Revisão completa de renúncias fiscais se tornou mais urgente
O Globo
Estimativa da Receita eleva em 47%, para R$
800 bilhões, o total de isenções de impostos federais em 2025
Têm sido recorrentes, desde o início do atual governo, as tentativas do Ministério da Fazenda de cobrir rombos fiscais com aumento de impostos, num esforço por ampliar a arrecadação, em vez de promover um programa de controle de gastos confiável. A alta no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é apenas a última medida num rol extenso que inclui taxas sobre importações via internet, gasolina e etanol, diesel e biodiesel, exportações de petróleo, apostas esportivas, armas e munições, painéis solares, veículos elétricos e híbridos, fundos exclusivos e offshore, além de medidas para aumentar a base de cobrança de impostos sobre o lucro das empresas. A lista é longa, não para de crescer — mas, curiosamente, não inclui a oportunidade mais óbvia diante do governo: uma revisão exaustiva das renúncias e isenções fiscais que beneficiam toda sorte de setor da economia.
Conhecidas como “gastos tributários”, tais
isenções apresentam duas características nefastas. Primeiro, não param de
crescer. Segundo, não são submetidas a avaliações periódicas para verificar se
funcionam. Basicamente, os grupos que obtêm benefícios usufruem uma benesse
vitalícia — daí o apelido “bolsa empresário”.
Apenas as renúncias fiscais do governo
federal somam 4,8% do PIB. Levando em conta estados e municípios, o total chega
a 7,2%, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (Ibre/FGV). A Constituição determina que não passem de 2% do PIB, mas o
último ano em que isso aconteceu foi 2005. A situação pode ser ainda mais
dramática, de acordo com números da própria Receita Federal noticiados pelo
jornal Valor Econômico. Com base numa documentação recém-criada obrigando
empresas a declarar quanto usufruem de benefícios fiscais, o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, estimou que apenas as renúncias federais alcancem R$
800 bilhões em 2025, em vez dos R$ 544,5 bilhões previstos no Orçamento. “Se a
informação prestada pelas empresas for fidedigna, o custo dessa política é
muito maior”, diz o economista Manoel Pires, do Ibre/FGV.
Por esse cálculo, só as renúncias da União
passam de 7% do PIB. Só para a Zona Franca de Manaus, as isenções somam R$ 54,8
bilhões, em vez dos R$ 29,9 bilhões previstos no Orçamento. No caso do Programa
Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), R$ 18 bilhões, em vez de
R$ 5,7 bilhões; do Regime Especial de Incentivos ao Desenvolvimento de
Infraestrutura (Reidi), R$ 5,8 bilhões, e não R$ 1,1 bilhão. Há isenções para
profissionais liberais que recebem por meio do Simples, indústria automotiva, farmacêutica
e dezenas de outros setores.
Todo país concede benefícios tributários a
setores considerados estratégicos. Mas é preciso avaliá-los periodicamente para
cortar o que é desperdício ou injustiça. Em 2019, foi instaurado o Conselho de
Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas com esse objetivo. Desde então,
ele realizou diversas avaliações, mas nenhuma resultou em revisão das
renúncias.
“Não se pode achar que a redução de gastos
tributários será a chave para o equilíbrio fiscal”, afirma o economista Marcos
Mendes. O desequilíbrio, diz ele, vem sobretudo do crescimento já contratado
nos gastos primários. Mas é evidente que o país só teria a ganhar deixando de
subsidiar atividades que não dão retorno e derrubam a produtividade. E não
apenas em arrecadação.
Operação em Mato Grosso revela desafio de coibir ‘cyberbullying’
O Globo
Enfrentar crimes em que vítimas e algozes são
menores exige ação de autoridades e plataformas digitais
O êxito da operação da Polícia Civil de Mato Grosso na
desarticulação de um grupo suspeito de praticar violência contra
crianças e adolescentes pelas redes sociais expõe a dimensão do desafio diante
de autoridades, plataformas digitais e famílias para coibir o crime de
cyberbullying.
A Operação Mão de Ferro 2 cumpriu mandados de
busca e apreensão em 12 estados, fez três prisões preventivas e apreendeu seis
menores de idades, um deles de 15 anos, acusado de comandar ações criminosas
nas redes sociais, entre elas indução à automutilação e ao suicídio. Havia
produção, armazenamento e distribuição de pornografia infantil, apologia ao
nazismo, além de invasão de sistemas digitais. O mais velho dos adolescentes
tem 17 anos de idade.
