Correio Braziliense
A tática reúne duas frentes: uma política,
comandada pelo próprio presidente, que busca apoio global em defesa da
democracia e da soberania nacional, enquanto Alckmin intensifica as
articulações com os empresários em busca de acordos
A menos de duas semanas para o prazo final do
tarifaço de 50% sobre os produtos nacionais, estabelecido pelo governo Donald
Trump, dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em
Santiago, no Chile, para intensificar a articulação global em torno da defesa
da democracia e da preservação da soberania, enquanto o presidente em exercício
e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin,
reforça as conversas com os empresários.
O governo definiu uma estratégia bem clara para reagir à pressão de Trump. Na corrida contra o relógio, Lula e Alckmin vão evitar falar no ex-presidente Jair Bolsonaro e na família dele. A resposta padrão será que se trata de um assunto do Judiciário, mais precisamente do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim há um evidente esforço de afastar a trama política da diplomática, econômica e comercial. Tanto o presidente da República quanto o vice-presidente vão focar nas negociações e nos eventuais avanços que poderão vir.
São duas frentes de batalha para impedir os
possíveis prejuízos na economia brasileira, atingindo os mais diversos setores.
Em Santiago, Lula participa da Cúpula de Alto Nível chamada de Democracia
Sempre" com as presenças dos presidentes chileno, Gabriel Boric Font; do
Uruguai, Yamandú Orsi; e da Colômbia, Gustavo Petro, além do primeiro-ministro
da Espanha, Pedro Sánchez, a partir desta semana. Um comunicado prévio foi
rascunhado pelo grupo.
No texto, os líderes ressaltam o momento
desafiador de proteger a democracia em meio aos ataques de governos
autoritários. O nome de Trump não é citado, mas nem precisa, pois o documento
reitera a preocupação com o "retrocesso nos direitos fundamentais",
assim como a disseminação de desinformação e os discursos de ódio, além das
redes criminosas, que ocupam o universo on-line.
O rascunho ressalta que as democracias só se
mantêm quando construídas conjuntamente, sendo capazes do fortalecimento da
coesão social. No texto, os líderes ratificam que o sistema democrático pode se
fragilizar, caso não seja cuidado e mantido. Daí a importância das estratégias
em favor do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, da justiça social
e dos direitos humanos.
Esforço coletivo
Lula, ao lado de Sánchez, da Espanha; Boric,
o anfitrião do encontro em Santiago; Yamandú Orsi, do Uruguai; e Petro, da
Colômbia, farão uma declaração conjunta hoje no fim do dia. A ideia é ressaltar
a importância do respeito à soberania de cada país, da autonomia das nações e,
sobretudo, da grande nação latina. O primeiro-ministro é o símbolo da voz
crítica ao governo Trump e uma voz diferenciada na União Europeia.
Determinado a apoiar as tratativas, como do
Brasil, do México, do Canadá, da China e da própria União Europeia, Sánchez
terá reuniões fechadas com Lula, Boric, Orsi e Petro. A ideia é articular o
esforço comum de fortalecimento coletivo para o enfrentamento da pressão e
reação. Exatamente como o escrito no rascunho do documento final, os líderes
defenderam a democracia como única alternativa política e sua manutenção ao
empenho coletivo.
Do Chile, Sánchez viaja para Montevidéu, no
Uruguai, e depois para Assunção, no Paraguai. O primeiro-ministro tem reuniões
com empresários e encontro com a senadora Lucía Topolansky, viúva do
ex-presidente Pepe Mujica, ícone da esquerda e representante da defesa da
democracia. Nos dois países, ele falará com a imprensa local. A disposição é
reiterar a necessidade de proteção dos sistemas democráticos em meio à pressão
das forças autoritárias que atentam contra os direitos humanos e podem levar o
mundo a um retrocesso.
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