terça-feira, 27 de maio de 2025

Haddad faz o diabo - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Inicio este artigo com a questão com que concluí o último: se o governo Lula já aciona, em maio de 2025, o botão do IOF, ao que estará apelando em maio de 26?

Essa é a questão. Fernando Haddad disse que recuou – revogou parte do decreto – porque o aumento de imposto sobre aplicações no exterior “passava uma mensagem equivocada”. A mensagem foi transmitida de forma claríssima – e captada perfeitamente. Equivocada fora a decisão por instrumentalizar o IOF para estabelecer repressão financeira. Equivocada fora a decisão por instrumentalizar o IOF para elevar a arrecadação.

Um conjunto de medidas que pretendeu controlar capitais. Não flertou com o controle de capitais. Quis mesmo reprimir o trânsito de dinheiros. Essa era a intenção. As iniciativas foram pensadas para segurar a saída de recursos do País. Jogada que o ministro da Fazenda chamou de “pequeno ajuste”. E que era “estudada há bastante tempo” – havia mais de ano. Imagine se a turma não estudasse. Estudando, avaliaram que o lance desvalorizaria o dólar...

Volto à questão fundamental: se o governo encorpa o IOF agora, estará tomando nossa grana de que maneira no ano eleitoral?

Essa é a questão. Questão que fez, ao contrário, o dólar mostrar os dentes; porque o cara preferirá pagar o imposto – perder algum – para tirar os seus dinheiros daqui do que arriscar ter prejuízos ainda maiores. Exemplo melhor do “risco Brasil” não haverá. Por isso Haddad e outros estudiosos decidiram recuar – porque já colhiam a desvalorização do real.

O aumento das alíquotas do IOF não quis somente controlar capitais. O governo Lula ora aplica o Imposto sobre Operações Financeiras – que tem natureza regulatória e cuja utilização deve ser comedida – para fazer política fiscal. Para bater as metas mequetrefes que o próprio governo propôs. Para cumprir as regras frouxas do arcabouço fiscal – este presunto – que o próprio governo criou.

Não corta despesas. Congela gastos e pedala-maquia a conta. Jamais em volume a contento. E então vem tapar o buraco do puxadinho cobrando mais IOF. É disso que se trata. É disto que se trata, afinal: dinheiro extra cobrado de nós para financiar mais uma tentativa de reeleição de presidente.

Haddad, o moderado, aquele que seguraria o ímpeto gastador do Planalto, falou ao PT, na sede do partido em Brasília, na segunda, dia 19. Disse: “No ano que vem, a gente vai dar trabalho para essa extrema direita escrota que está aí. E vamos ver de novo o presidente Lula subir, mais uma vez, a rampa do palácio”.

No dia 22, quinta, anunciaria a mordida via IOF, mais um ato para cumprir a profecia de “dar trabalho”. O mesmo que “fazer o diabo”. Dar trabalho para quem? Quem trabalhará para pagar essa fatura? É isto, repito, o que se quer: grana – nossa – para tentar empurrar Lula rampa acima.

 

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