Derrubar veto a ‘jabutis’ no PL das Eólicas seria acinte
O Globo
Medidas alheias ao texto do projeto
encarecerão conta de luz em 9% se Congresso insistir em mantê-las
É insondável o que farão os parlamentares, na sessão conjunta do Congresso Nacional marcada para hoje, em relação aos vetos impostos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos “jabutis” incluídos no Projeto de Lei (PL) que regula a instalação de usinas eólicas em alto-mar. Um fato, contudo, precisa ficar claro: a sociedade não tolerará a derrubada dos vetos. No conjunto, a coleção de “jabutis” representa um aumento de 9% na conta de luz de todos os brasileiros — ou R$ 545 bilhões até 2050, pelas contas de associações do setor. Em troca do quê? De preservar mercado cativo ou subsídios a fontes de energia obsoletas, poluentes ou, quando limpas, que poderiam muito bem sustentar-se sem ajuda.
Depois de aprovado na Câmara e no Senado, o
texto chegou à mesa de Lula no fim de 2024, e ele acertadamente vetou os
trechos desarrazoados. Era o caso da extensão do prazo para contratação de
usinas a carvão, forma de energia que mais contribui para a emissão de gases de
efeito estufa (custo de R$ 92 bilhões ao contribuinte até 2050). Da obrigação
de pagar por energia de térmicas a gás, ainda que o preço seja desvantajoso
(custo de R$ 155 bilhões), ou de pequenas centrais hidrelétricas (R$ 140
bilhões). Ou da manutenção dos subsídios à energia solar, injustificáveis dado
o avanço tecnológico (R$ 101 bilhões). E de outras regalias, enxertadas num
texto cujo objetivo era apenas regular as eólicas em alto-mar.
Nos labirintos do Congresso, grupos de
interesse que competem no mercado aproveitaram o PL para tentar gravar na lei
benesses ecumênicas. Agora tentam fazer os parlamentares derrubar os vetos de
Lula. Com a seriedade que o assunto demanda, o Parlamento deveria manter tudo o
que foi vetado. Do contrário, dará as costas aos brasileiros. Os “jabutis” só
servem para lesar o bolso do consumidor.
A aberração mais óbvia é o carvão, geração de
energia mais suja que existe, com papel irrelevante no Brasil. Enquanto o país
se prepara para sediar a conferência da ONU sobre mudança climática, seria
vergonhoso o Congresso se acoelhar diante dos desafios impostos pelo
aquecimento global e dar sobrevida ao segmento.
O “jabuti” das térmicas a gás traz problemas
mais sutis, mas não menos graves. Para preservar a robustez do sistema elétrico
e evitar apagões, é preciso haver geração de energia que possa ser acionada
mediante demanda e não dependa de fatores naturais como sol, vento ou água. É
por isso que as usinas a gás, embora poluentes, são essenciais. Mas não da
forma como estipulado pelo Congresso, com contratação compulsória. Ligadas por
mais tempo, além de encarecer a eletricidade, elas poluiriam mais. Por isso estima-se
que, ao todo, os “jabutis” elevariam em 25% as emissões de gases do setor
energético.
Subsídios para a geração solar já fizeram
sentido. Com o barateamento da tecnologia, porém, tornaram-se desnecessários.
Beneficiar fabricantes de placas solares em detrimento do consumidor seria um
desserviço.
Os efeitos negativos da energia mais cara
transcendem a conta de luz. Estão no preço do pão assado em forno elétrico, do
leite e da carne, do cimento e do automóvel, de remédios e transporte urbano.
Energia é custo para o setor produtivo. Energia mais cara é inflação e,
invariavelmente, tira a competitividade do país. O Congresso não pode deixar
que um pequeno grupo de interesse ponha a mão no bolso dos brasileiros de modo
tão descarado.
Afirmações de Flávio Bolsonaro sobre ‘uso da
força’ vão além do aceitável
O Globo
Impor perdão por crimes a candidato aliado já
é disparate. Insinuar afronta ao STF é uma temeridade
São temerárias as afirmações do senador
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, sugerindo
que qualquer outro candidato, para receber apoio de Jair Bolsonaro nas eleições
de 2026, precisará assegurar indulto ao ex-presidente, réu no Supremo Tribunal
Federal (STF) no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado. E
Flávio foi além. Afirmou que, em caso de condenação do pai, se um presidente
aliado lhe conceder o perdão, será preciso que o STF “respeite os demais
Poderes”. “É uma hipótese muito ruim, porque a gente está falando de
possibilidade de uso da força (...), de interferência direta entre os Poderes.
Tudo que ninguém quer”, disse ele.
