Folha de S. Paulo
Entrevista do governador de Minas à Folha é
sinal da movimentação errática do bolsonarismo, que se vê às portas da
condenação por golpismo
Um dos mais medíocres políticos bolsonaristas
—se é que essa escala faz algum sentido–, o governador de Minas, Romeu Zema,
declarou em
entrevista à Folha que a existência da ditadura
militar no Brasil é "uma questão de interpretação". A
declaração vem em momento de grande alvoroço no bolsonarismo, causado pelo
julgamento da trama golpista.
O naufrágio do projeto de anistia, as evidências do envolvimento militar, a proximidade da convocação de Jair Bolsonaro para depor e a firmeza do STF provocam pânico e nervosismo.
Eduardo
Bolsonaro já fugiu e foi seguido
pela periférica Carla Zambelli. Ambos se comprometem com a delirante
tentativa de conspiração internacional para deter o que seria a
"ditadura" do Supremo.
Há também aqueles, como Zema, que lambem as
botas do capitão inelegível na expectativa de, na sua falta, se apresentar como
alternativa para liderar esse Brasil aparvalhado, de fanfarras militares,
berrantes, motosserras, negacionismo, homofobia e assombrações religiosas.
Gente que esconjura o "comunismo", mas adora pingar dinheiro em
blusinhas de sites chineses.
A condenação do golpismo bolsonarista, com
seu saudosismo autoritário, a passar pano para a ditadura militar e a tramar
contra as instituições, está aí a caminho, para a infelicidade dos
simpatizantes e de certos setores de elite da direita —aqueles que, incapazes
de formular uma alternativa eleitoral liberal democrática competitiva, preferem
uma carona no atraso a enfrentar o desafio inadiável de superação do fosso
social e da reformulação das bases econômicas em tempos de crise climática.
O fenômeno, sabemos, não é exclusivo do
Brasil. A ascensão do populismo de ultradireita é fato mais do que conhecido
mesmo em países como os EUA, que em outros tempos eram referências estruturadas
de princípios democráticos.
A cruzada antiliberal de Trump vai
erodindo valores básicos do convívio democrático e colocando no tabuleiro
internacional o projeto de uma nova ordem autocrática na qual a guerra
tarifária comercial coabita com o reconhecimento do controle geopolítico de
zonas de influência por Estados e líderes com poderio militar, a exemplo de Putin e Xi Jinping.
Ao mesmo tempo que sabota o projeto
social-democrata europeu, Trump apoia a matança em massa e a limpeza étnica
de Netanyahu,
que ainda poderá levar Israel até
a se associar à monarquia sanguinária da Arábia Saudita, velha aliada da
América, num cenário assustador.
Está claro que vivemos um momento de entropia
em escala global, com a quebra de referências e um rearranjo de forças.
Os EUA têm sentido o golpe da perda de
terreno para a China,
contra a qual trava uma corrida pelo domínio da inteligência
artificial. É o objetivo estratégico da pauta do
grupo de bilionários do Vale do Silício que apoia Trump.
É um exagero dizer que a maior potência
ocidental está em plena decadência, que a democracia já está condenada e que a
China vai ganhar a disputa.
Nada disso, porém, está fora do horizonte.
Alguma decadência está em curso, tanto quanto investidas contra a ordem liberal
democrática. Da mesma forma, a resposta chinesa às restrições a seu setor de IA
já foi capaz de assombrar os americanos –e sua crescente influência
internacional é evidente por si só.
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