Aquele que é considerado líder do grupo foi
detido em Rondonópolis (MT) e já era conhecido da polícia. De classe média, é
estudante de escola estadual. Uma adolescente de 16 anos, moradora de Sinop
(MT), era usada para instruir vítimas sobre técnicas de automutilação sem
deixar marcas ou causando menos dor. Todos são acusados de extorquir as vítimas
depois de acessar seus dados pessoais. Ganhavam a confiança de outros
adolescentes para receber fotos com nudez, depois usadas para forçá-los,
mediante chantagem, a praticar atos degradantes. A uma mãe que ameaçou
denunciá-los, o jovem criminoso disse saber a idade dela e onde a família
morava.
Há poucas semanas, morreu uma menina de 8
anos no Distrito Federal por ter aspirado desodorante num “desafio” repugnante,
disseminado pelo TikTok, a quem inalasse a maior quantidade do produto químico
no menor tempo. Outros “desafios” do mesmo tipo circulam nas redes sem que as
plataformas digitais assumam suas responsabilidades para coibi-los.
Em janeiro, entrou em vigor a lei que proíbe
celulares e aparelhos eletrônicos portáteis nas escolas, a não ser para uso
pedagógico. Mas as ameaças que chegam às telas de crianças e adolescentes
circulam no meio digital 24 horas por dia, não só no horário escolar. No início
do ano passado, o governo sancionou lei que incluiu no Código Penal os crimes
de bullying e cyberbullying contra menores. Se cometidos pela internet, a pena
pode chegar a quatro anos de prisão.
Como mostra o caso de Mato Grosso, esse tipo
de crime envolve crianças e adolescentes como vítimas, mas também como algozes.
É essencial que as plataformas digitais sejam corresponsabilizadas pelo
conteúdo que fazem circular em suas redes. Só assim tomarão as medidas
necessárias para desestimular a criminalidade juvenil que cresce de forma
dissimulada atrás das telas.
Ataques populistas ressaltam importância da
ordem liberal
Folha de S. Paulo
Trump investe contra o poder do Congresso na
definição das tarifas e pôe-se a restringir vistos com ânimo persecutório
A importância da ordem liberal para a
estabilidade política e o avanço econômico passou mal percebida por várias
décadas, até que o tufão nacional-populista dos últimos anos a escancarou por
contraste.
O respeito às regras do jogo institucional e
a fragmentação do poder de Estado entre atores que se complementam e se limitam
configuram dois pilares daquele ordenamento ora sob ataque de políticos como o
presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump.
No espírito liberal que inspirou a evolução
de quase 250 anos de história nacional independente, um tribunal dos EUA
especializado em comércio externo julgou na quarta-feira (28) ilegais os
poderes invocados por Trump para tributar a seu bel-prazer as importações de
outros países.
O mandatário republicano vociferou e acusou
os juízes de parcialidade, mas só conseguiu evitar o vexame de ver derrubada a
sua plataforma regressista de fechar a economia americana recorrendo
ao mesmo Judiciário.
Já na definição de que cidadãos estrangeiros
podem entrar e permanecer nos Estados Unidos, o Executivo federal tem, por
desenho legal, maior arbítrio. Não por acaso, nesse terreno Trump pratica
alguns de seus maiores desatinos, ao perseguir estudantes de certas
nacionalidades e penalizar em especial os que tentam ingressar na Universidade
Harvard.
Na mesma quarta, o Departamento de Estado
anunciou que passará
a negar vistos de entrada no país a autoridades estrangeiras que
tiverem contribuído para "censurar" cidadãos ou empresas em solo
norte-americano. Pareceu à primeira vista sobretudo uma medida para auxiliar as
grandes plataformas de internet dos EUA, que sofrem pressões regulatórias em
outras nações.
Há quem também tenha entendido tratar-se de
retaliação aos ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro, que têm tomado
decisões, como a de suspender perfis em redes sociais, atingindo direta ou
indiretamente as big techs. Será difícil esclarecer a dúvida, dada a natureza
opaca do sistema de decisão sobre vistos.