Não ficou claro o que Flávio quis dizer com
“uso da força”. Eis sua explicação singela para as condições que levariam a tal
desfecho: “Estou fazendo análise de um cenário. Bolsonaro apoia alguém, esse
candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para
aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e
fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá.
Certamente o candidato que o presidente Bolsonaro vai apoiar deverá ter esse
compromisso”.
É certo que ele ressaltou não se tratar de
ameaça, mas evidentemente esse tipo de declaração não tem cabimento num regime
democrático. Ainda que Bolsonaro venha a ser condenado e que um presidente
futuramente lhe conceda indulto, o STF teria o dever de analisar se o benefício
cumpre os dispositivos constitucionais. Negar-lhe essa prerrogativa seria
desrespeitar a independência dos Poderes.
Há, por sinal, precedentes. Em maio de 2023,
o Supremo rejeitou por 8 votos a 2 a graça concedida em 2022 pelo então
presidente Bolsonaro em favor do ex-deputado Daniel Silveira, restabelecendo a
condenação por crimes de ameaça ao Estado Democrático de Direito e coação no
processo. Na ocasião, a Corte considerou que a decisão presidencial em
benefício de um aliado político representou desvio de finalidade.
A Polícia Federal (PF) investigou
minuciosamente e reuniu provas robustas da tentativa de golpe em 2022. Foram
fatos graves. Além da pretendida ruptura institucional, um plano previa o
assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do STF, do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin. O mínimo a esperar é que os
responsáveis, independentemente de nomes, partidos ou patentes, sejam julgados
e, uma vez comprovadas as responsabilidades, punidos. Anistiar quem conspirou
conta a democracia só serve para incentivar novos levantes golpistas.
Na semana passada, os depoimentos de Jair
Bolsonaro e de outros réus corroboraram as investigações da PF e mostraram que
há provas consistentes para condená-lo. Daí a preocupação de Flávio em
articular desde já compromissos políticos para blindar o pai. Essa cogitação
por si só já é um disparate. Querer contratar no mesmo pacote uma afronta ao
Supremo, à Constituição e à democracia extrapola o limite do aceitável.
Homicídios caem e cresce a violência contra a
mulher
Valor Econômico
A PEC da Segurança, que busca maior
integração e coordenação entre os entes federativos e órgãos de segurança, se
arrasta no Congresso
A segurança pública é uma das principais
preocupações da população brasileira, ao lado da inflação, apontaram as
recentes pesquisas de opinião - e também está no topo dos problemas das
empresas. A violência tem várias formas, e o Mapa da Segurança, do Ministério
da Justiça e Segurança Pública, aponta trocas transitórias entre elas, sem que
os dados positivos sejam tranquilizadores ou indiquem tendência sustentável.
Houve redução dos assassinatos e roubos, mas aumento de feminicídios e
estupros.
Os homicídios intencionais caíram em 2024
pelo quarto ano seguido. A queda foi de 6,3% na comparação com 2023, para
35.365 vítimas - nada menos que 97 homicídios diários em média. A diminuição é
de quase 16% em relação ao início da série, em 2020, quando houve 42.034 casos
dolosos. A maior redução percentual ocorreu na Região Norte, de 16,4%, e, no
outro extremo, na região Sul, houve uma redução de 12,4% em relação a 2023. Os
homicídios também caíram no Centro-Oeste (7,61%), no Sudeste (4,2%) e no Nordeste
(2,8%).
Por outro lado, o número de feminicídios
cresceu 0,7% em 2024, registrando 1.459 vítimas, ou quatro por dia. Piauí,
Maranhão e Paraná foram os Estados que tiveram o maior aumento no número de
vítimas desse tipo de crime. A violência contra mulheres aparece em alta com
mais clareza no avanço de casos de estupro, 83.114, o maior número em cinco
anos. A média foi de 227 vítimas por dia, e 86% delas são mulheres. Alguns dos
Estados com maior renda per capita e grau de educação se destacam nesse tipo de
crime, com São Paulo no topo, com 15.989 ocorrências, seguido de Paraná (6.881)
e Rio de Janeiro (5.819).
Vem mostrando uma tendência semelhante outra
pesquisa importante na área de segurança, o Atlas da Violência, embora com base
em fonte de informação diferente. Enquanto o Mapa da Segurança é feito pelo
governo federal com informações fornecidas pelos Estados, o Atlas da Violência
é elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública a partir do Sistema de Informações sobre
Mortalidade, do Ministério da Saúde, desde 2016.
Divulgado em maio, o Atlas da Violência
registrou recuo de 1,4% das vítimas de homicídio entre 2022 e 2023, para
45.747. Houve queda em 17 das 27 unidades da federação. As regiões Norte e
Nordeste concentraram os índices mais altos de homicídios intencionais,
enquanto a região Sul e os Estados de São Paulo e Minas Gerais tiveram as
menores taxas.
