Folha de S. Paulo
Julgamento de golpistas no STF é avanço
institucional, marca decadência política do ex-presidente, mas não zera sua
influência eleitoral
Já comprei pipoca para assistir, a partir da
semana que vem, ao julgamento de
Jair Bolsonaro e de militares que o apoiavam por tentativa de
golpe de Estado. Não há muita dúvida nem sobre o veredicto que
será dado à maioria dos réus nem sobre a importância histórica desse juízo.
Um dos erros em série cometidos pelo Brasil foi o de nunca responsabilizar plenamente os militares pelas várias rupturas e viradas de mesa que promoveram ao longo de nossa não tão longa história democrática. Impunidade nessas situações é praticamente um convite à próxima intervenção.
Espera-se que a condenação agora eleve
substancialmente o custo de ignorar as regras fundamentais da democracia e
ponha fim ao ciclo de golpismo barato.
Politicamente, a situação é mais ambígua. É
certo que o processo contra o ex-presidente, encimado pela assombrosa campanha
de Eduardo
Bolsonaro por sanções dos
Estados Unidos contra o Brasil, marca uma redução da influência da
família.
Receio, porém, que os Bolsonaros, apesar da
trajetória descendente, ainda conservem força suficiente para vetar
candidaturas de direita, o que significa que não voltarão imediatamente para o
campo da irrelevância política de onde não deveriam ter saído.
Em relação ao pleito de 2026, as coisas são
ainda mais fluidas. A polarização transforma a disputa naquilo que meus colegas
das páginas de esporte chamam de jogo de seis pontos. Perdas de um lado são
ganhos para o outro e vice-versa.
No início do ano, o governo Lula parecia
caminhar resolutamente para as cordas, mas as reinações de Dudu combinadas com
preços de comida um pouco mais comportados recolocam o petista no jogo com boas
chances.
Nada garante, contudo, que Lula não cometerá
nenhuma tolice digna de Bolsonaros ou verá sua proverbial sorte revertida.
O que quer que aconteça na eleição, no plano
institucional a condenação de golpistas representa inequívoco avanço, o que já
faz valer a pipoca.
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