domingo, 24 de agosto de 2025

Cinco mudanças no cenário global, por José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

Num quadro já complexo, irrompe o novo presidente dos EUA, com sua agenda equivocada

Tudo junto, misturado e ainda sem um rumo claro. Esta é a mais simplificada descrição que se pode fazer do cenário global nos dias de hoje.

Entendo que existam cinco tendências globais que vêm se fortalecendo há um certo tempo e que já apontavam para grandes mudanças no cenário, na direção de um sistema multipolar.

A primeira destas tendências é a mudança do papel da China no sistema econômico global, de complementar as economias maduras de mercado para um gigante que busca afirmar seu papel no mundo e ampliar sua influência. Isto ensejava uma resposta dos EUA já no governo Biden e este é o ponto mais importante no entendimento da situação atual.

A segunda tendência é a progressiva perda de efetividade dos organismos internacionais de governança criados após a 2ª Guerra Mundial: ONU/Conselho de Segurança, FMI, Banco Mundial e a OMC.

A terceira é a aceleração da transição demográfica com a drástica queda nas taxas de natalidade ao redor do mundo.

Vários países já se encontram na fase de queda absoluta da sua população, elevando o número de nações com o risco de ficarem velhas antes de ficarem ricas. A questão migratória passa a ser tão central quanto divisória nas políticas nacionais.

A quarta é a mudança climática, sobre a qual não existem mais dúvidas. É um vetor novo a complicar o quadro.

A necessária transição energética que daí decorre, implica numa mudança de paradigma da dupla petróleo/motor a combustão.

Entretanto, à medida que a transição começou a andar, resultou claro que o processo será muito mais desafiante do que se imaginava, por razões técnicas, econômicas e políticas.

Finalmente, vemos uma enorme mudança tecnológica tipificada pelo desenvolvimento e as consequências da inteligência artificial. Há uma aceitação generalizada de que esta tecnologia será transformacional, mas que coloca desafios regulatórios enormes.

É neste quadro, já complexo, que irrompe o novo presidente americano, iniciando um período caótico no mundo com sua agenda equivocada e extremamente agressiva.

Ao contrário do antecessor, o objetivo é “mover-se rápido, quebrando as coisas”, sem se preocupar em construir nada.

No plano econômico tratase de submeter antigos aliados através de um nível elevado, mas incerto, de tarifas, ao lado de uma política fiscal bastante expansionista.

O cenário global passa a depender do que vai ocorrer nos EUA. A inflação vai mesmo se elevar, como acredito? E o que fará o FED?

Apertem os cintos.

 

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