Valor Econômico
Sensação no Palácio é que com Lula está
difícil, mas sem ele a derrota é certa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus
aliados vivem um turbilhão de emoções. Com a popularidade ainda ao rés do chão,
Lula segue reafirmando-se um “otimista”, enquanto os petistas não escondem a
apreensão com o cenário adverso, o governo fora dos trilhos e a falta de
estratégia para 2026.
Uma percepção é de que Lula está cada vez mais “autossuficiente”, avesso a críticas e conselhos. “Ele [Lula] tem um plano na cabeça, mas não contou pra ninguém qual será”, comentou um petista. A situação agrava-se diante da constatação unânime entre aliados de que têm uma única carta na mão para 2026, que é Lula. “Se com ele será difícil, sem ele, vamos perder”, afirmou um aliado.
Uma leitura é de que a crise do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF) poderia ter sido evitada se o Ministério da Fazenda
tivesse dialogado com o Congresso antes da edição do decreto que elevou o
tributo para empresas, previdência privada e câmbio. O episódio foi um
contraponto à divulgação de outra pauta polêmica, a medida provisória (MP) de
reforma do setor elétrico, que estabeleceu gratuidade ou descontos nas contas
de luz para 100 milhões de brasileiros.
O texto costurado entre o Ministério de Minas
e Energia e a Casa Civil foi discutido nos bastidores com algumas lideranças,
embora o setor produtivo tenha sido excluído do debate. Uma solenidade foi
organizada com o Congresso para a apresentação da proposta. Lula anunciou a
medida no Palácio do Planalto, tendo ao seu lado os presidentes do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB), além de líderes da base governista.
Uma crítica comum aos aliados é de que o
governo está cheio de pontas soltas. “Cada ministro faz o que quer, às vezes,
sinto que estamos à deriva”, desabafou um deputado do PT. Enquanto Alcolumbre
tem dado sinais de disposição para ajudar o governo a apagar incêndios, esta
fonte lamentou que Lula não intervenha para resolver a queda-de-braço de
bastidores entre o presidente do Senado e o ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira, que disputam espaços nas agências reguladoras.
Além disso, a falta de entendimento entre
auxiliares de Lula ficou evidente em episódios recentes. Quando eclodiu a crise
dos descontos ilegais sobre pensões e aposentadorias do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi a público
criticar a atuação da Controladoria Geral da União (CGU), comandada por
Vinícius Carvalho. “A função de qualquer Controladoria é preventiva e não
punitiva”, disse Costa no começo de maio. A crise do IOF também expôs a falta
de sintonia sobre a medida entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, da
Casa Civil, Rui Costa, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que
se manifestou contra o imposto.
Em meio a tantos desencontros, a espada sobre
a cabeça dos petistas é a série de pesquisas demonstrando que mais da metade da
população reprova o governo. No começo de abril, a Quaest mostrou que a
desaprovação de Lula atingiu 56% dos brasileiros, enquanto 41% aprovam o
presidente.
Esse levantamento captou a insatisfação da
população com o preço dos alimentos, bem como um rescaldo da crise do Pix do
começo do ano, quando notícias falsas levaram brasileiros a acreditar que o
governo cobraria impostos sobre o uso da ferramenta. Porém, não alcançou a
recente crise do INSS. A revelação dos descontos ilegais sobre os benefícios se
deu em 23 de abril, e deve se refletir nas próximas pesquisas. A Quaest já saiu
às ruas para fazer novas entrevistas entre 28 e 31 de maio. O resultado será divulgado
em 4 de junho.
Um aliado que frequenta o entorno de Lula
relativizou esses resultados. Argumenta que pesquisas qualitativas internas,
encomendadas pelo governo, revelam que parte desse descontentamento vem de
brasileiros que comparam a gestão Lula 3 com os governos Lula 1 e 2, que foram
tempos de bonança para a maioria da população. O desafio, diz essa fonte, será
estimular o confronto entre índices do Lula 3 com a gestão de Jair Bolsonaro
para convencer os brasileiros de que a vida teria melhorado a partir de 2023.
Aliados ainda apostam na mudança de humor dos
brasileiros até o fim do ano. Uma expectativa é que a inflação dos alimentos
vai refluir. Com a gripe aviária restringindo exportações e o aumento do
estoque doméstico, acham, por exemplo, que preços do frango e de ovos devem
cair.
Em paralelo, Lula quer redobrar as viagens
pelo país fazendo entregas. Nessa quarta e quinta-feira, recuperando-se de uma
labirintite, ele fez anúncios em quatro Estados, e ainda guarda outros trunfos.
Hoje lança o programa que promete médicos especialistas nos postos de saúde.
Vêm aí o crédito para pequenas reformas nas casas, a gratuidade e/ou redução
das contas de luz, e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5
mil.
Lula sempre se apresentou como um otimista. Em dezembro, disse estar “muito otimista com o que vai acontecer neste país”, citando como exemplo a isenção do IR para a faixa de renda de até R$ 5 mil. Tanto otimismo até assusta aliados. Dia desses, um petista ouviu de Lula que deveria ficar tranquilo porque “mesmo se der errado, vai dar tudo certo”.
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