Ao analisar a segurança pública pelos mesmos
critérios usados por entidades internacionais, que avaliam o número de
homicídios dolosos por 100 mil habitantes e não só em números absolutos, a taxa
brasileira ainda é bastante elevada em comparação aos demais países, o que
ajuda a explicar a sensação de insegurança da população. Afinal, os dados
colocam o Brasil entre os países mais violentos do mundo com o resultado de
ambas as pesquisas.
De acordo com o Atlas da Violência, a taxa de
homicídios brasileira era de 21,2 por 100 mil habitantes em 2023, praticamente
a mesma apurada para o Brasil em 2021, de 21,3 por 100 mil habitantes, pelo
United Nations Office of Drugs and Crime (UNODC), escritório das Nações Unidas
voltado para questões de drogas e crimes. Já pelo Mapa da Segurança do
Ministério da Justiça a taxa por 100 mil habitantes em 2024 ficou em 16,64, de
toda forma quase o triplo da média global de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes
apurada pelo UNODC.
No ranking da instituição, o Brasil é o 18º
país com maior taxa de homicídio. No caso dos feminicídios, o Brasil está com
taxa de 1,34 por 100 mil habitantes nas contas do Mapa da Segurança e de 3,5
por 100 mil no Atlas da Violência, em comparação com 2,2 vítimas por 100 mil da
média global em 2021 calculada pelas Nações Unidas.
O envelhecimento da população é um dos
motivos para a redução do número de homicídios observada nos últimos anos no
Brasil, uma vez que a violência é maior entre os mais jovens. Quase metade
(47,8%) dos homicídios em 2023 envolveu pessoas na faixa de 15 a 29 anos.
Outro motivo cogitado é o pacto de não
agressão entre as principais facções criminosas no país, embora em algumas
regiões haja disputa de território entre outros grupos criminosos. O avanço do
crime cibernético, que ganhou espaço na pandemia, seria outra possível razão.
Houve ainda importantes mudanças nas políticas de segurança pública em alguns
Estados, como a adoção de câmeras corporais, que reduziram a letalidade
policial. Apesar das queixas e dos casos de violência policial, têm se buscado
a qualificação dos policiais e o recurso à inteligência para compor a
estratégia, antes limitada ao policiamento ostensivo e ao uso da força.
De todos os fatores que estão contribuindo para melhorar a segurança, só este último item é resultado da iniciativa do poder público. A PEC da Segurança, que busca maior integração e coordenação entre os entes federativos e órgãos de segurança, se arrasta no Congresso. Não há como chegar às melhores práticas e aos padrões internacionais sem a cooperação de todas as esferas do governo e da sociedade.
Recursos públicos no Brasil são, sim,
suficientes
Folha de S. Paulo
Assim pensam 55% dos brasileiros, segundo o
Datafolha; déficit é sinal de que gastos são incompatíveis com renda do país
Está correta, na essência, a percepção
manifestada pela maioria dos brasileiros de que o setor público do país dispõe
de recursos suficientes. Assim pensam 55% dos entrevistados na mais recente
pesquisa do Datafolha —percentual
composto por 47%
que consideram os recursos mal aplicados e só 8% que aprovam sua
gestão.
A afirmação pode causar estranheza diante dos
déficits recorrentes nas contas do Tesouro Nacional, ou mesmo da precariedade
de diversos serviços prestados à sociedade. É fato incontestável, no entanto,
que o Estado brasileiro tem capacidade de arrecadar com poucos paralelos entre
os países emergentes e superior até à de boa parte dos ricos.
A carga tributária aqui ronda os 33% do
Produto Interno Bruto, com variações a depender da metodologia. Em outras
palavras, o setor público se apropria de um terço de toda a renda gerada por
trabalhadores e empresas. Tal patamar é o maior da América Latina e similar aos
34% da média da OCDE,
organização que reúne os países mais desenvolvidos.
Consideradas outras fontes de recursos,
como juros,
dividendos e concessões, a receita dos três níveis de governo no Brasil chega a
38,8% do PIB,
em cálculo do FMI. No G20, que reúne as
principais economias mundiais, superamos Argentina, Austrália, China, Índia,
Indonésia, Japão, Coreia do Sul, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul,
Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Isso não quer dizer, é claro, que se devam
esperar do setor público brasileiro serviços —educação, saúde, segurança
pública— de qualidade comparável aos de países ricos, cujo PIB por habitante é
muito maior. Num exemplo, o Reino Unido tem receita total quase equivalente à
nossa (38,3% do PIB) e quase o triplo em renda per capita.
