quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Já comprei pipoca para ver Bolsonaro, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Julgamento de golpistas no STF é avanço institucional, marca decadência política do ex-presidente, mas não zera sua influência eleitoral

Já comprei pipoca para assistir, a partir da semana que vem, ao julgamento de Jair Bolsonaro e de militares que o apoiavam por tentativa de golpe de Estado. Não há muita dúvida nem sobre o veredicto que será dado à maioria dos réus nem sobre a importância histórica desse juízo.

Um dos erros em série cometidos pelo Brasil foi o de nunca responsabilizar plenamente os militares pelas várias rupturas e viradas de mesa que promoveram ao longo de nossa não tão longa história democrática. Impunidade nessas situações é praticamente um convite à próxima intervenção.

Espera-se que a condenação agora eleve substancialmente o custo de ignorar as regras fundamentais da democracia e ponha fim ao ciclo de golpismo barato.

Politicamente, a situação é mais ambígua. É certo que o processo contra o ex-presidente, encimado pela assombrosa campanha de Eduardo Bolsonaro por sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, marca uma redução da influência da família.

Receio, porém, que os Bolsonaros, apesar da trajetória descendente, ainda conservem força suficiente para vetar candidaturas de direita, o que significa que não voltarão imediatamente para o campo da irrelevância política de onde não deveriam ter saído.

Em relação ao pleito de 2026, as coisas são ainda mais fluidas. A polarização transforma a disputa naquilo que meus colegas das páginas de esporte chamam de jogo de seis pontos. Perdas de um lado são ganhos para o outro e vice-versa.

No início do ano, o governo Lula parecia caminhar resolutamente para as cordas, mas as reinações de Dudu combinadas com preços de comida um pouco mais comportados recolocam o petista no jogo com boas chances.

Nada garante, contudo, que Lula não cometerá nenhuma tolice digna de Bolsonaros ou verá sua proverbial sorte revertida.

O que quer que aconteça na eleição, no plano institucional a condenação de golpistas representa inequívoco avanço, o que já faz valer a pipoca.

 

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