domingo, 6 de julho de 2025

Prouni revela mais uma estatística do atraso - Elio Gaspari

 Globo

O Ministério da Educação divulgou a lista de ofertas de 211 mil bolsas de estudo do Prouni em faculdades particulares. Encabeçam a relação os cursos de Administração (13,8 mil vagas), Direito (13,2 mil), Pedagogia (11,3 mil) e Educação Física (9 mil).

Atrás vêm 8,2 mil bolsas para estudantes de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Engenharia Civil (8,6 mil). Disso resulta que algum dia o ProUni terá produzido 22 mil advogados ou professores de Educação Física e 16,8 mil engenheiros civis e desenvolvedores de sistemas. Tudo bem para quem sonha com um país de gente litigante e musculosa.

O Censo de 2022 mostrou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados para 518 mil engenheiros. A China tem 6,7 milhões de estudantes de Engenharia, número superior aos quatro milhões de brasileiros matriculados em toda a sua rede de ensino superior, pública e privada.

O Prouni é uma das joias da coroa do governo Lula 1.0 e, em 20 anos, beneficiou 3,4 milhões de estudantes. Ele se compara, em ponto menor e com critérios diferentes, à legislação GI Bill do presidente Franklin Roosevelt. Essa iniciativa bancou as matrículas em universidades dos soldados que serviram na Segunda Guerra Mundial. Beneficiou 25 milhões de jovens, entre os quais dois futuros presidentes (Gerald Ford e George Bush I). Deveu-se à GI Bill o surgimento de uma poderosa classe média nos Estados Unidos.

Quando a GI Bill começava a dar seus frutos, o presidente Getulio Vargas criou em 1950 o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA. Era um tempo de sonhos, e esse era o projeto do brigadeiro Casimiro Montenegro. O ITA produziu gerações de engenheiros, a Embraer e o polo industrial de São José dos Campos.

Felizmente, Lula 3.0 criou um campus do ITA em Fortaleza, mas os números dos cursos de Engenharia do Brasil apontam para um país que marcha em direção ao atraso. Ninguém pode obrigar um jovem a ser engenheiro ou a entrar no mundo da computação, mas é possível incentivá-lo. Nesse aspecto, o governo faz menos do que é preciso e a iniciativa privada pouco faz. Deixando-se de lado a China que a cada dia faz mais, os Estados Unidos viraram um colosso porque, entre outras coisas, no século XIX, seus empresários criaram institutos de tecnologia na Califórnia e em Massachusetts.

Trump saiu do teatro

No início de junho, de caso pensado ou não, o presidente americano Donald Trump pôs sua marca na diplomacia internacional. Abruptamente, ele deixou a reunião dos chefes de Estado do G-7, no Canadá, e voltou para Washington, onde precisava cuidar da vida.

O G-7 reúne Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Japão e a União Europeia. Suas reuniões ecoam as conferências de Yalta e Potsdam, de 1945, quando os Três Grandes — Franklin Roosevelt (EUA), Winston Churchill (Inglaterra) e Stalin (União Soviética) — redesenharam o mapa da Europa.

Passou o tempo, os Três são sete e as reuniões de chefes de Estado viraram arroz de festa, dando aos governantes agendas irrelevantes, jantares e fotografias. Pior: aqui e ali realizam-se reuniões da cúpula disso ou daquilo.

Na semana passada reuniram-se em Buenos Aires os chefes de Estado do Mercosul. Mal ela terminou, começou no Rio a reunião de cúpula dos Brics. Deveria reunir os chefes de Estado de 28 países, entre os quais estariam a China, Rússia, Egito, México e Turquia. Os governantes desses países e mais uns dez anunciaram que não viriam à reunião. Como Trump, ele têm mais o que fazer.

O teatrinho das reuniões de cúpula pode estar ainda na moda.

Os golpistas no plenário do STF

Pelo andar da carruagem, o ministro Alexandre de Moraes poderá dar um jeito para que as condenações dos envolvidos pela trama golpista de 2022/23 acabem confirmadas pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.

Na Primeira Turma, onde votam cinco ministros, a descida da lâmina é coisa certa. Para não ficar dúvida, o caso irá ao pleno, com seus 11 votos.

Reação jeca

Lula 3.0 reagiu a um artigo da revista The Economist com uma carta do chanceler Mauro Vieira falando bem de Lula, na qual afirmou que sua “autoridade moral” é “indiscutível”. Indiscutível não é, tanto que a revista discutiu-a.

Cartas desse tipo são coisas de jecas e quase sempre sopradas pelo Palácio do Planalto, afagando o ego dos presidentes. (Uma seleta das cartas de chanceleres e embaixadores brasileiros defendendo a ditadura fazem vergonha ao Itamaraty.)

A reação epistolar mostra que Lula 3.0 acalmou-se em relação ao Lula 1.0. Em 2004 ele reagiu a um artigo do correspondente do New York Times Larry Rohter cancelando seu visto de permanência no Brasil.

Salvou-o do vexame o ministro Márcio Thomaz Bastos, que estava na Suíça e apagou o incêndio ao retornar a Brasília.

O patrono das fake news

Enquanto o Brasil procura um caminho para controlar a circulação de notícias falsas nas redes, um curioso listou a relação de Pindorama com a propagação de fake news.

O Brasil fica na América, continente batizado por um cartógrafo alemão em homenagem ao Américo Vespúcio. Como se sabe, quem primeiro chegou ao Novo Mundo foi Cristóvão Colombo, em 1492. Vespúcio só passou por aqui nove anos depois. Enquanto Colombo acreditava que tinha chegado à Índia, ele percebeu a massa continental da América do Sul.

Vespúcio esbaldou-se com a narrativa de suas passagens pela chamada Terra dos Papagaios, a partir de 1501. Descreveu a costa do Brasil em cartas que viraram um livro, o “Mundus novus”, traduzido em pelo menos sete idiomas com cerca de 60 edições. Inventou (ou alguém inventou em seu nome) que viu leões, ursos e gigantes. Disse que por aqui as pessoas viviam até 150 anos.

Naquele paraíso terrestre do navegador florentino, os nativos “não fazem nenhuma troca ou comércio para comprar ou vender, bastando-lhes o que a natureza oferece: desprezam ouro, pedras preciosas, joias que na Europa consideramos riquezas.”

Bacellar tem pressa

Pelos seus planos, o governador do Rio, Cláudio Castro, deixa o Palácio Guanabara, candidatando-se ao Senado, entre fevereiro de março de 2026.

Pelos planos de seu substituto, o deputado Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia, ele deverá renunciar em dezembro.

Bacellar é uma das vigas mestras de Jair Bolsonaro na política fluminense.

Orçamento militar

Durante a campanha eleitoral, Lula prometia aos militares uma política de investimentos nas três Forças e de dinamização da conturbada indústria de defesa nacional. Passaram-se mais de dois anos e as restrições orçamentárias deixaram as promessas no papel.

Os militares aceitam viver com pouco dinheiro, mas seus brios profissionais são feridos quando congelam-se iniciativas modernizadoras para seu reequipamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.