A questão é que o Estado aqui já dispõe de
recursos vultosos para a realidade nacional. Se acumula déficits orçamentários
que estão entre os mais altos do mundo, é sinal evidente de que seus gastos são
incompatíveis com seus meios, isto é, com a capacidade contributiva dos
cidadãos.
Não é difícil apontar despesas públicas que
estão acima ou muito acima dos padrões internacionais. A Previdência
Social consome algo em torno de 13% do PIB ou mais, nível de países
com população bem mais idosa. O
custo do sistema de Justiça (1,33%) não tem similar conhecido entre as
principais economias. Os juros, que decorrem dos déficits fiscais, somam
exorbitantes 7,7% do PIB.
Isso sem mensurar o peso de benefícios
fiscais, supersalários, emendas parlamentares e outros fatores que corroem a
eficiência dos programas e da economia.
Se o propósito maior do Estado desenhado
pela Constituição de
1988 é combater a pobreza e a desigualdade, os resultados são insatisfatórios.
As distorções começam, aliás, pela coleta de recursos por meio de uma carga não
apenas elevada como injusta, baseada em tributos regressivos que oneram os mais
pobres.
Avanço da educação é lento no país
Folha de S. Paulo
Taxas de analfabetismo e de matrículas em
creches melhoram desde 2016, mas objetivos do Plano Nacional não são cumpridos
Mais um levantamento evidencia a dificuldade
do poder público brasileiro em cumprir as metas das políticas que institui,
sinalizando gestão ineficiente do dinheiro do contribuinte e precariedade dos
mecanismos de monitoramento.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua) no módulo educação do IBGE, divulgada na
sexta (13), em 2024 a
taxa de pessoas analfabetas com mais de 15 anos foi de 5,3% —queda de
apenas 0,1 ponto ante 2023 e menor nível da série histórica, iniciada em 2016,
quando a marca foi de 6,7%.
Mas o Plano Nacional de Educação (PNE) de
2014 fixou a erradicação em dez anos —ou seja, nenhuma pessoa acima dos 15 anos
deveria ser analfabeta no país em 2024. Os 5,3% significam que 9,1 milhões de
brasileiros, contingente maior do que a população do Pará, não conseguem ler ou
escrever um bilhete simples.
É inegável o avanço no acesso à educação nas
últimas décadas, favorecendo as novas gerações. Por isso, do total de
analfabetos, 56,4% (5,1 milhões) têm 60 anos ou mais. Considerando apenas esse
estrato, a taxa foi de 14,9% em 2024, ante 20,5% em 2016.
Apesar da bem-vinda queda, os dados mostram
que governos precisam incrementar a Educação de Jovens e Adultos (EJA). De
acordo com o Censo Escolar 2024, 1 em cada 5 municípios (1.092 de 5.568) não
oferta vagas nesse programa.
As políticas de letramento e alocações de
recursos também devem levar em conta discrepâncias regionais. Se a taxa de
analfabetismo acima dos 15 anos no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste é de 2,7%,
2,8% e 3,3%, respectivamente, no Norte ela sobe para 6% e salta a 11% no
Nordeste.
Outra área da educação que não cumpriu o
objetivo firmado em 2014 é a base estruturante da formação escolar. No ano
passado, o
percentual de crianças de 0 a 3 matriculadas em creches foi de 39,8%, alta
de 9,5 pontos em comparação dom 2016, mas abaixo da meta de 50% do PNE.
O principal motivo para não matricular os
filhos é a opção dos pais (60%), mas merece atenção a falta de vagas ou de
creches (33%). Em regiões mais ricas, como o Sudeste, a escolha dos pais sobe a
64,2% e a dificuldade de acesso diminui para 27%; já no Nordeste, mais pobre,
são 54,7% e 39,8%, respectivamente.
Governos nas três esferas precisam atuar de
forma integrada para cumprir as metas. Se elas ficam só no papel, os resultados
são lentidão nos avanços e os pífios indicadores de aprendizagem apresentados
pelo Brasil em avaliações domésticas e globais.
É tudo pelas emendas
O Estado de S. Paulo
Mudança brusca de comportamento de Motta
sobre medidas apresentadas pelo governo evidencia disputa por pagamento de
emendas e distância entre discurso e prática no Congresso
A disposição do Congresso para comprar briga
com o governo deve refluir nos próximos dias por duas razões. O calendário é a
primeira delas. Em meio às festividades juninas, numa semana com um feriado
prolongado e a um mês do recesso parlamentar, a disputa entre Executivo e
Legislativo sobre quem tem mais – ou menos – responsabilidade fiscal tende ao
apaziguamento. A outra, mais importante e de ordem prática, diz respeito às
emendas parlamentares. Tratar das emendas parlamentares pode parecer
repetitivo, mas é impossível não falar do assunto quando tudo parece girar em
torno disso no País.
