sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A União faz a força, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Efeito virtuoso da operação contra as facções criminosas: empurrar adiante o pacote da segurança

Além de ser a maior e mais impactante operação contra o crime organizado no Brasil, a ação conjunta da Polícia Federal, de PMs estaduais, da Receita Federal e das Receitas estaduais tem um efeito colateral virtuoso: joga luzes sobre a necessidade e a urgência do pacote da Segurança Pública que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, tenta a duras penas aprovar. Um projeto imprescindível para unir forças – aliás, as forças de segurança – contra uma praga que não é apenas nacional, mas transnacional.

A espinha dorsal da proposta é óbvia, mas mexe com ciúmes, disputas de poder, espaço e recursos: conceder deveres, direitos e meios ao governo federal, de esquerda, direita ou centro, contra facções criminosas que estão disseminadas por todas as regiões e Estados, infiltradas nos Poderes e nas instituições.

Em tese, todo mundo concorda com a atualização da Constituição e das leis para adequar a resposta do Estado a essa nova realidade, em que facções não atuam mais em favelas do Rio, São Paulo, Recife, Salvador... Estão por toda parte, dominando o sistema penitenciário, recrutando mercenários, corrompendo funcionários e políticos e lavando dinheiro à luz do dia em poderosos setores privados.

Apesar de todo mundo saber, e de a sociedade sofrer com essa audácia sem fim, governadores de oposição preferem manter tudo como está. Quando o caldo entorna, e entorna toda hora, voam para bater de porta em porta e pedir socorro federal – legalmente limitado, porque Segurança Pública é atribuição dos... Estados. Logo, é preciso modernizar as leis, não para a União invadir a competência dos Estados, mas para todos trabalharem juntos.

Assim, a operação de ontem, que desbaratou quadrilhas inteiras, escancarou lucros de bilhões de reais e desembocou na intocável Avenida Faria Lima, foi uma aula sobre o avanço incontrolável do crime organizado para nós, os leigos, e uma lição de trabalho conjunto e eficiência das forças responsáveis pela Segurança.

O pacote, desenhado e discutido no Ministério da Justiça desde a gestão Flávio Dino, encontra em Lewandowski um guerreiro incansável. Enfrentou a resistência de governadores, da Casa Civil, de setores da mídia e, por fim, da maldita polarização imobilizante no Congresso.

Que a operação de ontem atraia bom senso e racionalidade da República e da Federação e que o interesse público prevaleças obre mesquinharias ideológicas, políticas e pontuais. Adendo: se há um órgão que vem atuan doco mexcelênciaéa PF, que não deveria se apequenar em disputas com o MP na Lei Antimáfia. A união (ou União) faz a força.

 

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