De todo modo, se foi apenas isso que o
deputado federal licenciado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP) conseguiu com suas perambulações no trumpismo, ele
se mostrou mais eficiente como preparador de hambúrgueres do que como lobista
nos Estados Unidos.
Esse desfecho prosaico torna ainda menos
compreensível a
abertura de inquérito, a pedido da Procuradoria-Geral da República, para
investigar sabotagens antidemocráticas que o filho do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) teria praticado em território americano. É dar importância
demais a um político infantiloide.
Na ordem liberal, cada um deveria ater-se a
seu papel. Da mesma forma que o presidente dos EUA não deveria pôr-se a definir
sozinho tarifas comerciais —um poder que lá pertence ao Congresso—, não cabe ao
Judiciário brasileiro fazer política externa. Essa é uma tarefa precípua do
Palácio do Planalto e do Itamaraty.
Putin redobra aposta militar para negociar
com a Ucrânia
Folha de S. Paulo
Rússia eleva ataques e ameaça ofensiva
visando posição favorável em conversas de paz, mas rumo da guerra depende dos
EUA
Já contando três anos e três meses, a Guerra
da Ucrânia chega
a mais um incerto e perigoso ponto de inflexão com as truncadas tentativas de
negociação entre Moscou e Kiev.
Por óbvio, o simples fato de haver conversas
já é um avanço, dado que elas haviam sido abandonadas oficialmente após março
de 2022, pouco depois da invasão promovida por Vladimir
Putin contra seu vizinho.
É forçoso reconhecer que Donald Trump,
a despeito de todo o voluntarismo e falta de substância, foi o artífice do
momento atual ao retirar o apoio incondicional dado pelos EUA aos ucranianos e
aproximar-se do Kremlin.
A defesa de Kiev é moralmente correta, mas no
grande jogo da geopolítica nem sempre o que é certo funciona. A guerra havia
chegado a um ponto de atrito insuperável: nem Putin nem o ucraniano Volodimir
Zelenski tinham condições de impor uma derrota decisiva ao adversário.
Assim, que as
partes conversem é alvissareiro. A má notícia é que a falta de um
plano coerente por parte de Trump jogou a condução da negociação no colo de
Putin, que a protela ou avança a seu bel-prazer. Com isso, em vez de uma paz
justa, caminha-se para justificação do uso da força.
Os dois beligerantes entendem isso. A Ucrânia
passou duas semanas na mais intensa campanha de guerra aérea com drones contra
alvos russos. Recebeu da sempre recalcitrante Alemanha a promessa da construção
conjunta de mísseis de longo alcance.
Só que, se não conseguiu conquistar Kiev,
Putin tem a mão mais forte. Assim, o russo redobrou a aposta na violência,
executando no fim de semana passado os
maiores bombardeios da guerra, com efeitos devastadores.
Mais importante, concentrou cerca
de 50 mil soldados junto à fronteira nordeste da Ucrânia e já começou
ataques exploratórios na região de Sumi, telegrafando uma grande ofensiva no
verão do Hemisfério Norte, que começa agora em junho.
Pego em sua ingenuidade, Trump
reagiu. Chamou Putin de louco e disse suspeitar que
o russo o estava enganando. Ao dar uma semana para a Rússia provar
boa vontade, deu a senha ao Kremlin, que sugeriu uma nova rodada de conversas
com os ucranianos e transferiu o ônus da intransigência aos ucranianos.
Se isso seria ruim para uma Rússia atrás de
normalização econômica caso Trump apele para novas sanções, pode ser
fatal para Kiev, que depende da ajuda militar dos Estados
Unidos para sobreviver.
Do limão, uma limonada
O Estado de S. Paulo
Ao reconhecer o desequilíbrio estrutural da
peça orçamentária, o presidente da Câmara dá passo essencial para corrigir a
rota e discutir reformas que tragam racionalidade ao gasto público
Se há um aspecto positivo a ser destacado na
crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é a admissão da
inviabilidade do Orçamento Geral da União pelo presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB). Após se reunir com os líderes da Casa na quinta-feira
passada, o deputado afirmou haver uma consciência no Legislativo de que o
Orçamento “não sobreviverá da forma que está”.
Na noite anterior, ele expressou ao governo a
insatisfação da Casa com a publicação do decreto presidencial. Após ouvir as
explicações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as razões que
motivaram a edição do ato, ele se comprometeu a não pautar, de imediato,
projetos para sustá-lo. Ainda na reunião, ficou acertado que todos, inclusive a
Câmara, vão trabalhar na construção de alternativas que tragam mais
racionalidade ao gasto público.
