O Estado de S. Paulo
E se, em nome da soberania, Milei cobrasse Lula pelo ‘Cristina libre’ em plena Argentina?
Quem atira a primeira pedra? Se Donald Trump,
presidente dos EUA, está errado – e está – ao chamar os processos contra Jair
Bolsonaro no Supremo de “perseguição” e “caça às bruxas”, o que dizer de Lula,
presidente do Brasil, que visitou Cristina Kirchner e tirou foto com o cartaz
“Cristina libre” em plena Buenos Aires?
Trump, que se sente imperador dos EUA e age como dono do mundo, ficou mal-humorado com o Brics no Rio e ameaça impor tarifas adicionais a países que se alinharem com o bloco, que tem China, Rússia e agora Irã. De quebra, se meteu também com a Justiça brasileira, ao defender e dizer que Bolsonaro só queria o bem do povo brasileiro (?). Julgou, absolveu e anunciou sua sentença ao mundo.
O STF – onde o alvo de trumpistas e
bolsonaristas é Alexandre de Moraes – não reagiu, mas Lula disparou pelas redes
que “o Brasil tem soberania” e “não aceitamos interferência ou tutela de quem
quer que seja”. Tem toda razão, mas, e se Javier Milei respondesse no mesmo tom
à visita, ao cartaz e à decisão de Lula que, como Trump, julgou, absolveu e
anunciou sua sentença ao mundo ou, ao menos, à América Latina?
Os dois ex-presidentes fazem oposição aos
atuais mandatários, a diferença está nos processos pelos quais Bolsonaro pode
ser condenado e Cristina Kirchner já foi. Ela sucumbiu diante de uma enxurrada de
provas de corrupção, o que remete aos dissabores do próprio Lula com a Lava
Jato.
Já Bolsonaro foi indiciado, denunciado e
virou réu, também por uma enxurrada de provas, mas por tramar um golpe de
Estado contra a posse do presidente eleito, inclusive com prisão ou até a morte
de Lula, o que remete a Trump atiçando a invasão do Capitólio após a derrota
contra Joe Biden. Ao defenderem Kirchner e Bolsonaro, Lula e Trump estariam se
autodefendendo?
Nem Trump tem o direito de se meter em
assuntos internos do Brasil, nem Lula nos da Argentina. São gestos
voluntariosos, arrogantes, contrários a regras internacionais e à política de
boa convivência entre países. E no pior momento, com guerras, conflitos e
autocratas por toda parte e Trump brincando de embaralhar o comércio e
desprezar a civilidade, dentro e fora dos EUA, sob a impotência de ONU, OMC e
do multilateralismo que os EUA construíram e agora se empenham em destruir.
Será que Trump não tem mais com que se
preocupar do que com o julgamento de um presidente derrotado no Brasil? E Lula,
não estaria melhor e sendo mais útil trabalhando pelo equilíbrio fiscal, uma
relação produtiva com o Congresso e a aprovação de projetos de interesse
nacional, do que confraternizando com uma condenada por corrupção, em outro
país?
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