Gabriel Roca e Victor Resende / Valor Econômico
Embora ambiente externo domine ativos no
curto prazo, sensação de que sucessão eleitoral já começa a entrar nos preços
não pode mais ser ignorada
A divulgação da pesquisa Quaest desta quarta-feira era esperada por inúmeros profissionais de mercado silenciosamente. Não à toa. Nos últimos meses, toda e qualquer reunião com gestores, diretores de investimento ou tesoureiros de instituições financeiras começa com um parecer certeiro ao se falar sobre o cenário doméstico: ainda falta muito para as eleições de 2026 e o mercado está se antecipando ao falar sobre o assunto agora. No entanto, o decorrer da conversa, que, outrora, seria preenchido por previsões para a atividade econômica, política monetária e “valuation” dos ativos, acaba sendo fatalmente atravessado por cenários eleitorais, pesquisas de intenção de votos, popularidade do governo e medidas em curso que podem afetar as chances de cada candidato em 2026 - ainda que ninguém possa cravar quais são eles.
O diagnóstico é cada vez mais óbvio: para o
mercado, as eleições presidenciais estão a anos-luz de distância e, ainda
assim, é quase impossível falar sobre outra coisa. Embora o cenário externo
ainda domine a percepção sobre o comportamento dos ativos no curto prazo, a
sensação de que o cenário eleitoral já começa, aos poucos, a entrar nos preços,
não pode mais ser ignorada.
Ainda que publicamente evitado na Faria Lima
e no Leblon, o tema passou a ser comentado com menor discrição, nas últimas
semanas, por alguns agentes do mercado, sobretudo estrangeiros. O último
exemplo foi o Morgan Stanley, que, após
apontar que via espaço para um rali do Ibovespa até os 189 mil pontos com
“expectativas de mudança de política” à vista, disse esperar um aumento
da volatilidade à medida que o país entra na janela de 12 meses antes da
eleição, projetando alguns picos nos prêmios de risco eleitorais diante da
divulgação de pesquisas de opinião.
Na prática, o mercado já começa a se preparar
para o período eleitoral e para um potencial período de maior instabilidade no
comportamento dos ativos a depender de futuros levantamentos de popularidade e
de intenção de voto, à medida que forem sendo divulgadas. Em
janeiro, os investidores já mostraram alguns sinais de que estavam atentos ao
cenário político, mas o exterior, com as medidas de Donald Trump, passou a
dominar os negócios logo depois.
Uma pergunta que perpassa as discussões entre
os investidores agora é: qual é a probabilidade de mudança de governo que já
está embutida nos preços dos ativos locais neste momento? A resposta é menos
certa do que quais serão os candidatos em 2026.
Para aqueles que advogam de modo contrário à
ideia de apostar em uma alternância de poder, a prematura discussão sobre 2026
nada mais é do que a necessidade de encontrar um motivo para estender o rali
observado nos preços dos ativos locais, que ganharam impulso desde abril com o
enfraquecimento do dólar e pelo movimento de rotação nas carteiras dos
investidores estrangeiros.
Argumentam que a máquina pública ainda exerce
peso extremamente relevante para o desfecho das eleições e que o mercado
deveria se preparar com maior cautela para a elaboração de novas políticas que
possam estimular a demanda — e, como consequência, piorar a trajetória da
dívida.
Há poucas reservas ao se apontar que a
candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, salta, de longe,
como a preferida. No entanto, há baixa convicção neste momento sobre se ele
será o escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como herdeiro de seu capital
político para enfrentar o atual governo no ano que vem.
Em conversa reservada, um importante
interlocutor de um grande banco diz acreditar que esse é um dos grandes
entraves a um rali ainda mais potente dos ativos brasileiros ao se pensar nas
eleições do ano que vem. “O mercado ainda não aposta de maneira convicta que
Tarcísio será o candidato. Se ele for o escolhido para a disputa, o mercado já
passaria quase automaticamente a precificar uma vitória dele contra Lula”,
aposta.
É algo que está na mente de muitos agentes do mercado, ainda que não indiquem de forma aberta.
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