“Estamos defendendo que venham medidas mais
estruturantes, que o Brasil possa enfrentar aquilo que é preciso”, afirmou
Motta, citando a revisão de isenções fiscais, a desvinculação das receitas e a
necessidade de uma reforma administrativa, temas que até então eram
“proibitivos” na Câmara, segundo ele. “Só isso irá ajudar a melhorar o ambiente
econômico para que o Brasil possa ter cada vez mais a condição de explorar o
seu potencial e ser o País que cresce e se desenvolve com justiça social,
geração de empregos e renda”, acrescentou.
A admissão da existência de um desequilíbrio
estrutural entre gastos e despesas pelo presidente da Câmara é um passo
necessário rumo à correção dessa rota. Como o próprio governo já admitiu ao
enviar ao Legislativo o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) deste
ano, faltará dinheiro para manter a máquina pública já em 2027. A continuar no
ritmo atual, os gastos obrigatórios devem tomar o espaço das despesas
discricionárias, nas quais se incluem, além de emendas parlamentares e
investimentos, dispêndios tão diversos como bolsas para estudantes,
pesquisadores e atletas, o Farmácia Popular e faturas de energia de edifícios
públicos, entre outros.
Por óbvio, rever a dinâmica do gasto público
não é fácil. As tentativas da equipe econômica de acabar com benefícios
fiscais, como o fim da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da
economia, foram mal recebidas pela maioria dos parlamentares, enquanto as
poucas iniciativas para dar mais racionalidade a despesas com trajetória
explosiva, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), foram dinamitadas
por deputados do próprio PT, partido do presidente Lula da Silva.
Seria ingenuidade esperar que algo dessa
natureza possa avançar no Legislativo a menos de um ano e meio das eleições,
mas o calendário eleitoral não é um impeditivo para a construção de uma agenda
para o futuro do País. Prova disso foi a promulgação das reformas da
Previdência, em 2019, e tributária, em 2023. A primeira foi aprovada na
administração Jair Bolsonaro, mas apresentada na gestão Michel Temer. A segunda
foi fruto de propostas de emenda à Constituição da Câmara e do Senado
protocoladas em 2019, mas só foi apreciada no governo Lula da Silva após ser
endossada pela equipe econômica.
Projetos de cunho estrutural têm um tempo
próprio de amadurecimento no Congresso. O fato de uma proposta não ser votada
não necessariamente significa a ausência de discussões profícuas sobre ela, mas
sim a falta de consenso e, consequentemente, de votos suficientes para
aprová-la naquele momento. Passaram-se anos até que fosse possível aprovar, por
exemplo, o Marco do Saneamento e a autonomia do Banco Central.
Motta frisou que o País não aceita mais
aumento de impostos. Isso é indiscutível, mas é preciso ir além. Na semana
passada, ele criou formalmente um grupo de trabalho para debater a reforma
administrativa e sinalizou a possibilidade de criar, também, um grupo de
trabalho para rever as isenções fiscais. Em ambos os casos, este jornal espera
que haja ambição. Essas discussões provavelmente não resultarão em corte
imediato de gastos, mas é evidente que uma reforma, para ser digna do nome,
precisa almejar um Estado mais eficiente no longo prazo – ou seja, um Estado
que respeita o dinheiro do contribuinte.
A crise crônica das universidades federais
O Estado de S. Paulo
MEC dá algum alívio a institutos e
universidades federais, mas cenário reforça a necessidade de algo maior: criar
um modelo que garanta sustentabilidade orçamentária às instituições
O ministro da Educação, Camilo Santana,
anunciou um cardápio variado para tentar aplacar a asfixia financeira de
institutos e universidades federais: a recomposição de R$ 400 milhões no
Orçamento deste ano, a liberação de outros R$ 300 milhões referentes a repasses
de custeio, que estavam retidos por decreto, e a promessa de voltar ao ritmo de
repasse mensal às instituições. Tudo somado, trata-se de algum alívio,
sobretudo para aquelas financeiramente à míngua, mas nem de longe resolve o
problema mais grave, a partir do qual se produzem muitos outros: a
sustentabilidade. Algo que garanta o elementar de qualquer gestão – a
previsibilidade, o planejamento, a eficiência e a qualidade, sem o que as
universidades públicas não produzirão ensino e pesquisa qualificados, como se
espera delas.
