Folha de S. Paulo
O erro de cálculo dos
extremistas oferece a chance de a política se livrar da armadilha do populismo
Aquilo que o bom senso não
conseguiu, a insensatez dos operadores brasileiros de Donald Trump pode
alcançar, proporcionando um respiro na divisão política local lastreada na
radicalização e no personalismo, irmão gêmeo do populismo que nos torna refém
do atraso.
Antagonistas sempre haverá, embates entre governo e oposição são da essência da democracia. Sem eles o que se tem é a ausência do contraditório, fator imprescindível ao exercício do espírito crítico numa sociedade plural e vigilante na cobrança ao atendimento de suas demandas por parte das lideranças.
Isso é uma coisa. Outra bem
diferente é o aprisionamento a dicotomias orquestradas por dois polos
divergentes que se retroalimentam.
Tal processo leva a escolhas
referidas na rejeição acrítica do oponente, dispensando-se a prática do
discernimento. O eleitorado fica, assim, posto eternamente na condição de
seguidor, quando deveria ser ele o condutor.
Não se trata, portanto, de
defender a ideia do atual governo de aproveitar o ensejo da ofensiva de Trump
contra o Brasil para promover um ambiente de união nacional em torno do
presidente Luiz Inácio da Silva (PT), sob a bandeira da soberania.
A oportunidade que se tem
agora —registrada na pesquisa do Datafolha de que há convicção quase unânime
sobre o prejuízo das sanções e repúdio da maioria à tentativa de interferência
no julgamento de Jair
Bolsonaro (PL)—
é a de não nos atermos apenas à oferta de dois pratos na balança.
Pode haver vida inteligente
fora deles. Certamente há, mas é preciso que isso se apresente à nação de
maneira convincente, consistente e independente das forças que se atraem por
gravidade e com isso interditam a circulação de boas ideias e projetos inovadores
para o país.
Tarefa que pode ser assumida
pelo centro, seja ele mais próximo da direita ou da esquerda, tanto faz. Desde
que seja democrático, civilizado e, sobretudo, capaz de se livrar de
performances retrógradas e imprimir nova dinâmica ao modo de fazer política no
Brasil.
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