O Globo
Para salvar ex-presidente, extrema direita
quer forçar guerra entre Legislativo e Judiciário
Os bolsonaristas realizaram por 30 horas o
sonho de fechar o Congresso. Na manhã de terça, parlamentares de extrema
direita se entrincheiraram nos plenários da Câmara e do Senado. Foi um motim
contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, decretada na véspera pelo
ministro Alexandre de Moraes.
A rebelião evoluiu para um sequestro do
Parlamento. Os amotinados avisaram que só permitiriam a retomada dos trabalhos
mediante três exigências: anistia aos golpistas, fim do foro especial e
impeachment do ministro Moraes.
Porta-voz dos sequestradores, Flávio Bolsonaro apresentou a pauta como “pacote da paz”. Na verdade, o senador quer empurrar o Legislativo para uma guerra contra o Judiciário. Tudo em nome da impunidade do pai.
O pacote dos bolsonaristas é triplamente
enganoso. O objetivo da anistia não é salvar os autoproclamados “manés” do 8 de
Janeiro, que invadiram e depredaram prédios públicos. A ideia é melar o
julgamento do ex-presidente, chefe e beneficiário da trama golpista.
A proposta de acabar com o foro privilegiado
não tem nada de moralizante. O que a extrema direita quer é livrar o capitão e
seus generais do alcance do Supremo. Enviada à primeira instância, a
investigação teria que voltar à estaca zero. Isso também ocorreria com dezenas
de inquéritos que apuram desvios em emendas parlamentares.
A ideia do impeachment de Moraes não passa de
uma agenda de vingança. Os bolsonaristas pregam a cassação do ministro para
retaliá-lo por decisões e votos no Supremo. Aberto o precedente, ele seria
apenas o primeiro na lista de expurgos.
O motim terminou na noite de quarta, após um
acordo cujos termos só devem ser conhecidos nas próximas semanas. Da arruaça,
ficarão as imagens de senadores enrolados em correntes e deputados de
esparadrapo na boca, como se estivessem proibidos de falar. Dizendo-se
censurados, eles cassaram a palavra de colegas que pretendiam usar a tribuna
para comentar o fato da semana: a prisão de Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.