O que é imprescindível, portanto, ainda segue
apenas como compromisso para o futuro, reafirmado pelo ministro aos reitores e
entidades que assistiram ao seu anúncio: a construção de um projeto que garanta
sustentabilidade ao ensino superior, da mesma forma que a educação básica tem
com o Fundeb. Enquanto esse futuro não chega, será imprescindível voltar ao
passado: hoje as universidades e institutos federais pagam, em grande medida, o
preço da política de expansão desenfreada promovida pelos governos lulopetistas,
empenhados em espalhar câmpus sem condições materiais e financeiras para seu
funcionamento e manutenção.
No caso das federais, muitos dos novos câmpus
nasceram da transformação de unidades de ensino em “novas universidades”. Uma
faculdade de Medicina no interior, por exemplo, foi transformada em
universidade, obrigando a criação de mais cursos, burocracia e infraestrutura,
gerando mais despesas de custeio. Com isso aprofundou-se um déficit acumulado
de muitos anos, que se traduz em dificuldades perversas, sobretudo no chamado
orçamento discricionário, que paga o custeio das instituições, incluindo
despesas rotineiras como água, luz, internet, limpeza, vigilância e manutenção
predial.
Na ânsia de anunciar cifras e obras, os
governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff deixaram em segundo plano questões
essenciais como o modelo de ensino e os papéis que universidades federais e
institutos federais de educação, ciência e tecnologia têm para a formação de
estudantes, a pesquisa e a qualificação profissional. Também menosprezaram a
necessidade, já tardia, de atualizar currículos e propósitos e aperfeiçoar a
trajetória de jovens que saem de um ensino médio deficiente para uma formação
superior em grande parte obsoleta. E assim o Brasil seguiu com três cacoetes
históricos: a crença num modelo único para a educação superior, o devaneio de
que a universidade é para todos e o preconceito contra a educação
profissionalizante.
Por óbvio em razão das umbilicais ligações do
PT com o sindicalismo, seus governos também jamais enfrentaram o corporativismo
de professores e servidores públicos em geral, que costumam sentir urticária
com qualquer tentativa de debate sobre produtividade e eficiência. Os dados
mais recentes do Censo da Educação Superior, de 2023, mostram, por exemplo, que
cada professor das universidades e institutos federais forma, em média, apenas
1,26 aluno por ano. O leitor não leu errado: naquele ano, cerca de 147 mil
estudantes concluíram cursos de graduação, com 117 mil docentes em atividade.
Embora muitos desses professores também deem aulas na pós-graduação, a grande
maioria ainda dedica boa parte de sua carga horária à graduação, onde há
números preocupantes de evasão e baixa taxa de formatura. A relação entre o
custo das instituições e o número de alunos também é desabonadora.
O fato é que, sob qualquer ótica, a
eficiência nessa área é baixíssima, problema que se torna ainda mais agudo
porque desde 2014 o Estado brasileiro vive em crise fiscal permanente – o que
amplia a pressão para cortes no Orçamento, realimenta a penúria já existente e
exige ainda mais disciplina fiscal e capacidade de gestão e manejo dos
recursos, atributos em falta no nível federal. Um ciclo de desserviço contra o
ensino superior público. Se há instituições federais “respirando por
aparelhos”, como disse uma delas, ainda estamos longe de ver um tratamento
definitivo para eliminar a insegurança orçamentária e tirá-las de fato da UTI.
Mais gás para o rombo fiscal
O Estado de S. Paulo
Lula insiste em triplicar distribuição de
botijões, mesmo sem ter de onde tirar recursos
Sem saber de onde tirar dinheiro para bancar
a ampliação da distribuição gratuita de botijões de gás de cozinha (GLP), uma
das apostas de Lula da Silva para angariar simpatia – e o voto – na campanha
presidencial de 2026, técnicos do governo buscam restringir a cerca de 16
milhões de famílias o público a ser atendido, como noticiou o Estadão. Já
equivaleria ao triplo das 5,5 milhões do catálogo atual do benefício. Mas Lula
continua a anunciar que o programa chegará, ainda neste ano, a 22 milhões de
famílias, incluídos aí todos os beneficiários do Bolsa Família.
