa
norte-americana de entregas expressas DHL em 2002, e hoje é uma das maiores
companhias de logística do mundo, com cerca de 550 mil empregados em mais de
220 países e receita de 61 bilhões de euros (R$ 276 bilhões) em 2018. O modelo
alemão pode ser a melhor solução para os Correios, mas a Constituição Federal
prevê que a União deve manter o serviço postal e legislar sobre o setor. Por
isso, uma eventual privatização dos Correios precisaria ser aprovada pelo
Congresso Nacional, por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC).
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