Correio Braziliense
Qualquer bom gestor público sabe que um corte
de 2% nas despesas não é o fim do mundo, mas uma opção por austeridade,
eficiência, transparência, ou seja, produtividade
O secretário-executivo do Ministério da
Fazenda, Dario Durigan, admitiu que a equipe econômica estuda alternativas que
possam substituir o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF),
diante das pressões do setor produtivo e financeiro e da perda de sustentação
política no Congresso, a partir do momento em que o presidente da Câmara, Hugo
Motta (Republicanos-PB), se manifestou publicamente contra o aumento.
Durigan é o integrante da equipe econômica com mais credibilidade junto ao mercado financeiro e admitiu que o governo pode recuar das propostas após reunião com o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, e com os dirigentes dos maiores bancos privados do país no Ministério da Fazenda. Todo o empresariado está repudiando a medida, que atinge fortemente a indústria e, também, a grande massa de empreendedores.
O aumento da alíquota do IOF sobre operações
de crédito, para empresas, operações cambiais e previdência privada foi
anunciado na semana passada. Atinge crédito pessoal ou financiamento
(empréstimos); a compra de moedas estrangeiras (câmbio) e, também, a compra e
venda de títulos (investimentos). Por isso mexe com a vida de todo mundo, do
industrial ao empreendedor, não apenas dos rentistas. Já é grande a
insatisfação dos contribuintes ao ter que pagar Imposto de Renda.
Por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), o governo foi obrigado a fazer um ajuste nas contas públicas, que
deveria ser da ordem de R$ 51,3 bilhões para cumprir as exigências da
legislação orçamentária. A opção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi
cortar R$ 31,3 bilhões e aumentar o IOF, para arrecadar mais R$ 20,5 bilhões
neste ano. Numa conta de balcão de botequim, na prática, o governo quis fazer
um ajuste de apenas R$ 11,25 bilhões, porém, esperteza demais engole o dono.
A lógica econômica do Palácio do Planalto é
aumentar os gastos públicos para aquecer a economia e gerar e emprego, o que
realmente está acontecendo, porém, com o aumento do deficit público, a inflação
precisa ser contida pela política monetária, ou seja, o Banco Central (BC)
eleva os juros (Selic). A equipe econômica sabe que precisa cortar gastos. Isso
é possível sem prejudicar os programas destinados aos mais pobres, com foco na
área meio e cancelamento de projetos não prioritários. Entretanto, o presidente
Lula e os demais ministros não aceitam essa alternativa. Estão de olho nas
eleições de 2026.
Divulgado na semana passada, o Relatório de
Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (Rardp), bimestral, informa que as
despesas obrigatórias deste ano ficarão R$ 36,4 bilhões maiores do que o
previsto quando o Orçamento foi aprovado. Os gastos crescem na Esplanada como
as unhas dos seus ministros, só que não são cortados. O orçamento do Ministério
da Justiça este ano é de R$ 22 bilhões. O dos Transportes, R$ 30,8 bilhões. O
da Cultura, R$ 4 bilhões. O do Povos Indígenas, R$ 1,3 bilhão. É muito dinheiro.
Menos desperdício
A conta de benefícios previdenciários é de R$
16,7 bilhões. Com base nos dados observados de janeiro a abril deste ano, a
conta de benefícios "normais" ficaria R$ 9 bilhões maior do que o
previsto, e a de precatórios previdenciários, R$ 7,7 bilhões mais elevada. Se
considerarmos apenas como referência o salário mínimo de R$ 1.518,00, a despesa
previdenciária aumenta em mais R$ 4,09 bilhões. O Benefício de Prestação
Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, cresceu
R$ 2,8 bilhões. O motivo do crescimento é a concessão do benefício por via
judicial.
O presidente Lula tem a transferência de
renda para os mais pobres como uma promessa de campanha, isso é legítimo, pois
foi eleito com essa plataforma. Para manter esse compromisso e não ver seu
governo desandar, porém, terá de cortar em outras áreas do governo, acabar com
os desperdícios, combater a corrupção, cancelar programas que são perfumarias
ou maracutaias mesmo.
Qualquer gestor público sabe que um corte de
2% nas despesas de uma administração não é o fim do mundo, mas uma questão de
vontade política, que depende de uma opção preferencial por austeridade,
eficiência, transparência, ou seja, produtividade. O uso intensivo de
tecnologia pode resolver isso. Agora mesmo, nesse escândalo do INSS, o simples
uso de biometria seria capaz de evitar as fraudes, segundo a Polícia Federal
(PF).
Não se trata aqui de um debate ideológico, do
tipo "neoliberais versus desenvolvimentistas". Além da contingência
econômica (o deficit fiscal), existe a política. Para o presidente da Câmara,
Hugo Motta (Republicanos-PB), "o Brasil não precisa de mais imposto.
Precisa de menos desperdício". A Confederação Nacional da Indústria (CNI),
a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação
Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e a Organização das Cooperativas do
Brasil (OCB) exigem que o Congresso rejeite o aumento do IOF.
Segundo essas entidades, com o aumento do
IOF, os custos das empresas e dos negócios com operações de crédito, câmbio e
seguros serão elevados em R$ 19,5 bilhões apenas no que resta do ano de 2025.
"Para 2026, o aumento de custo chega a R$ 39 bilhões", com uma carga
tributária do IOF para empresas em mais de 110% ao ano. Por essa razão, o
governo está derrotado por antecipação: a correlação de forças no Congresso não
permite o aumento do IOF. O melhor seria fazer do limão a limonada, o governo
cortar na carne e cobrar do Congresso e do Judiciário a mesma atitude.
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