sábado, 19 de julho de 2025

Falta um projeto - Ivan Alves Filho*

Eu acredito que todo democrata radical, isto é, aquele que alcança a raiz do problema e percebe que a política se infiltra em todos os domínios da vida, deve estar refletindo sobre o que se passa com o Brasil há algumas décadas. A saber:

* Temos uma das piores distribuições de renda de todo o mundo;

* Somos um dos países mais violentos do mundo, com a terceira ou quarta população carcerária do planeta;

* Nossas carências em matéria de infraestrutura urbana (transporte, saneamento básico, favelas se multiplicando) são estarrecedoras;

* Contabilizamos, oficialmente, cerca de cinco milhões de brasileiros residindo fora do país;

* Estamos ficando para trás em matéria de novas tecnologias, ignorando as mutações na esfera do trabalho (automação, inteligência artificial, robótica, plataformas digitais);

* Saúde e Educação apresentam problemas gritantes e

* Finalmente, a nossa identidade cultural se ressente de um projeto de nação, como os demais setores da vida nacional. 

Precisamos encarar esse desmoronamento de frente. Ir um pouco além da conjuntura política imediata. Que falta nos faz um Plano de Metas, ou as Reformas de Base ou, ainda, um Plano Real. Se fôssemos nos referir a homens públicos, sentimos a falta de figuras como Luiz Carlos Prestes, Giocondo Dias, Gregório Bezerra, San Thiago Dantas, Roberto Morena, Marechal Teixeira Lott, Ulysses Guimarães  Renato Archer e Itamar Franco, por exemplo. Entre os pensadores, escritores e artistas, poderíamos citar Astrojildo Pereira, Josué de Castro, Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Milton Santos, José Paulo Paes, Alceu Amoroso Lima, Alberto Passos Guimarães, Nelson Werneck Sodré, Ferreira Gullar, Caio Prado Júnior, Edison Carneiro, Enio Silveira, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro, Cláudio Santoro, Graciliano Ramos, Djanira, Di Cavalcanti, Cecília Meireles, Anisio Teixeira, Athos Bulcão, Guimarães Rosa e tantos outros.

O que houve com o nosso país? Confesso a minha perplexidade.

Se o regime militar desmantelou a ação dos estadistas e formuladores que atuaram, sobretudo, nos anos 50 e 60, a geração que despontou no bojo da abertura política tampouco recolheu o seu legado. E a mediocridade passou a dominar, essa é que é a verdade. 

A redemocratização nos frustrou e está mais do que na hora de refundar o Brasil.  Nós últimos 40 anos, tivemos um presidente que golpeou a Constituição para se reeleger, já ao final do seu primeiro mandato. Legislou em causa própria. E não só: acompanhamos o processo de dois outros presidentes impichados. Mais: três ex-presidentes foram presos e um tornado inelegível - e agora portador de tornozeleira eletrônica em casa. 

Se os fatos alinhados acima não possuem o poder de nos alertar para a extensão do nosso desmoronamento, eu  sinceramente não saberia mais o que dizer.

*Ivan Alves Filho, historiador.

 

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