terça-feira, 24 de junho de 2025

O scotch junino de Hugo Motta - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Não sei quantas vezes li e escrevi sobre a paralisia de Brasília em 2025. Paralisia de Brasília – a partir do Congresso. Paralisada a atividade parlamentar; não as gestões dos parlamentares. E assim vamos – sob o São João estendido – até meados de julho.

Eis o ritmo do Legislativo que votou o Orçamento de 2025 em março de 2025; e que ora reclama da morosidade do Executivo em desembaraçar emendas. Tudo parado. O maledicente diria que não será de todo ruim a cousa atravancada, dada a agenda da rapaziada.

O maledicente é um ingênuo. A cousa atravancada é seletiva. A paralisia, relativa. Por exemplo: a turma – a turma do discurso pelo corte de gastos – em mobilização para aprovar o aumento do número de deputados. (E nenhum sinal há de que bancará o fim dos supersalários e a reforma da previdência militar.)

Outro exemplo: a turma mobilizada pela formalização da prática – arruaça orçamentária – de usar dinheiros de emendas para custear folhas de pagamento país afora. Outro: a turma se mobilizando para recuperar verbas do orçamento secreto canceladas em função de irregularidades.

Outro: a turma mobilizadíssima para contratar o aumento na conta de energia elétrica da sociedade. Ordem unida mesmo, donde se recomende prudência antes de declarar a derrota do governo Lula na matéria. O PT formou com o chamado Centrão para derrubar os vetos do presidente e consagrar mais uma vitória do influente lobby daqueles que garantem a suas gerações de energia 25 anos de mercado obrigatório.

Derrotados fomos nós. Mais reveses virão. O Parlamento paralisado nunca falta aos interesses amigos-corporativistas.

O menor de nossos problemas será Hugo Motta bebendo uísque diretamente da garrafa. A lamentar, em nota pessoal do cronista, somente o desperdício do scotch 12 anos, destilado que mereceria um copo (baixo) e duas ou três pedras de gelo. O nosso problema de verdade: que Motta, forte e vaidoso para descer o golão quente, seja um presidente da Câmara ao mesmo tempo fraco e vaidoso.

Prometeu tudo a todos – garantida mesmo apenas a anistia para toda a gastança. Prometeu tudo para todo mundo, e agora sai à cata de uma identidade – de um caráter – para sua presidência. Aí está o Hugo fiscalista, que exige corte de despesas; o mesmo que tem mandato para proteger e ampliar os bilhões em emendas parlamentares. A famosa conta que não fecha.

No mundo real, já não bastará ao governo pagar as emendas. A conta sobe à medida que a eleição se acerca e a aprovação de Lula permanece baixa. A galera vai criando os textos para justificar – nem precisaria – o embarque noutra canoa. Faltam incentivos – hoje – para que partidos, mesmo os com ministérios, sejam leais ao Planalto. Motta pode prometer à vontade. Quem decide: Ciro Nogueira, Arthur Lira... Falam até em Eduardo Cunha. Antes estivéssemos paralisados. Andamos para trás.

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