Correio Braziliense
A retaliação, ao governo, de Ciro Gomes e dos
deputados do PDT, em solidariedade a Carlos Lupi, não era esperada pelo Palácio
do Planalto, que continua na berlinda
O escândalo do INSS ganhou vida própria, e
ninguém sabe ainda como nem quando essa tunga no bolso dos aposentados e
pensionistas se resolverá. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperava
encerrar o desgaste do governo com a demissão do ministro da Previdência,
Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, e sua substituição pelo
secretário-executivo da pasta, o ex-deputado Wolney Queiroz (PDT), mas a crise
continua.
Lupi pediu demissão do Ministério da Previdência Social na última sexta-feira, após a operação da PF e da CGU que revelou fraudes no INSS. O então presidente da autarquia, Alessandro Stefanutto, foi afastado sumariamente do cargo. O novo ministro da Previdência, Wolney Queiroz, indicado por Lula, foi alvo das críticas do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), presidenciável da legenda, que faz oposição ferrenha ao presidente Lula e não tem apoio da bancada de deputados do PDT.
"O Lupi, até onde eu sei, e eu sei
muito, é um homem sério. Um homem de vida simples. Conheço, já fui à casa dele
muitas vezes. Não tem nenhum hábito, nenhum sinal exterior de riqueza",
disse Ciro. O ex-ministro criticou a nomeação de Wolney Queiroz para o comando
da pasta e responsabilizou Lula pela escalada dos descontos não autorizados nas
aposentadorias em favor de associações trabalhistas e sindicatos.
A bancada do PDT na Câmara também decidiu
romper com o governo, após reunião realizada na casa do líder do PDT na Câmara,
Mário Heringer (MG), em Brasília. Lupi participou do encontro. A bancada é
formada por 17 deputados, que decidiram ser "independentes".
O governo conseguiu evitar que os três
senadores do PDT seguissem pelo mesmo caminho. O líder da bancada, Weverton
Rocha (PDT-MA), distribuiu nota na qual afirma: "A bancada do Senado
respeita a posição da bancada na Câmara dos Deputados e, embora tenha um
posicionamento diferente, reitera que o partido segue unido em defesa dos
ideais trabalhistas".
A retaliação, ao governo, de Ciro e dos
deputados em solidariedade a Lupi não era esperada pelo Palácio do Planalto,
que continua na berlinda, porque não tem uma solução de curto prazo para o
problema dos aposentados e pensionistas, mesmo que a narrativa seja essa. O
descolamento do PDT da base do governo, embora a legenda arque com o desgaste
de Lupi, não é desprezível diante da fragilidade da base de sustentação de Lula
na Câmara.
Na busca de solução para o ressarcimento dos
aposentados e pensionistas prejudicados pela fraude, Lula, antes de viajar a
Moscou, realizou uma reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Esther
Dweck (Gestão), Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) e
Vinícius Marques de Carvalho (Controladoria-Geral da União), além do presidente
do INSS, Gilberto Waller Júnior, e do adjunto do advogado-Geral da União (AGU),
Junior Divino Fideles.
Sem respostas
A AGU e o INSS foram encarregados de elaborar
um plano de ressarcimento, que será apresentado à Casa Civil. Uma das ideias é
a criação de um canal direto para que os aposentados possam apresentar os
pedidos de reparação. A expectativa é de que a medida seja anunciada até a
próxima semana.
O problema é de onde sairá o dinheiro. Não
existe rubrica no Orçamento da União para isso, é preciso que o Congresso seja
sócio da solução. O governo quer responsabilizar as 11 entidades envolvidas no
esquema criminoso, mas as ações judiciais para o pagamento precisam seguir o
devido processo legal. A emissão de crédito extraordinário, fora do arcabouço
fiscal, é uma pedalada que aumenta a dívida pública e desagrada investidores.
Das 11 entidades investigadas na Operação Sem
Desconto, sete também receberam recursos provenientes de emendas parlamentares.
A Contag, por exemplo, possui muitos contratos e convênios com órgãos federais.
Mesmo com essas indefinições, o novo
presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, anunciou que aposentados e
pensionistas afetados não precisarão enfrentar filas ou apresentar documentos
para obter o ressarcimento. A ideia é que o modelo seja desburocratizado,
"não tenha que juntar documento algum nem enfrentar filas".
Entretanto, as investigações da CGU e da PF
ainda estão em curso. Um dos temores do governo é que se cheguem aos
empréstimos consignados, que hoje são a principal causa de inadimplência das
famílias. Todo mundo sabe que existe uma rede de corretores oferecendo
empréstimos aos aposentados e pensionistas.
Esses corretores tomam conhecimento da
concessão das aposentadorias antes mesmo dos beneficiados. Quantos foram feitos
de forma fraudulenta? Quais instituições financeiras foram alavancadas dessa
forma? Há risco de "default", ou seja, de descumprimento das
condições legais de um empréstimo, no sistema financeiro? É por isso que a
instalação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) no Congresso
assombra o Palácio do Planalto e a Febraban.
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