O descrédito fiscal do governo vem tão
somente de suas ações. Ao mesmo tempo que apela a gambiarras tributárias, como
a proposta de aumento do IOF, para tentar conter o déficit público no limite
permitido pelo arcabouço, a gestão lulopetista abraça o propósito de
multiplicar a distribuição de auxílios. Note-se que o esforço atual da equipe
econômica não é para entregar um resultado positivo em 2025, mas para confinar
o prejuízo a 0,25% do PIB, ou R$ 31 bilhões. No ano passado, o déficit nas
contas públicas foi de R$ 43 bilhões.
Mas isso não parece alarmar Lula da Silva,
mais preocupado em posar de distribuidor de benesses assistenciais que criam a
imagem ilusória de combate à desigualdade social. Na verdade, agigantados por
Lula, esses programas tendem a criar uma dependência exagerada da população ao
governo sem atacar as causas da desigualdade, fincadas em questões há muito
conhecidas, como os investimentos insuficientes em saúde, educação,
qualificação e, claro, a má gestão de recursos públicos.
Para promover de forma competente a igualdade
social seria preciso uma visão de longo prazo que Lula não quer ter. Sua mira
está focada nos efeitos imediatos de um Estado provedor, embora não haja
recursos públicos que banquem seu instinto gastador. Em evento numa cidade do
Mato Grosso no dia 24 passado, por exemplo, anunciou que todos os beneficiários
inscritos no Cadastro Único não precisariam mais precisar pagar pelo gás.
Em março, 40,8 milhões de famílias estavam
registradas no CadÚnico, a porta de entrada da população de baixa renda aos
programas sociais do governo. Pelos dados oficiais, são 93,7 milhões de
brasileiros beneficiados por algum tipo de auxílio, ou seja, em torno de 45% de
toda a população, estimada pelo IBGE em 212 milhões.
Não há definição sobre a fonte dos recursos
para o programa “Gás para Todos”, que o governo pretende lançar até setembro. O
Ministério da Fazenda defende a inclusão do programa no Orçamento, enquanto o
Ministério de Minas e Energia defende o uso do Fundo Social do Pré-Sal. Lula
tem pressa em publicar a medida provisória que instituirá as novas regras. Quer
que seja um dos cartões de visita na série de viagens que fará pelo País para,
segundo afirmou, combater a desinformação sobre seu governo – desculpa esfarrapada
para fazer campanha eleitoral fora de hora.
País deve reagir ao avanço do cigarro
Correio Braziliense
Há um inimigo nos pulmões dos brasileiros,
especialmente dos jovens. Urge resgatá-los do vício devastador e fazer o
possível para mantê-los afastados dessa ameaça
Na última quinta-feira, uma adolescente de 15
anos morreu no Distrito Federal em consequência de um perigo cada vez mais
ameaçador: os cigarros eletrônicos. A jovem estava internada em estado grave
havia praticamente um mês, com severas complicações pulmonares e uma tosse
persistente que a acometia desde o início do ano. A dependência deixou marcas
devastadoras na vítima. A estudante veio a óbito com o pulmão esquerdo em
colapso, após um quadro inflamatório avançado.
O episódio na capital da República ocorreu na
véspera do Dia Mundial sem Tabaco, lembrado ontem. E o Brasil enfrenta um
momento muito preocupante em relação ao consumo do cigarro. Dados do Ministério
da Saúde alertam para um aumento de 25% no número de fumantes entre 2023 e
2024. É o pior registro feito pelas autoridades sanitárias em quase duas
décadas.
"Pela primeira vez desde 2007, nós
temos um ponto que está ascendente na curva. Isso nunca foi visto. Esse é um
dado muito, muito preocupante. Então, é urgente que a gente volte a intervir
mais duramente sobre as ações que a gente já sabe que dão certo, e
especialmente se comunicando com os jovens", alertou a diretora de Análise
de Doenças Não Transmissíveis do ministério, Letícia de Oliveira Cardoso, em
entrevista à Agência Brasil.
O aumento expressivo de fumantes indica um
claro retrocesso na política antitabagismo. A cada dia, 477 brasileiros morrem
por consequência do tabagismo. Por ano, seria possível evitar 174 mil mortes
provocadas pelo consumo de cigarro. As doenças ligadas ao fumo custam R$ 153
bilhões por ano ao país, entre atendimento a pacientes e outras consequências.
