Marianna Holannda / Folha de S. Paulo
Brasília - Prefeito do Recife e novo
presidente nacional do PSB, João Campos defende
que o ideal para a eleição em 2026 é trazer o centro para perto e não jogá-lo
para a direita.
O jovem de 31 anos foi reeleito com 78% dos
votos ano passado numa ampla coalizão e defende que Lula (PT)
reedite a frente ampla, com Geraldo Alckmin (PSB) na vice. Mas, para isso, é
preciso atrair não apenas os partidos de centro, mas segmentos da sociedade não
polarizados em torno de uma agenda comum.
João defende uma aproximação maior da igreja,
do agronegócio, de autônomos —todos setores com os quais o governo tem
dificuldade de relacionamento.
Em convenção nesta sexta-feira (30), o PSB oficializará o prefeito como presidente nacional do partido, cargo que já foi ocupado por seu bisavô, Miguel Arraes (1916-2005), e por seu pai, Eduardo Campos (1965-2014).
Qual vai ser a prioridade da sua gestão à
frente do PSB?
A prioridade é fortalecer o partido em
diversas vertentes. É preciso ter uma capacidade de avaliação e de construir
uma agenda que gere proximidade com as pessoas, mantendo a essência do PSB, uma
luta que sempre foi por igualdade, por justiça social, por inclusão. Mas é
preciso ter força eleitoral. Não tenho nenhuma dúvida que a gente vai ser um
partido progressista com maior crescimento nas próximas eleições. Vejo
que o PSB tem um nicho muito nítido a ocupar.
A gente sabe que você está trabalhando
bastante nos bastidores para manter o Alckmin como vice na chapa do Lula no que
vem. Se isso não acontecer, o PSB vai romper com o governo e deixar de apoiar a
reeleição do Lula?
Nossa crença é que o presidente não vai mudar
o rumo. Essa construção que foi feita em 2022 foi vitoriosa. Eu não tenho
nenhuma dúvida que Alckmin reúne todos os atributos necessários para continuar
a fazer um grande trabalho pelo Brasil.
Vai ser possível reeditar uma frente ampla
ano que vem?
Eu vejo como o maior desafio do momento é
você compatibilizar a governabilidade com o eleitoral. O que está acontecendo é
uma disfunção entre a montagem do governo e o que se espelha para uma eleição.
Isso não é fácil de ser resolvido, porque você precisa ter a governabilidade,
mas o que a gente reivindica e sempre defende é que você tenha aliados
prioritários fortalecidos, porque isso lhe dá uma proteção em um campo
programático. O PSB se enxerga como um aliado prioritário e também gosta da
recíproca.
O sr. acha que Lula deveria ter feito uma
reforma ministerial ou já perdeu o timing?
Quem monta ou desmonta um governo é o
presidente. É uma atividade que sempre tem o que você ajustar, corrigir. Nossa
posição nunca vai ser uma posição de chegar numa pressão descabida, de cobrança
pública. Não é assim que se faz o governo. O bom aliado pode trabalhar
internamente, mas ele nunca vai trabalhar para querer fazer um desgaste
público.
Não é arriscado para a reeleição chegar na
disputa sem estar com os partidos de centro, como União Brasil, PP,
Republicanos, MDB e PSD?
É estranho você ter uma composição em que os
partidos estão em governo, mas declaradamente se colocam distante da reeleição
do governo. Não conte com o nosso partido para fazer algo desse tipo. É
inclusive isso que gera descrédito à política. Então, quando eu digo que os
partidos precisam ter uma avaliação crítica sobre a forma como se posicionam,
passa por aí também. Agora, há um risco real. Qualquer analista político dirá
que os partidos de centro, a sua ampla maioria, não têm uma decisão tomada
sobre 2026. E muitos apostariam que nem com o presidente [esses partidos]
estariam. Por circunstâncias de estados, de posições regionais diversas, de
lideranças internas do partido.
Mas dá para ganhar eleição só com partidos
progressistas?
Quem tá numa posição máxima de liderança tem
que representar a sua população. Eu fiz isso no Recife. Eu tive um marco amplo
de alianças. Não é fácil, mas se você faz o dever de casa de juntar, alimentar
uma pauta que não seja uma polarização excessiva, tirar o discurso do
irracional e ir colocando para o mundo prático, buscando centro para perto,
você ganha governabilidade. Então, se perguntar, João, qual é o mundo ideal? Eu
acho que o mundo ideal é que você tenha a maior frente possível na eleição de 2026
e que a esquerda tenha a capacidade de puxar o centro para o perto e não jogar
o centro para a direita. É preciso alargar mais. Fazer uma frente realmente
ampla em 2026.
O governo deveria estar cobrando maior
fidelidade desse partido?
