O governo perde cada vez mais espaço de liberdade para governar. As despesas discricionárias ou não obrigatórias tenderão a ser negativa a partir de 2027. Temos, no Brasil, o orçamento mais engessado do mundo. Há mecanismos automáticos, retomados após a revogação do “Teto de Gastos”, que estabelecem vinculações das despesas de saúde e educação às receitas correntes e a indexação aos aumentos concedidos ao Salário-Mínimo, sempre acima da inflação, do piso da previdência, BPC, Auxílio Desemprego e Abono Salarial.
Estas despesas somadas à folha salarial dos servidores
públicos federais civis e militares, às outras despesas previdenciárias e ao Bolsa
Família, representam quase 95% do gasto, e, em 2027, chegarão, junto outras
despesas obrigatórias (precatórios, emendas parlamentares e Fundo do Distrito
Federal), à 100% da despesa total. Ou seja, não haverá dinheiro para
investimentos e para o custeio da máquina (luz, água, telefonia, internet,
combustível, aluguéis etc.). Imaginem as Forças Armadas sem munição, o IBAMA e
a Polícia Federal sem gasolina, o PAC zerado e os Ministérios sem pagar a conta
de energia? Parece caricatura, mas é para lá que caminhamos.
O presidente da República tem, em 2025, após o
abatimento dos mais de 800 bilhões de reais de renúncias fiscais (despesas
tributárias) e das transferências constitucionais a estados e municípios, 2
trilhões e trezentos bilhões de reais de receita primária líquida para governar.
Dadas as amarras orçamentárias com gastos obrigatórios que crescem acima da
receita restam apenas 60 bilhões para o PAC, conjunto de investimentos em
infraestrutura e ciência e tecnologia alavancadores do futuro do país.
Ainda assim, o governo fechará as contas de
2025 no vermelho, mesmo o ministro Haddad e sua equipe buscando receitas extras
a todo o tempo e manejando bloqueios e contingenciamentos em um orçamento já
muito restrito.
O anúncio surpreendente do aumento do IOF
como mais uma medida para atenuar o déficit foi o novo capítulo da novela
fiscal. Imposto de natureza regulatória e não arrecadatória, de má qualidade
por seus efeitos ruins na economia e na formação das expectativas dos agentes
econômicos. Resultado: rejeição quase
unânime na sociedade e no Congresso Nacional.
Diante disto, os presidentes Hugo Motta e
Davi Alcolumbre chamaram a si a tarefa de construir uma alternativa mais ampla
e duradora para o equilíbrio fiscal. O objetivo não é compensar o imaginado
aumento do IOF, mas garantir a sustentabilidade fiscal nos próximos anos, para
além de remendos paliativos e improvisados.
A situação fiscal brasileira é extremamente delicada e as saídas são complexas. O foco deveria orbitar em torno de três objetivos: i. flexibilizar o orçamento; ii. estancar o crescimento da dívida pública; e, iii. ampliar significativamente o investimento público visando a retomada do desenvolvimento sustentado.
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