“O homem ativo de massa atua praticamente,
mas não tem uma clara consciência teórica desta sua ação, a qual, não obstante,
é um conhecimento do mundo na medida em que o transforma. Pode ocorrer, aliás,
que sua consciência teórica esteja historicamente em contradição com o seu
agir. É quase possível dizer que ele tem duas consciências teóricas (ou uma
consciência contraditória): uma, implícita na sua ação, e que realmente o une a
todos os seus colaboradores na transformação prática da realidade; e outra, superficialmente
explícita ou verbal, que ele herdou do passado e acolheu sem crítica. Todavia,
esta concepção “verbal” não é inconsequente: ela liga a um grupo social
determinado, influi sobre a conduta moral, sobre a direção da vontade, de uma
maneira mais ou menos intensa, que pode até mesmo atingir um ponto no qual a
contraditoriedade da consciência não permita nenhuma ação, nenhuma escolha e
produza um estado de passividade moral e política. A compreensão crítica de si
mesmo é obtida, portanto, através de uma luta de “hegemonias” políticas, de
direções contrastantes, primeiro no campo da ética, depois no da política,
atingindo, finalmente, uma elaboração superior da própria concepção do real. A
consciência de fazer parte de uma determinada força hegemônica (isto é, a
consciência política) é a primeira fase de uma ulterior e progressiva
autoconsciência, na qual teoria e prática finalmente se unificam.”
*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.1. p. 103. Civilização Brasileira, 2006.
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