O Globo
Negociadores devem continuar a buscar solução
com EUA para tarifas. Ao mesmo tempo é preciso se preparar para enfrentá-las
sem improviso fiscal
Faltam nove dias para a data que Donald Trump marcou
para o começo do tarifaço. O ministro Fernando
Haddad disse, em entrevista à CBN, que o Brasil nunca saiu da mesa de
negociações. Ao mesmo tempo, prepara
planos de contingência. O Brasil tem que viver esses dias fazendo
exatamente isso: esforço negociador e preparação para os cenários alternativos.
Nesse momento, a incerteza já atinge produtores, exportadores, investidores e
financiadores, com reflexos na economia.
Tudo
acontece antes de acontecer na economia, porque as decisões precisam ser
tomadas com antecedência. A incerteza tem efeito paralisante, o que
por si tem impacto econômico. Empresas já estão tendo prejuízo, principalmente
os fornecedores de produtos perecíveis. Não se pode esperar o dia primeiro de
agosto para depois pensar em como resolver os problemas.
Ontem, na entrevista de Haddad ao Jornal da
CBN, eu lhe perguntei se o governo tem planos para socorrer empresas atingidas
por esse tarifaço, se ele ocorrer.
— Numa situação como essa, de agressão externa injustificável, o Ministério da Fazenda se prepara para todos os cenários. Então, nós temos plano de contingência para qualquer decisão que venha a ser tomada pelo presidente da República. Mas eu insisto em dizer que o Brasil jamais saiu e jamais sairá da mesa de negociação, porque não há compreensão da nossa parte de que essa situação perdure para benefício mútuo, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil. Agora, o plano de contingência nós somos obrigados a fazer. É uma situação emergencial que não se previa até 15 dias atrás. Ninguém podia imaginar uma decisão unilateral dessa envergadura.
Há um grupo de trabalho preparando
alternativas de apoio aos setores prejudicados para apresentar esta semana ao
presidente. Quis saber se isso teria impacto fiscal e o ministro disse que não
necessariamente implicará em gasto primário. O apoio às empresas pode ser
imaginado de outra forma, como foi o caso no Rio Grande do
Sul.
A economia do Brasil é vulnerável a essas
elevações de tarifas de muitas formas, mas os Estados Unidos também têm muito a
perder se continuar esse ambiente de conflito com o Brasil. O café da manhã
fica mais caro por lá, a carne mais pesada, mas o grande problema ainda não
inteiramente dimensionado é o efeito que isso terá na cadeia produtiva
industrial. Há muitas interconexões.
Essa realidade começa a ser dita às
autoridades do governo Trump. O comércio intrafirmas americanas é muito grande.
As exportações dos EUA para o Brasil de insumos, peças e componentes só
continuarão se pudermos exportar para os Estados Unidos. E essas taxas tornam
muito do comércio inviável. Empresas americanas são investidoras longevas no
Brasil e essa supertarifa pega todos no contrapé.
Ontem mesmo, uma
empresa americana, a Johanna Foods, importadora e distribuidora de suco de
laranja do Brasil, decidiu ir à Justiça dizendo que a medida de Trump, tomada
para apoiar Bolsonaro, é inconstitucional e ameaça a sobrevivência do seu
negócio. Para manter a importação teria que repassar um aumento de 20%
a 25% dos preços ao consumidor. Outros casos assim vão surgir.
Esse entrelaçado das duas economias é que
mantém a esperança de que haja uma saída negociada. Tudo só avançará se eles
suspenderem a chantagem institucional feita no início da crise. O Brasil não
pagará o resgate exigido, ou seja, o Judiciário não vai interromper a ação
penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, nem o Banco Central vai criar
qualquer limitação para o Pix.
O ministro Haddad contou ontem, na entrevista
à CBN, que esteve com o secretário do Tesouro Scott Bessent há dois meses,
discutiram a saída para o aumento de 10% decretado em abril. O Brasil defendia
que era injusta a sobretaxa de 10%, mas Trump já estava preparando o ataque de
50%. O argumento do Brasil, quando está na mesa de negociação, é que o segundo
maior superávit dos Estados Unidos é com o Brasil. O primeiro é com o Reino
Unido com quem eles já fizeram um acordo.
Os dias permanecem turvos. Os negociadores
brasileiros precisam continuar tentando, enquanto o governo tem que preparar,
com inteligência fiscal, os planos para acudir empresas se for necessário. Se
houver saída improvisada, o custo fiscal será maior. Nesse caso o peso recairá
sobre toda a economia.
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