Em contraponto, a arrecadação de impostos federais sobre os cigarros, uma forma
de conter a escalada tabagista, totalizou R$ 8 bilhões em 2022 - apenas 5,2% dos
custos provocados pelo cigarro.
A situação é alarmante em relação aos
dispositivos eletrônicos. Apesar da venda proibida no Brasil, estão
disseminados. Pelo menos 4 milhões de brasileiros são consumidores desses
equipamentos, que concentram toda sorte de substâncias, muito mais perigosas do
que as conhecidas nos cigarros convencionais.
Na guerra contra o tabagismo, seja o
tradicional, seja a versão eletrônica, é preciso uma ação ampla e firme do
poder público, somada à adesão da sociedade. Em abril do ano passado, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) endureceu as medidas restritivas ao
cigarro eletrônico. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, em documento
divulgado na sexta-feira, emitiu alerta para a necessidade de proibir sabores
artificiais em produtos de tabaco e nicotina, presentes em cigarros, sachês de
nicotina, narguilés e cigarros eletrônicos.
Há um inimigo nos pulmões dos brasileiros,
especialmente dos jovens. Urge resgatá-los do vício devastador e fazer o
possível para mantê-los afastados dessa ameaça.
A população precisa se vacinar
O Povo (CE)
Iniciativas diversas têm ocorrido na Saúde da
Capital e do Estado a fim de convencer a população a tomar os imunizantes que
protegem contra as doenças. É preocupante saber que o percentual de pouco mais
de 10% da população total se vacinou contra a influenza na capital
cearense entre 1º e 25 de maio, por exemplo. Neste período, com chuvas na
região, aumentam-se os casos virais de gripes e resfriados, que podem ser
agravados para quadros como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) se a
proteção não for realizada.
Neste fim de semana, a Prefeitura de
Fortaleza promove uma força-tarefa a fim de aumentar a cobertura vacinal,
com a finalidade de ampliar o acesso ao atendimento e reduzir a circulação de
vírus respiratórios. Há vacinação em postos de saúde, que abrem
excepcionalmente neste fim de semana, e em três shoppings da Capital. Também
houve vacinação no sistema "drive-thru", sem que a pessoa precise
sair do veículo, durante a semana. Além da vacina contra a influenza, estão
sendo ofertados outros imunizantes do calendário de rotina.
A falta de informação que leva à
não imunização é um problema que atinge outros locais do Estado. Em artigo
publicado no O POVO (23/5/2025), intitulado "Sem vacina para a epidemia da
desinformação no Cariri", o jornalista Luciano Cesário chama atenção para
a baixa cobertura da vacinação na Região do Cariri. De acordo com ele, no
Crato, até a primeira quinzena de maio, menos de 30% do público-alvo da vacina
contra a gripe recebeu a imunização, o que seria um reflexo de um desinteresse
e descrédito crescentes da população em relação à eficácia dos imunizantes.
Ainda no artigo, Luciano Cesário comenta que,
conforme a coordenadora de Vigilância em Saúde do Crato, Evanúsia
Lima, "as mentiras espalhadas nas redes sociais são o ponto nevrálgico da
baixa procura" e, em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, ela manifestou
preocupação com a epidemia da desinformação, que acomete principalmente os mais
pobres, ou seja, aqueles que mais precisam das vacinas pela vulnerabilidade a
que estão expostos.
É preciso que esse chamamento à população
para que se vacine contra a gripe seja feito de modo contínuo. Essa
descentralização dos postos móveis de atendimento à vacinação tem
sido feita como reflexo do fato de as pessoas não estarem indo às unidades de
saúde buscar imunização. A resistência à vacina tem sido um problema agravado
desde a pandemia de covid-19, pelos fantasmas que o "discurso antivacina e
anticiência" criou.
É sabido que, quando uma pessoa na sociedade
é vacinada, atinge-se um efeito coletivo ao minimizar a circulação do agente
infeccioso. As evidências científicas mostram a eficácia e a segurança dos
imunizantes e um dos grandes desafios da Saúde é combater esse movimento.
Vacinar-se não deve ser tão somente uma decisão baseada em interesses pessoais,
mas deve ser entendida, sobretudo, como uma responsabilidade social de uma
questão maior - a saúde pública.
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