Folha de S. Paulo
Prisão de Bolsonaro piora
conflito externo e alimenta insurreição permanente da extrema direita
O Brasil tem de "saber
sofrer", diz um integrante do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
a respeito dos ataques de Donald Trump.
Cita, em brincadeira agoniada, o ex-técnico da seleção brasileira de futebol
masculino, o Tite: é preciso ser esperto para aguentar momento ruim de pressão.
É uma pessoa que advoga a
atitude mais discreta possível do governo e que torce para que o Supremo ande
assim também. Isto é, que conduza o processo de Jair
Bolsonaro do modo menos conturbado possível.
Para certas pessoas do governo Lula, para o comando do Congresso e para integrantes do STF, a prisão domiciliar de Bolsonaro foi ruim para a estratégia de negociação do país e para quem prefere atenuar a conturbação política, que será crescente. Relatos de que a atitude de Alexandre de Moraes não foi bem recebida pela maioria do Supremo foram confirmados por Mônica Bergamo, nesta Folha.
Este integrante do governo
obviamente diz que o governo não vai admitir conversas sobre instituições
brasileiras com os Estados
Unidos. Mas seria conveniente "tirar a luz" desses assuntos e
trabalhar para diminuir o ruído do conflito político. Neste caso, quanto mais
dramático o processo, maiores as perdas para o governo, no Congresso também.
Notava-se nesta terça que mesmo lideranças e setores mais moderados da direita
voltaram a fazer declarações públicas de solidariedade a Bolsonaro.
No entanto e isto posto,
nota-se como as agressões de Trump passaram a moldar as atitudes do sistema
político inteiro.
O comando do Congresso e,
por ora, a maioria dos líderes partidários não têm intenção de colocar em
votação projetos de anistia para golpistas em geral. O comando da Câmara,
presidente e próximos, pretendem deixar de lado, enquanto puderem, o caso de
Eduardo Bolsonaro, que conspira contra instituições e interesses brasileiros.
Alexandre de Moraes talvez mire os filhos todos.
Quando tomarem pé e conta da
situação de baderna bolsonarista no Congresso, pretendem fazer com que os
trabalhos parlamentares sigam como se a situação fosse normal: negociações de
projetos prioritários e negociações para azeitar emendas, "business as
usual".
Mas a situação pode sair do
controle, novas coalizões podem se formar. A situação não é normal. Além da
política de insurreição permanente comandada pela família, Bolsonaro pai deve
ser condenado antes do final do ano, aproxima-se a eleição agonística de 2026 e
há o risco duradouro de ataques políticos e econômicos mais violentos dos
Estados Unidos.
De início, a agressão de
Trump pode ter passado a impressão de que os Bolsonaro poderiam ficar mais
isolados, sem mais. Não foi assim, como indica também o Datafolha. Segundo a
pesquisa, 46% do eleitorado é contra a prisão de Jair Bolsonaro, resultado atenuado
de leve por aqueles 61% que não votariam em candidato que prometesse anistiar o
capitão e outros golpistas.
Trump pode anunciar sanções
a autoridades brasileiras. Há o risco de que os ataques possam ir além das
restrições comerciais diretas: pode afetar relações com terceiros países,
finanças e investimentos no Brasil. As tarifas já ajudaram a aumentar a conturbação
política. A inabilidade para administrar o conflito econômico externo e a
guerra política doméstica, isolando o quanto possível os golpistas, pode ter
consequências funestas. Para administrar a crise, é preciso "saber
sofrer", baixar as temperaturas e tentar anestesiar conflitos.
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