O Estado de S. Paulo
Mercado está ansioso sobre se o nível da
Selic é suficiente diante da força do PIB
O Banco Central vem alertando os analistas para uma possível surpresa para cima no desempenho do PIB no primeiro trimestre deste ano, puxado basicamente pelo setor agropecuário. Ao mesmo tempo, o BC vem pedindo paciência para o mercado esperar pelo efeito defasado do aperto monetário, esfriando a atividade e trazendo a inflação para baixo. Só que a resiliência da economia e do mercado de trabalho está deixando o mercado ansioso e reticente sobre se o nível da taxa Selic a 14,75% é mesmo suficiente.
Nesta sexta-feira, o IBGE divulga o resultado
do PIB do primeiro trimestre, e o consenso das projeções aponta para alta de
1,5% ante o quarto trimestre de 2024. É um ritmo diferente do que os dados da
economia em dezembro de 2024 e em janeiro deste ano sugeriam, de uma perda
maior de fôlego. De lá para cá, os indicadores vieram mais fortes do que se
imaginava – e um desempenho melhor para além da agropecuária.
Não à toa, na última semana houve uma rodada
de revisões para cima das projeções de vários economistas para o crescimento do
PIB de 2025 como um todo, com a mediana das estimativas se afastando cada vez
mais da própria previsão do BC, atualmente de expansão de 1,9%. Quem ainda no
mercado não melhorou sua projeção tem um viés para cima. O consenso está
rodando um crescimento de 2,2% neste ano, mas há quem não descarte que essa
previsão suba para 2,5%.
Se não fosse o temor de um choque na economia
global com as tarifas de importação impostas pelo presidente americano Donald
Trump, muito provavelmente a revisão para cima do PIB brasileiro em 2025
ganharia impulso. O consumo das famílias brasileiras está sólido, refletindo
uma geração robusta de vagas de trabalho e uma taxa de desemprego ainda baixa.
“A atividade no primeiro trimestre foi muito
forte, com o componente de agro bastante relevante, mas não foi só isso”, diz o
economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, cuja projeção de crescimento
para o PIB de 2025, de 2,3%, tem um viés para cima. “Todos os indicadores
coincidentes – expedição de papel ondulado, fluxo de veículos nas rodovias,
vendas em supermercados, entre outros – mostram que a desaceleração mais
profunda do início do ano foi algo pontual.”
O alerta do BC sobre a defasagem da alta
acumulada de 4,25 pontos porcentuais dos juros no atual ciclo poderá até
anestesiar o mercado, caso o desempenho do PIB neste segundo trimestre siga
acima do esperado. Mas o eletrocardiograma da economia ainda mostra uma
pulsação forte e coloca em xeque a dosagem ideal do remédio, os juros.
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