Folha de S. Paulo
Primeira-dama fez bem ao tratar com
presidente chinês da influência das redes sociais sobre os jovens
A primeira-dama Janja da
Silva tem cometido muitos erros ao longo do mandato de seu marido, que lhe
renderam a fama de deslumbrada e atrapalham o próprio governo, mas a fala
sobre a necessidade de regulação das redes sociais num jantar com o
presidente da China, Xi Jinping,
não se enquadra em um desses episódios.
As críticas da oposição à quebra de protocolo são, no mínimo, descabidas. A conversa foi muito, mas muito menos grave do que os ataques públicos e reiterados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo chinês, que até derrubaram o seu ex-chanceler.
"Ah, mas ela não deveria falar num
jantar desses." Desculpe, mas se ela foi ao jantar, não é esperado que
usasse a boca apenas para mastigar.
A preocupação com o conteúdo recebido por
crianças e adolescentes nas redes é meritória e deve ser levada às autoridades,
que podem fazer algo contra a extensa e conhecida lista de problemas causados
pelas mídias sociais, a começar por casos de depressão e suicídio.
A ficha corrida do "Hitler
da Bahia" é a prova disso. Preso desde 2024 sob acusação de crimes
digitais, como estupro virtual, incentivo à automutilação, comercialização
de imagens de pedofilia, cyberbullying, stalking e violência psicológica
contra mulher, ele não agia sozinho. Liderava 600 jovens, num dos milhares de
grupos espalhados na internet.
As empresas por trás das redes sociais pouco
se importam, desde que o conteúdo engaje o suficiente para que você e seu filho
sejam bombardeados com publicidade. Amparadas pela lei brasileira, dizem que a
culpa é de quem produz e se eximem de qualquer responsabilidade, como se não
fossem elas os veículos capazes de distribuí-lo.
O governo Lula é
minoritário no Congresso e incapaz de mudar essa lei. Faz sentido, portanto,
que Janja e o Brasil tratem do assunto em todas as instâncias possíveis e
cobrem da China uma postura mais ativa sobre o que o TikTok faz
fora de suas fronteiras.
O que não faz sentido é Lula pedir que
"uma pessoa de confiança" do governo chinês venha ao Brasil
"discutir a questão digital". Tomar como "experiência" o
que é simplesmente censura só dá munição a quem lucra, financeira ou
politicamente, com a falta de regulação das redes.
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