Folha de S. Paulo
México trocou nomeações por eleições; método
de recrutamento afeta sentenças emitidas
O México decidiu
mudar seu sistema de recrutamento de magistrados e fez uma megaeleição
para juízes, que envolveu mais de 2.600 cargos, incluindo os nove membros
da Suprema Corte. O pleito despertou pouco interesse da população e a maior
parte dos analistas diz que o corpo de juízes eleitos terá forte
influência do partido governista e de cartéis.
Isso tem mais a ver com o contexto sociopolítico mexicano do que com o método de seleção em si. Ainda é lícito perguntar se é preferível que magistrados sejam nomeados ou eleitos.
Nos EUA, os dois métodos convivem e já deram
ensejo a muita pesquisa. Para Sanford Gordon,
da Universidade de Chicago, magistrados eleitos respondem mais aos anseios da
população. Tendem a trabalhar mais, mas produzem sentenças de pior qualidade.
Costumam ser mais punitivistas. E o punitivismo aumenta perto de eleições.
Segundo Gordon, não dá para afirmar que um
sistema é melhor que o outro. A resposta depende do que se quer valorizar. Para
quem está mais interessado na "accountability" e na legitimidade do
sistema, eleições são um caminho. Se a sua praia é mais a independência, aí faz
sentido preferir indicações e concursos.
Podemos ir mais longe. É melhor ser julgado por juízes de carne e osso ou por
um algoritmo?
Em "Noise", Daniel Kahneman, Cass
Sunstein e Olivier Sibony, que não são profetas do Vale do Silício, afirmam em
alto e bom som que os programas são muito melhores que os humanos.
Não que os algoritmos sejam bons. O problema
é que humanos somos incapazes de formar juízos coerentes e objetivos sobre a
conduta de outros humanos. É enorme a lista de elementos que deveriam ser
irrelevantes numa sentença, mas que afetam as decisões de magistrados. Eles vão
do nível de glicose no sangue aos sobrenomes conhecidos que figuram entre os
defensores do réu. Qualquer coisa é melhor do que isso.
No caso do Brasil, há um argumento adicional:
grande parte do 1,33% do PIB que o país gasta com o Judiciário vai para
salários e penduricalhos
de juízes.
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