Foi a expectativa de manter o poder sobre as
emendas que levou Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) ao
comando da Câmara e do Senado, assim como seus antecessores Arthur Lira (PP-AL)
e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). É em razão das emendas que o cargo de relator do
Orçamento é tão disputado pelos parlamentares. É, sobretudo, por causa das
emendas que o Congresso está em pé de guerra com o Supremo Tribunal Federal
(STF). E é em nome das emendas que o Legislativo cobra do governo que faça cortes
estruturais de despesas.
Antes houvesse alguma convicção, da parte dos
deputados e senadores, sobre a importância da responsabilidade fiscal para o
controle da inflação, a redução da taxa básica de juros, o aumento dos
investimentos, a geração de empregos e o crescimento econômico. Não parece ser
o caso.
Afinal, a Mesa Diretora da Câmara, presidida
por Motta, certamente não teria apresentado um projeto de lei para liberar o
acúmulo de salários e aposentadorias para ex-deputados federais que ocupem
cargos eletivos nos âmbitos federal, estadual e municipal, prática que é vedada
desde 1997. Os parlamentares tampouco teriam aprovado, em maio, um projeto de
lei complementar que aumenta o número de vagas de 513 para 531, a pretexto de
adaptar a Casa aos resultados do Censo de 2022.
Há quem possa argumentar que os gastos
adicionais, tanto no projeto que assegura o pagamento de salários e de
aposentadorias quanto no que cria mais vagas na Câmara em vez de redistribuir
as atuais entre os Estados que ganharam e os que perderam população, serão
residuais diante do tamanho das despesas públicas.
Mas não é disso que se trata. A questão é que
quem cobra corte de gastos precisa ter um mínimo de coerência entre o discurso
e a prática. Do contrário, fica difícil explicar alterações tão bruscas de
comportamento como a que Motta apresentou há alguns dias, entre a fatídica
reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de 8 de junho, e a
manhã do dia seguinte.
Ao longo da semana, ficou mais claro por que
Motta mudou de ideia. Além da pressão dos setores diretamente impactados pelo
aumento de impostos proposto pela equipe econômica, pesou o fato de que o
Executivo, em pleno mês de junho, praticamente não empenhou valores para pagar
emendas parlamentares neste ano, que somam mais de R$ 50 bilhões. Isso se deve
tanto ao atraso na apreciação do Orçamento de 2025 – aprovado em março pelo
Legislativo e sancionado em abril por Lula da Silva – quanto às exigências que
o ministro Flávio Dino, do STF, estabeleceu para liberar as emendas.
A derrubada do decreto que elevou o Imposto
sobre Operações Financeiras (IOF) vai depender de acertos que ocorrem ao longo
dos próximos dias. Mas a entrevista que a ministra da Secretaria de Relações
Institucionais, Gleisi Hoffmann, concedeu ao jornal Valor já deu o
tom desse debate.
O arcabouço fiscal, segundo ela, vale para o
Executivo e o Congresso, de forma que sustar o decreto presidencial reduzirá a
previsão de receitas e, portanto, exigirá um contingenciamento de recursos
ainda maior que o anunciado no mês passado. Um contingenciamento maior vai
mirar as despesas discricionárias – e, por óbvio, não poupará as emendas
parlamentares.
“Ninguém quer votar medida impopular. Da
esquerda à direita”, acrescentou a ministra. A menos de um ano e meio das
próximas eleições, o que todos parecem querer, tanto no Executivo quanto no
Legislativo, da direita à esquerda, passando pelo Centrão, é manter tudo como
está.
PT mira em Galípolo
O Estado de S. Paulo
Indicado por Lula como aposta para mudar os
rumos da política monetária e disfarçar a gastança do governo, presidente do BC
vira alvo do lulopetismo, prova de que o PT é incorrigível
Está declarado o fim da lua de mel entre o PT
de Lula da Silva e o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.
Indicado pelo presidente como uma aposta para dar um cavalo de pau nos rumos da
política monetária, como se isso fosse viável e o melhor para o Brasil,
Galípolo começa aos poucos a se converter em alvo do lulopetismo. Os sinais do
rompimento podem ainda não ter aparecido sob a forma dos apopléticos documentos
do partido, com os quais invariavelmente petistas põem o dedo em riste contra aqueles
que consideram inimigos, mas são cada vez mais barulhentas as críticas que até
aqui se restringiam a murmúrios internos.
