O Globo
Ministro entrega de bandeja nova oportunidade
de ser chamado de 'Taxad', e primeira-dama insiste em fala torta sobre
regulação das mídias
Não adianta nada trocar o comando da Secom se
integrantes do governo e do seu entorno decidem agir sem levar em conta as
consequências de suas falas para a imagem não deles, mas do próprio governo e,
em última análise, do presidente.
A gestão Lula 3 tem várias e graves crises simultâneas em franco andamento, para as quais demora ou simplesmente não consegue esboçar resposta. E o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um dos quadros mais qualificados e aquele de quem dependem o sucesso do governo e a reeleição de Lula, de novo erra em um momento que todo mundo vinha anunciando que não comportaria nenhum erro.
Haddad parece preso a uma necessidade de
provar ao mundo que está certo. A ideia de juntar o anúncio de mudanças no IOF
com o dos bloqueios e contingenciamentos de recursos do Orçamento para cumprir
a meta fiscal repete dois erros bastante recentes nos quais ele esteve
envolvido. O primeiro foi a Medida Provisória no fim de 2023 reeditando tudo
aquilo que o Congresso havia rejeitado --e isso num ano francamente favorável a
Lula e ao ministro.
O segundo foi um equívoco com o qual, na
época, o ministro da Fazenda não coadunou --o que torna ainda mais surreal que
tenha criado uma situação tão similar, e tendo a fama que tem de querer sempre
arrecadar mais. Foi a ideia de juntar as medidas fiscais do fim de 2024, também
aguardadas com impaciência e mau humor sempre exagerados por parte do mercado,
com o anúncio do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$
5 mil.
Pode haver distorções no IOF? Pode haver
ajustes? Talvez. Provavelmente, até. O momento do lançamento era aquele em que
o governo pretendia mostrar que está comprometido com a meta fiscal que ele
mesmo fixou? Certamente não. Principalmente porque um congelamento de recursos
importante, da ordem de R$ 31 bilhões de reais, fica meio diluído na ideia de
que, de novo, o governo quer cobrir as fragilidades do seu arcabouço fiscal
buscando mais e mais receita. A volta do Taxad, sem que a oposição precisasse mover
um dedo.
A mesma coisa acontece diante da insistência
de Janja da Silva em se defender do episódio da quebra de protocolo na China.
Ela insiste em três pontos, todos tortos: que sua fala seria algum tipo de
comprovação de que não é uma mulher submissa, ou decorativa; o de que não
quebrou o protocolo, e o terceiro, pior de todos, que a China é modelo para
regulação de redes sociais.
A independência de uma mulher na posição que
Janja ocupa, que não é equivalente a de um ministro ou um servidor público, não
se mede por arroubos de voluntarismo. Quem define o protocolo em uma viagem de
Estado não é ela, não são os demais integrantes da comitiva, são os corpos
diplomáticos dos dois países, em uma série de reuniões precursoras cercadas de
formalismo.
E a China é um regime autocrático, em que
existe controle estatal do que se pode dizer e publicar, e nunca pode ser
modelo de regulação para o Brasil. Isso não tem nada a ver com a necessária
discussão sobre regras que impeçam crimes nas redes sociais e protejam crianças
e adolescentes, que devem seguir as boas práticas correntes em países
democráticos.
O problema, aqui, é que não deveria ser
preciso explicar ao principal ministro e à primeira-dama que o presidente sofre
de sua mais grave crise de liderança, de imagem e de popularidade. E que essa
insistência em seguir o próprio roteiro, muitas vezes já provadamente
problemático, pode ter custos irreversíveis e prejudicar oportunidades de
colher bons frutos, como era o anúncio das medidas fiscais.
Dessa maneira, fica fácil para Nikolas
Ferreira e praticamente impossível para Sidônio Palmeira.
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