O Estado de S. Paulo
A classe política, em particular o presidente, seu partido e o Congresso, não discutem o problema do crescimento, embora esteja na raiz das decisões que levaram aos menores investimentos públicos
O Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira subiu 1,4% no primeiro trimestre deste ano, relativamente ao 4.º trimestre de 2024, segundo o último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o assunto, divulgado na manhã de sexta-feira passada, dia 30/5. Esse resultado foi muito influenciado pelo crescimento do setor agropecuário, a uma taxa trimestral bem alta, de 12,2%. A soja já representa 50% da produção de grãos. Os serviços de informação e comunicação cresceram 3% e a indústria extrativa, 2,1%. Os serviços de transporte, armazenagem e correio, o setor de construção e a indústria de transformação caíram -0,6%, -0,8% e -1,0%, respectivamente. E oito setores não listados cresceram entre 2,5% e 0,1%, a maioria (cinco) com taxas abaixo de 1%.
Vários desses setores com menores taxas foram
também afetados negativamente pelas altas taxas de juros, com a taxa básica
historicamente alta e atualmente em 14,75% ao ano, tendo fechado o 1.º
trimestre em 14,25%, e segue sem perspectivas de queda, uma vez que a inflação
ainda não deu sinais claros de um recuo mais forte. A exemplo de 2023, quando o
PIB também cresceu muito e empurrado pelo setor agropecuário no 1.º trimestre,
o mais provável é que esse setor tenha também um desempenho negativo nos três
trimestres até o fim deste ano. Naquele ano de 2023, seus índices de produção
trimestral do mesmo setor, fazendo 1995=100, foram 359, 323, 248 e 156 do 1.º
ao 4.º trimestre do ano, respectivamente, conforme o mesmo levantamento do
IBGE.
Do lado da demanda, o consumo das famílias
cresceu 1%; o do governo, 0,1%; e a Formação Bruta de Capital Fixo, os
investimentos, subiram 3,1%, este um bom resultado, mas, sendo um resultado
trimestral, contribuiu menos para a taxa anual de investimento, que passou de
16,7% no 1.º trimestre de 2024 para 17,8% no 1.º trimestre de 2025,
permanecendo, assim, ainda baixa, pois deveria ser de pelo menos 20% e,
idealmente, próxima de 25% do PIB. Ademais, as exportações cresceram 2,9% no
trimestre, mas as importações cresceram 5,9%, estes dois resultados
enfraquecendo o PIB.
Ou seja, bom mesmo foi o resultado do
agronegócio, mas ele é sazonal e deve cair no resto do ano. Neste contexto, o
Boletim Focus, que levanta as expectativas de analistas do mercado financeiro
sobre esse e outros assuntos, na sua edição da mesma sexta-feira, publicada na
segunda-feira seguinte, reduziu sua previsão do PIB de 2,14% para 2,13%, numa
variação insignificante, mas na semana anterior já havia aumentado de 2,00%
para 2,14%, pois já se sabia da vinda de um alto produto agrícola no 1.º
trimestre. Para 2026, está prevendo 1,8%, e 2,0% nos dois anos seguintes. Essa
desaceleração do PIB, embora tida como mais provável, não é uma unanimidade.
No plano internacional, há também as
incertezas trazidas pelas tarifas de importação de Donald Trump. Um de seus
últimos movimentos ousados foi aumentar as tarifas sobre o ferro e o aço de 25%
para 50%, o que prejudicará muito o Brasil, que é um dos maiores exportadores
desses produtos para os EUA.
Outro elemento de muita incerteza no
horizonte é a situação política do presidente Lula. Sua abalada capacidade de
transitar no Congresso Nacional medidas de seu interesse, como a elevação do
IOF, a redução da conta de luz para os mais pobres, o subsídio ao consumo de
gás pelos mesmos e a regulamentação dos trabalhadores de aplicativos. Para
complicar, como candidato à reeleição, Lula continua empenhado em gastar mais
para ganhar mais voto dos eleitores. Vários desses projetos poderão ser
alterados no Congresso, em desacordo com suas conveniências, e ele poderá
escolher outros na mesma linha da gastança, num panorama em que o Orçamento
federal já está perto de uma situação em que só terá recursos para despesas
obrigatórias, de novo prejudicando gastos como os indispensáveis investimentos
em infraestrutura, com o que o crescimento econômico continuará sendo
prejudicado pela falta de investimentos públicos.
Tenho à minha frente um gráfico das taxas de
variação anual do PIB de 1947 a 2024, que mostram que a economia crescia bem
mais no período até 1980, com taxas predominando entre 5% e 10%, e a partir daí
passou a crescer bem menos, variando entre zero e 5%, e algumas taxas até
negativas, em particular na última década. Na minha avaliação, um fator que
está por trás das menores taxas pós 1980 é a queda dos investimentos públicos.
Em todo o gráfico, percebe-se que o crescimento ocorre em ciclos ou voos de galinha,
e na minha percepção e na da maioria do mercado estamos entrando na fase
descendente de mais um deles, com a taxa de crescimento caindo de perto de 3% –
que já não é muito para as necessidades brasileiras – para próxima de 2%, que é
pior ainda.
Minha frustração é que a classe política, em
particular o presidente, seu partido e o Congresso, não discutem o problema do
crescimento, embora esteja na raiz das decisões que levaram aos menores
investimentos públicos.
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