O episódio do aumento do IOF escancarou uma
divergência entre Galípolo e o outrora amigo próximo, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad. O redivivo ex-ministro José Dirceu escreveu um artigo no qual,
ao atacar o rentismo, o mercado financeiro, a “Faria Lima” e os juros altos,
ironiza um Galípolo que, “tão cioso de sua independência”, se reúne com
empresários e o setor financeiro – é como se o presidente do BNDES fosse
criticado, num evidente disparate, por se encontrar com representantes da
indústria. Antes, em carta aberta à militância, o antigo amigo de Fidel Castro
propôs à esquerda uma “revolução social” capaz de “pôr fim à apropriação e
expropriação da renda nacional pelo capital financeiro e agrário, num circuito
entre o Banco Central e a Faria Lima”.
Houve mais. Três dos quatro candidatos à
presidência do PT não só fizeram críticas ao capitalismo, como foram explícitos
no ataque ao Banco Central e sua preocupação com a inflação, a (má) percepção
dos agentes econômicos e seus efeitos sobre a política monetária e a
estabilidade da moeda. Um dos poucos governadores de Estado do partido, o
cearense Elmano de Freitas, cobrou de Galípolo – “agora que indicamos o
presidente do Banco Central” – a redução da taxa básica de juros (Selic), como
se isso dependesse de uma canetada. A cisão se completa com o debate sobre a
proposta que prevê autonomia financeira do BC.
O problema de fundo é o vício petista de
enxergar o Banco Central como um instrumento do mercado para favorecer o
rentismo, em detrimento do crescimento do País. É uma versão conveniente para
uma verdade inconveniente: a incapacidade do lulopetismo de enfrentar a
realidade da alta da inflação e o papel dos gastos do governo nessa escalada. A
grita petista mostra que Galípolo pode estar fazendo o certo: como presidente
do BC, cabe a ele ser o zelador prudente do poder de compra da moeda, e não o
irresponsável sabujo de um presidente perdulário, como o PT desejaria. Mas,
para os petistas, Galípolo apenas se rendeu à lógica do mercado.
O que é ilógico, contudo, é que mais de 15
anos de poder foram insuficientes para que o PT entendesse a dinâmica do
mercado. Lula e seu partido nunca esconderam o desconforto com o modelo
estabelecido em lei para o Banco Central. Antes disso, nos seus dois primeiros
mandatos, o demiurgo petista até deixou o então presidente do BC, Henrique
Meirelles, trabalhar de forma autônoma. Era uma autonomia que lhe convinha.
Precisando conquistar a confiança dos agentes econômicos, ele permitiu uma
maior complementaridade entre as políticas fiscal e monetária – foi a maior
disciplina fiscal no primeiro mandato, aliás, que permitiu o crescimento
robusto no segundo mandato, ainda que, como se sabe, com alto custo futuro. Mas
não sem uma no cravo e outra na ferradura: morubixabas petistas ou o próprio
Lula esbravejavam publicamente contra os “juros altos” do BC, enquanto nos
bastidores o presidente trocava mesuras com Meirelles.
Funcionou enquanto Lula e o PT tinham capital
político para brigar contra o mercado e a realidade. Não é o caso de agora.
Ocorre que a independência institucional garantida por lei ao BC e algum zelo
demonstrado pela autoridade monetária para compensar a expansão fiscal do
terceiro mandato são vistos pelo PT como forças malignas. A torpeza de sentido
tem um vício de origem: a incapacidade do lulopetismo de lidar com a dinâmica
do setor privado, e é assim que o mercado financeiro é o Tinhoso,
empresário bom é só aquele que favorece a companheirada e a autonomia do Banco
Central só é bem-vinda pela metade, isto é, que o BC seja autônomo em relação
ao mercado, afugentando investidores, mas não ao governo e sua gastança.
O acordo que só Trump viu
O Estado de S. Paulo
Ao alardear acordo ‘excelente’ com a China,
presidente expõe o quanto está vulnerável
O presidente dos EUA, Donald Trump, alardeou
em letras maiúsculas na Truth Social, rede social da qual é dono, ter chegado a
um acordo comercial “excelente” com a China, o que seria fruto de dois dias de
negociações em Londres. Segundo o republicano, a China voltará a fornecer aos
EUA terras raras, insumos críticos para indústrias como a de tecnologia,
enquanto as universidades norte-americanas continuarão recebendo estudantes
chineses. Além disso, Trump afirmou que as tarifas sobre importações chinesas
totalizarão 55%, enquanto exportações norte-americanas serão taxadas em 10%
pelo gigante asiático. Mas tudo ainda depende de aprovação do próprio Trump e
do presidente chinês, Xi Jinping.
