Folha de S. Paulo
Entre Lula e seus pares, Motta e Alcolumbre
ficam com quem lhes deu o comando do Parlamento
Por incrível que pareça, o governo ainda
subestima o Congresso mesmo depois de os fatos terem dado
repetidas mostras de que essa desatenção resulta em derrotas certas.
O presidente da República e o ministro da
Fazenda pelo visto acreditaram que a mudança de comando no Parlamento alteraria
a correlação de forças, devolvendo ao Palácio do Planalto o poder da
iniciativa, da influência e da condução do processo decisório.
Só essa crença explica que Fernando Haddad (PT) tenha achado que poderia dar um drible no Legislativo e Luiz Inácio da Silva (PT) tenha assinado decreto de aumento do IOF fiando-se na amizade de Hugo Motta (Republicanos) e Davi Alcolumbre (União Brasil) firmada nas asas do avião presidencial mundo afora.
Se Lula e Haddad ainda não entenderam, desenhemos: os
presidentes da Câmara e do Senado só
estão onde estão devido à escolha de seus pares, aos quais darão prioridade
sempre que o governo lhes fornecer uma chance de ouro como essa agora de dar um
jeito nas contas via aumento de arrecadação.
A propagada lua de mel não foi extinta, mas
recebeu uma pitada significativa de fel nas palavras duras de Alcolumbre sobre
"usurpação de prerrogativas" e nos recados veementes de Motta: deu
prazo para o governo recuar sob pena de ver o decreto derrubado, instou Lula a
"tomar pé da situação" e avisou que, se houver recurso ao Supremo
Tribunal Federal, as coisas vão piorar.
Nenhum dos dois se convenceu com a alegação
do ministro sobre "a situação delicada" em que ficaria a máquina
pública sem o dinheiro extra do IOF. Nem poderiam, pois ouviram isso do mesmo Haddad que
vinha afirmando que estava tudo correndo bem em termos do equilíbrio fiscal e
que os alertas em contrário eram fruto de avaliações equivocadas.
Por mais que o ministro tenha reafirmado que
não há alternativa no horizonte, ficou sem saída. Terá de recuar porque o
limite das boas relações com Motta e Alcolumbre é dado pela capacidade de
reconhecer a força do Congresso na tomada de decisões do governo.
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