quinta-feira, 3 de julho de 2025

Lula vs. Congresso ou justiça tributária? - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

A imprensa está perdendo a oportunidade de debater seriamente a justiça tributária

A cobertura da imprensa nacional, inclusive da Folha, sobre o decreto do IOF superdimensiona a linha editorial Lula vs. Congresso e, assim, perde a oportunidade de debater seriamente a justiça tributária.

Ao leitor vende-se a ideia de que a notícia do dia é, para usar a famosa metáfora jornalística, que o cachorro mordeu seu dono, quando na verdade estamos diante da rara situação em que desta vez foi o dono que mordeu seu cão: no debate sobre IOF, estamos diante não de mais um episódio corriqueiro de picuinhas políticas, mas sim de um momento atípico, em que se discutem, finalmente, projetos distintos de país.

No vale-tudo dos jornais —no qual o debate sobre taxação de super-ricos é traduzido como pauta antiCongresso e de polarização social—, sabe-se mais sobre quem almoçou com quem e quem ignorou a ligação de quem e menos sobre os interesses privados que sustentam a pouca ou nula taxação de super-ricos no país e como esses interesses interseccionam com os de parlamentares dispostos a sacrificar a estabilidade fiscal.

Até como picuinha o roteiro jornalístico fica ruim: se é para sabermos fofocas, ao menos deveríamos saber quais empresários pressionaram Hugo Motta e colegas e deveríamos ser lembrados de que minorias parlamentares (caso do atual governo) procurarem o STF não é afronta, mas o arroz e feijão do controle constitucional desde 1803.

Carecem de ser feitas perguntas vitais.

Qual é o tamanho dos benefícios dos setores que apoiam o centrão e a direita no Congresso? Em comparação a outras economias capitalistas, qual a dimensão da lambança tributária do andar de cima? Por que o dito mercado não se escandaliza com a gastança pouco transparente de emendas parlamentares mas se delicia com medidas antiestabilidade fiscal como a derrubada do decreto do IOF? Qual é a opinião da população sobre a taxação de super-ricos e a redução de impostos para pobres e classe média? Sem essas respostas (ou sequer perguntas), falta cobertura jornalística.

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