Ao comentar as negociações de Londres, os
asiáticos adotaram tom bem mais vago que o de Trump. Um porta-voz do Ministério
do Comércio chinês afirmou que as duas partes concordaram com uma “estrutura de
medidas para consolidar os resultados das negociações econômicas e comerciais
de Genebra”. Em relação às terras raras, os chineses foram protocolares ao
afirmar que continuarão aprimorando o processo de revisão e de aprovação de
licenças de exportação.
A verdade é que, após acusar a China de
descumprir trégua acordada no início de maio em Genebra, quando os dois países
pausaram tarifas de mais de três dígitos um contra o outro por 90 dias, o que
os EUA conseguiram agora foi, com muita benevolência, retomar o que já havia
sido estabelecido anteriormente.
Acostumado a humilhar países menos poderosos,
Trump adotou a única estratégia que realmente domina, a bravata, e foi para
cima dos chineses, que, provocados, passaram a jogar o jogo tal como oferecido
pelo republicano.
Ocorre que os EUA dependem bem mais das
importações chinesas que o contrário. A China impôs tarifas igualmente
proibitivas sobre os produtos norte-americanos, o que potencialmente eliminaria
o comércio entre os dois países. No meio do fogo cruzado, empresas dos EUA,
sobretudo as pequenas, viram-se num caos. Trump, então, foi forçado a concordar
com a pausa nas tarifas. Agora, ao insinuar que a taxação total sobre a China
pode ser de 55%, o republicano apenas demonstra que, ao contrário do que prega,
segue agindo de modo a estrangular a classe média norte-americana, que
provavelmente será forçada a lidar com escassez de bens e com inflação.
Obcecado com tarifas calculadas sabe-se lá
como, Trump ignorou que a China estava diversas casas à frente dos EUA em áreas
como a produção de terras raras e que também teve avanços significativos no
desenvolvimento de tecnologias diversas. Sem acesso às terras raras, a
indústria norte-americana corre o risco de paralisação. Já as restrições dos
EUA a exportações de tecnologia para a China não surtiram o efeito desejado.
Tudo combinado, os norte-americanos ficaram
sem algo essencial – a China responde por 70% da produção de terras raras do
mundo –, enquanto os chineses desenvolveram seus próprios chips e
semicondutores.
Autodeclarado mestre da negociação, Trump tem
sido desmoralizado pelos chineses num jogo em que ele mesmo deu as cartas.
Proteção dos oceanos desemboca na COP30
Correio Braziliense
Se o Brasil quer mesmo uma COP integrada,
como afirma o presidente Lula, não poderá abrir mão de embates ligados à
preservação dos mares
A primeira Conferência dos Oceanos das Nações
Unidas terminou em 9 de junho de 2017, em Nova York, com um "chamado para
a ação": estados-membros deveriam unir esforços em uma década (de 2021 a
2030) considerada decisiva para a promoção da sustentabilidade marinha. O
período estratégico entra agora em sua segunda metade, as Nações Unidas acabam
de encerrar a terceira conferência — em Nice, França, na última sexta-feira —,
e a sensação é de que ainda falta agilidade para impulsionar a proteção oceânica.
Tal cenário acaba por desembocar as atenções para o Brasil, anfitrião da
próxima conferência do clima, a COP30, em novembro.
São agendas administrativamente distintas, é
bem verdade. Trabalha-se, por exemplo, com a possibilidade de realização de uma
grande COP dos Oceanos no próximo ano, novamente nos Estados Unidos. Mas no dia
a dia da crise ambiental não há separações. Basta acompanhar a situação de
alerta extremo enfrentada por comunidades ribeirinhas e países insulares em
razão do aumento das temperaturas dos oceanos. São também os ecossistemas
marinhos o grande "ar-condicionado" da Terra, absorvendo 91% do calor
gerado pelos gases de efeito estufa.
Presente na Conferência dos Oceanos em Nice,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a urgência em convergir as
pautas e a responsabilidade do país em alavancar esse propósito. "É
impossível falar de desenvolvimento sustentável sem incluir o oceano. Sem
protegê-lo, não há como combater a mudança do clima (...) O Brasil dará ênfase
à conservação e ao uso sustentável do oceano na COP30, assim como fizemos em
nossa Contribuição Nacionalmente Determinada", discursou na sessão de
abertura.
O Brasil avança em atualizar a sua
Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), incluindo, pela primeira vez,
medidas de proteção aos oceanos, em 2024. Porém, é criticado por não ter
assinado o chamado "Apelo de Nice", um pacto de combate à poluição
plástica, nem ter ratificado o Tratado do Alto Mar, o marco legal para proteção
"imediata e a longo prazo" dos oceanos.
