quarta-feira, 16 de julho de 2025

Interferência de Trump não desvia Bolsonaro da rota da cadeia - Bernardo Mello Franco

O Globo

PGR ignorou pressão americana ao pedir condenação de ex-presidente por tentativa de golpe

Se a chantagem de Donald Trump era a última aposta de Jair Bolsonaro para escapar da cadeia, o capitão já pode tirar as medidas do uniforme. A Procuradoria-Geral da República apresentou suas conclusões sobre o processo do golpe. Pediu que o ex-presidente seja condenado por cinco crimes, cujas penas podem somar 43 anos de prisão.

Em 517 páginas, o procurador Paulo Gonet descreve Bolsonaro como chefe da organização criminosa que tentou impor um novo regime autoritário. Afirma que ele foi “principal articulador”, “maior beneficiário” e “autor dos mais graves atos” da conspiração contra a democracia.

O calhamaço desmonta as teses de defesa do capitão e seus comparsas. Os ataques ao voto eletrônico não eram arroubos de retórica. Faziam parte de uma campanha para minar a confiança no sistema eleitoral e incitar uma rebelião contra o resultado das urnas. O silêncio após a derrota não foi por abatimento. Tinha o objetivo de radicalizar a tropa e “instaurar o caos social”.

A Procuradoria também mostra que a intentona de 8 de Janeiro foi tudo menos um levante popular espontâneo. Seus líderes tinham treinamento militar e dominavam técnicas de guerrilha. Transformaram grades de segurança em escadas para invadir o Congresso e usaram mangueiras de incêndio para dissipar nuvens de gás lacrimogêneo.

No documento entregue ao Supremo Tribunal Federal, Gonet parece surpreso com a desfaçatez dos golpistas. Certos de que ficariam impunes, eles não se preocuparam em produzir álibis ou destruir provas. “A organização criminosa documentou a quase totalidade das ações narradas na denúncia”, anota o procurador, antes de listar gravações, manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagens eletrônicas.

O chefe do Ministério Público Federal não mencionou as ameaças de Trump, mas deixou claro que a pressão externa não vai alterar os rumos do processo judicial. Com ou sem tarifaço, o capitão e seus generais devem continuar em marcha acelerada para o xadrez.

 

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