O Globo
Parlamentares ignoram ajuste fiscal e vontade
do eleitor ao criar 18 novas vagas na Câmara
O Congresso decidiu dar sua cota de
sacrifício para o ajuste fiscal. Vai abrir 18 novas vagas de deputado. A medida
foi aprovada com votos de todos os grandes partidos. Numa estimativa
conservadora, custará R$ 65 milhões por ano, sem contar a dinheirama das
emendas parlamentares.
Em 2023, o Supremo decidiu que a Câmara
deveria redimensionar as bancadas com base no último Censo. Estados que
registraram aumento populacional teriam direito a mais representantes. Estados
que encolheram teriam que ceder parte de suas vagas.
Para não deixar ninguém triste, a deputada Dani Cunha, do União Brasil, propôs uma solução alternativa. Em vez de redistribuir as cadeiras existentes, a Câmara poderia instalar novos assentos no plenário. A ideia colou, e agora o total de deputados subirá de 513 para 531 a partir da próxima eleição.
Segundo o Datafolha, 76% dos brasileiros são
contrários ao projeto da filha de Eduardo Cunha. Mesmo assim, ela conquistou o
apoio dos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Na
quarta-feira, os dois juraram que não haverá aumento de despesas para o
contribuinte. Faltou explicar se o dinheiro extra vai cair do céu ou brotar no
gramado da Esplanada.
Na primeira votação na Câmara, em maio, Suas
Excelências deixaram claro que não estavam preocupadas com a reação dos
eleitores. “O verdadeiro político não toma atitudes para ficar bem com o povo”,
pontificou Luciano Alves, do PSD. Ele instou os colegas a não terem “medo de
“apanhar na rede social”. “Meu pai falava assim: ‘Se tem medo de fazer cocô,
não coma’ ”, filosofou.
Deputados de estados que deveriam perder
cadeiras apelaram a argumentos paroquiais. “Não podemos aceitar esse novo golpe
contra nosso estado”, bradou Otoni de Paula, do MDB do Rio. “Estou aqui
defendendo o Piauí”, emendou o petista Merlong Solano.
Bem treinada, a filha de Cunha apostou no
espírito de corpo dos colegas. Segundo ela, redistribuir as cadeiras sem mexer
no número de deputados seria “uma atitude egoísta”. “Precisamos ser solidários
uns com os outros”, discursou. Papai deve ser orgulho só.
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