As NDCs são as promessas de cada país,
atualizadas a cada cinco anos, para mitigar as mudanças climáticas. O governo
brasileiro e o francês lançaram, na terceira Conferência dos Oceanos, a NDC
Azul, convidando os países a incorporarem a proteção aos oceanos em suas novas
metas. Apenas oito aderiram à iniciativa, e a maioria sequer atualizou a
"NDC tradicional" para a COP30, incluindo a União Europeia.
Quanto ao Apelo de Nice, 95 países assinaram
o acordo para combater o que é considerado um dos problemas mais graves para a
saúde dos oceanos. O presidente Lula admitiu a gravidade do assunto, mas ficou
só no discurso. Um dos argumentos é que países desenvolvidos ignoram os
impactos econômicos da proposta sobre os países produtores. O Brasil é um
deles, mas também é o oitavo do mundo e o primeiro da América Latina em
descarte de plástico nos oceanos. Agrava as críticas à não adesão brasileira o
fato de Noruega, Canadá e México — três grandes produtores de petróleo,
matéria-prima do plástico — terem respondido ao chamado.
A inclusão no Tratado do Alto Mar
parece mais encaminhada. Lula se comprometeu a ratificá-lo ainda neste ano,
acompanhando os 19 países que anunciaram a decisão durante a conferência
francesa. Após Nice, há 51 adesões (50 países e a UE). Com 60, o marco legal
entra em vigor. Chegar a esse patamar, porém, exige vencer pontos polêmicos,
como o financiamento para a preservação dos mares e o controle de atividades de
risco — passagem de navios e mineração, por exemplo. Se o Brasil quer mesmo uma
COP integrada, não poderá abrir mão desses embates. Trata-se de oportunidade
ímpar para viabilizar um desfecho exitoso para a Década dos Oceanos.
É preciso reduzir a fila de transplantes
O Povo (CE)
Exige explicação mais convincente o dado que
aponta um aumento expressivo na quantidade de gente à espera de um transplante
pediátrico no Ceará. Falamos, portanto, de crianças e adolescentes que, em
muitos casos, precisam de uma intervenção do tipo para lidarem com quadros
críticos de saúde. É de perspectiva de vida que estamos falando.
O ano de 2024 fechou com 24 crianças na
fila, o que representa um salto em relação aos 10 que compunham a lista no
exercício anterior contabilizado. É o controle oficial exposto no Relatório
Brasileiro de Transplantes (RBT) que aponta a preocupante situação, ou seja,
ninguém apareça com argumento de que se trata de uma fumaça eleitoral, coisa de
oposição ou algo que valha. A estatística oficial indica o quadro preocupante e
que exige uma ação do governo.
A saúde, deve-se admitir, concentra uma boa
parte dos desafios que enfrentam, em seu cotidiano marcado por carências, os
gestores públicos brasileiros, de todas as instâncias. O volume de demandas nunca
parece alcançável pelos programas e os recursos disponibilizados pelos
governos. Aliás, um dos argumentos oficiais utilizados como justificativa para
o aumento na fila de transplantes tenta apontá-lo como efeito do sucesso da
política desenvolvida no Ceará.
É o que explicaria o fato de 70% dos casos
registrados em 2024, quanto à fila de espera, dizerem respeito a transplantes
de rim. A questão é que o sistema do Ceará contempla a cirurgia,
quando vários outros estados a excluem de suas possibilidades. Pacientes de
fora, portanto, ajudariam a alimentar os nossos dados, de alguma forma
inflando-os.
O que acontece, e isso precisa ser
considerado, é que qualquer tentativa de explicar o quadro pelo aspecto da
procura, de alguma forma buscando responsabilizá-la, não atende à expectativa
de quem espera das autoridades que elas sejam capazes de apresentar soluções. O
modelo do sistema brasileiro, inclusive, deveria absorver melhor as
situações para evitar que políticas diferentes entre estados gerem distorções
como a que parece estar representada no caso.
De outra parte, aponta-se a queda no número
de doadores de órgãos como um dos fatores determinantes do aumento expressivo
na fila. Um dado da RTB indica que 41% das pessoas consultadas no ano
passado optaram por recusar a iniciativa, sob alegativas as mais diversas. Por
razões religiosas ou culturais, fragilidade emocional diante da perda de um
ente querido e até a simples vontade de preservar o corpo por inteiro.
É um quadro complexo, que envolve problemas
de várias naturezas e que somente uma política pública de caráter
integrado pode ser capaz de levar ao encaminhamento de soluções que devolvam a
confiança à sociedade num gesto que, de caráter humano, oferece a perspectiva
de proteger melhor a vida de nossas crianças e adolescentes.
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