O Globo
Presidente deixou claro quem imagina que será
seu adversário na urna eletrônica, ao citar nominalmente o governador de SP
durante reunião ministerial
O momento do jogo político devolveu a posse
de bola a Lula, mas a pergunta que nem seus ministros mais próximos arriscam
responder é: ela dura até o apito de final da partida, na eleição?
A recuperação, em certa medida ainda tímida,
da popularidade dele se deu muito mais por circunstâncias externas que por sua
capacidade de armar o jogo. Essa é uma das razões que impedem haver otimismo
exagerado no governo com os números das pesquisas e os próximos lances da
política.
A outra variável que explica a sensata moderação no otimismo é a economia. Na reunião ministerial de ontem, marcada por recados duros e claros de Lula, o ministro Fernando Haddad fez uma exposição, já na parte fechada à imprensa, sobre o que espera o Brasil neste fim de ano e em 2026. Deixou clara a preocupação com o efeito dos juros altos por prazo prolongado sobre a atividade econômica.
Por mais que o primeiro efeito político do
tarifaço tenha sido reaproximar Lula de setores que estavam de mal com o
governo e dar a parcelas do eleitorado a percepção de que ele agiu bem ao
defender os interesses e a soberania nacionais, no médio e longo prazos as
consequências para as exportações podem transformar a empatia em desgaste.
A oposição, que vive seu pior momento desde o
início de 2024, quando começaram os dissabores de Lula com o Congresso, conta
com solavancos na economia para que ele volte a perder popularidade e,
consequentemente, o fôlego eleitoral.
O presidente deixou claro quem imagina ser
seu adversário na urna eletrônica, ao citar nominalmente o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, na reunião do primeiro escalão. Ele é um veterano
da política, treinado em antecipar a direção do vento, mas nem precisou usar
tanto seu instinto, uma vez que, nas últimas semanas, Tarcísio entrou em campo
e pediu a bola — metafórica e literalmente, como na partida de futebol com
prefeitos que disputou ontem no Pacaembu.
Sua escalação definitiva ainda depende de
Jair Bolsonaro, mais pela lealdade atávica de Tarcísio que pela necessidade de
aval para que se viabilize. Os últimos levantamentos mostram que o golpismo
continuado da família Bolsonaro vai transformando sua chancela em kryptonita, e
não em aditivo para aqueles que buscam conquistar o voto do eleitor do espectro
que vai da centro-direita à direta. Funciona integralmente, hoje, apenas para a
extrema direita bolsonarista.
Ao cobrar, na lata, dos ministros dos
partidos do Centrão que decidam em que time jogarão, Lula poderá precipitar o
movimento que caciques do União Progressista já começaram a fazer: abandonar o
vestiário com a partida ainda em andamento.
Antonio Rueda e Ciro Nogueira, presidentes
respectivamente de União e PP, são hoje os maiores cabos eleitorais da candidatura
de Tarcísio. Foram os responsáveis por costurar o tombo que o governo levou na
composição da CPMI do INSS e estavam em jantar no domingo como avalistas junto
a uma plateia de empresários impacientes, garantindo que o governador será
candidato ao Planalto.
Leia também: O
pedágio caro de Tarcísio
Passado o julgamento de Bolsonaro, essas
definições eleitorais tendem a ganhar ainda mais urgência e dramaticidade. Lula
parece ter compreendido que tem de aproveitar o momento levemente favorável
para levar adiante projetos que podem reforçar seu slogan “Brasil para os
brasileiros”, em que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil
se encaixa perfeitamente.
O nó é que, para isso, terá de contar
justamente com aqueles que, hoje, estendem o tapete vermelho para recepcionar
seu principal oponente.
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