Não é só que deveria estar cobrando. Tem que
ter uma agenda de governo que tenha a capacidade de atrair pessoas de credos
diferentes. Por exemplo, ninguém tem dúvida de que o agro no Brasil, de maneira
geral, tem uma posição majoritariamente contrária às posições do governo.
Então, não seria o caso de ter uma agenda que dialogasse de forma mais próxima
para tentar diminuir essa resistência? O governo tem feito muito em todas as
áreas, inclusive nessa. Mas muitas vezes eu acho que isso não é capitalizado,
não é construído de forma harmônica.
Mas é um problema de comunicação só?
Não, não é comunicação. O governo é
comunicação, política e gestão. Não há um grande culpado, nem um grande
salvador. O governo é muito melhor do que a leitura que as pessoas têm dele. As
ações positivas não chegam e muitas vezes as ações negativas aparecem.
A gente tem uma mudança grande estrutural do
Brasil. Essa mudança de muita coisa ao mesmo tempo, eu acho que é o tempero que
está fazendo com que as coisas fiquem mais difíceis, irracionais na política. E
o PSB vai ser o partido que vai fazer essa leitura. A gente tem que ter uma
agenda para o autônomo brasileiro, por exemplo. Porque existe uma parcela
grande da população que pensa assim. A gente tem que entender o que eles pensam
para representá-los. Então, acho que essa grande fragilidade que a política tem
atravessado é muito porque não está compreendendo que as coisas mudaram.
A esquerda está tendo essa dificuldade de
compreensão?
Isso é inegável. Mas você tem um uso
deturpado, ácido e muitas vezes desvirtuado por parte da direita. Grita, causa
barulho, mas ela não entrega. Qual foi uma política pública estruturada na área
de formação profissional, na área de desburocratização, na área de inclusão
produtiva que o governo Bolsonaro fez? Então, de um lado você tem a direita
gritando, entendendo que essa pauta existe e gritando sem entregar, e uma parte
da esquerda dizendo que essa pauta não existe ou que está errada. Eu acho,
sinceramente, que a verdade está muito mais pelo meio desse caminho.
A esquerda precisa aprender a
gritar mais?
Não acredito que seja por aí. Não vá pelo
caminho que o seu adversário quer. Vá pelo que é melhor para você fazer aquilo
que você acredita. Lembro do meu pai dizendo isso. Muitas vezes, o próprio
governo federal entra numa pauta que a oposição coloca. Quem tem que fazer a
pauta é o governo. Acho que o melhor caminho não é aumentar o volume, não.
Talvez um cancelamento de ruído seja mais adequado [risos].
O governo podia ter uma pauta com as igrejas,
por exemplo. Quase toda igreja tem um trabalho social. Se o nosso campo
trabalha tanto pela formação, pela participação popular, porque a gente não
busca uma proximidade maior para entender esse braço social que as igrejas têm
tido para chegar onde muitas vezes o Estado não chega? Acho que pode ter mais
proximidade. Para isso, não é gritando que você vai fazer, mas é enxergando
onde você pode chegar.
Quais outros segmentos o sr. acha que tem de
aproximar?
É preciso ter um diálogo forte em relação aos
grandes centros urbanos, o problema da violência urbana é um grande problema
hoje. É preciso compreender nichos do agro e comunicar o que está sendo feito.
Em algumas entrevistas que o sr. deu no ano
passado, falou da fragilidade
da polarização e como as pessoas têm demandas da vida real. Essa
lógica se aplica também na eleição do ano que vem?
Acho que a maioria da população sente um
certo cansaço da polarização. [Mas] Acho que a eleição tende a ser polarizada.
O presidente Lula também se beneficia desse
cenário de polarização, né?
Para a eleição, pode ser bom, mas para o
governo, não. A grande pergunta é, por que não trazer mais o centro para
próximo da agenda do governo? Não é o dito centrão, não são os partidos, eu
falo a sociedade, o centro da sociedade. Nem a direita ganha sozinha, nem a
esquerda ganha sozinha. Então, o que está em disputa é o centro.
O sr. vai ser candidato ao governo de
Pernambuco?
Não sei ainda. Meu foco essencial é continuar
cuidando do Recife e de poder ter clareza que o nosso conjunto político à nossa
frente vai ter um candidato ao governo de Pernambuco. E o tempo vai dizer como
é que isso vai se consolidar ou se cristalizar.
RAIO-X | João Henrique de Andrade Lima
Campos, 31
Prefeito reeleito com 78% dos votos em
Recife, é novo presidente nacional do PSB. Formado em engenharia civil pela
Universidade Federal de Pernambuco, foi deputado federal de 2019 a 2020, quando
concorreu e venceu a disputa pela Prefeitura do Recife pela primeira vez. É
filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014).
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