sexta-feira, 30 de maio de 2025

Mesmo se der errado, vai dar certo, diz Lula - Andrea Jubé

Valor Econômico

Sensação no Palácio é que com Lula está difícil, mas sem ele a derrota é certa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados vivem um turbilhão de emoções. Com a popularidade ainda ao rés do chão, Lula segue reafirmando-se um “otimista”, enquanto os petistas não escondem a apreensão com o cenário adverso, o governo fora dos trilhos e a falta de estratégia para 2026.

Uma percepção é de que Lula está cada vez mais “autossuficiente”, avesso a críticas e conselhos. “Ele [Lula] tem um plano na cabeça, mas não contou pra ninguém qual será”, comentou um petista. A situação agrava-se diante da constatação unânime entre aliados de que têm uma única carta na mão para 2026, que é Lula. “Se com ele será difícil, sem ele, vamos perder”, afirmou um aliado.

Uma leitura é de que a crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) poderia ter sido evitada se o Ministério da Fazenda tivesse dialogado com o Congresso antes da edição do decreto que elevou o tributo para empresas, previdência privada e câmbio. O episódio foi um contraponto à divulgação de outra pauta polêmica, a medida provisória (MP) de reforma do setor elétrico, que estabeleceu gratuidade ou descontos nas contas de luz para 100 milhões de brasileiros.

O texto costurado entre o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil foi discutido nos bastidores com algumas lideranças, embora o setor produtivo tenha sido excluído do debate. Uma solenidade foi organizada com o Congresso para a apresentação da proposta. Lula anunciou a medida no Palácio do Planalto, tendo ao seu lado os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), além de líderes da base governista.

Uma crítica comum aos aliados é de que o governo está cheio de pontas soltas. “Cada ministro faz o que quer, às vezes, sinto que estamos à deriva”, desabafou um deputado do PT. Enquanto Alcolumbre tem dado sinais de disposição para ajudar o governo a apagar incêndios, esta fonte lamentou que Lula não intervenha para resolver a queda-de-braço de bastidores entre o presidente do Senado e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que disputam espaços nas agências reguladoras.

Além disso, a falta de entendimento entre auxiliares de Lula ficou evidente em episódios recentes. Quando eclodiu a crise dos descontos ilegais sobre pensões e aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi a público criticar a atuação da Controladoria Geral da União (CGU), comandada por Vinícius Carvalho. “A função de qualquer Controladoria é preventiva e não punitiva”, disse Costa no começo de maio. A crise do IOF também expôs a falta de sintonia sobre a medida entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, da Casa Civil, Rui Costa, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que se manifestou contra o imposto.

Em meio a tantos desencontros, a espada sobre a cabeça dos petistas é a série de pesquisas demonstrando que mais da metade da população reprova o governo. No começo de abril, a Quaest mostrou que a desaprovação de Lula atingiu 56% dos brasileiros, enquanto 41% aprovam o presidente.

Esse levantamento captou a insatisfação da população com o preço dos alimentos, bem como um rescaldo da crise do Pix do começo do ano, quando notícias falsas levaram brasileiros a acreditar que o governo cobraria impostos sobre o uso da ferramenta. Porém, não alcançou a recente crise do INSS. A revelação dos descontos ilegais sobre os benefícios se deu em 23 de abril, e deve se refletir nas próximas pesquisas. A Quaest já saiu às ruas para fazer novas entrevistas entre 28 e 31 de maio. O resultado será divulgado em 4 de junho.

Um aliado que frequenta o entorno de Lula relativizou esses resultados. Argumenta que pesquisas qualitativas internas, encomendadas pelo governo, revelam que parte desse descontentamento vem de brasileiros que comparam a gestão Lula 3 com os governos Lula 1 e 2, que foram tempos de bonança para a maioria da população. O desafio, diz essa fonte, será estimular o confronto entre índices do Lula 3 com a gestão de Jair Bolsonaro para convencer os brasileiros de que a vida teria melhorado a partir de 2023.

Aliados ainda apostam na mudança de humor dos brasileiros até o fim do ano. Uma expectativa é que a inflação dos alimentos vai refluir. Com a gripe aviária restringindo exportações e o aumento do estoque doméstico, acham, por exemplo, que preços do frango e de ovos devem cair.

Em paralelo, Lula quer redobrar as viagens pelo país fazendo entregas. Nessa quarta e quinta-feira, recuperando-se de uma labirintite, ele fez anúncios em quatro Estados, e ainda guarda outros trunfos. Hoje lança o programa que promete médicos especialistas nos postos de saúde. Vêm aí o crédito para pequenas reformas nas casas, a gratuidade e/ou redução das contas de luz, e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Lula sempre se apresentou como um otimista. Em dezembro, disse estar “muito otimista com o que vai acontecer neste país”, citando como exemplo a isenção do IR para a faixa de renda de até R$ 5 mil. Tanto otimismo até assusta aliados. Dia desses, um petista ouviu de Lula que deveria ficar tranquilo porque “mesmo se der errado, vai dar tudo certo”.

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