Folha de S. Paulo
Relacionamento entre os dois líderes não é
bom, mas ações do americano desvalorizam sua moeda, o que favorece o brasileiro
Parece seguro afirmar que Luiz Inácio Lula da
Silva e Donald Trump não
morrem de amores um pelo outro.
O relacionamento diplomático entre Brasil e EUA passa pelo que pode ser o pior momento da história e é difícil crer que a falta de entrosamento entre os dois líderes não tenha contribuído para essa situação.
É ridículo, porém, como querem os bolsonaristas, responsabilizar Lula pelo tarifaço e outras sanções que os EUA impuseram ao país —um ataque inédito à economia e à política nacionais. Essa é uma realização dos Bolsonaros, obtida com base em mentiras pespegadas em âmbito internacional e não só em escala local.
É forçoso, entretanto, reconhecer que Lula,
antes da crise, dera vários maus passos que agora podem estar cobrando seu
preço. Na condição de chefe de Estado do Brasil, ele jamais deveria ter se
posicionado em favor de Kamala Harris e
contra Trump no pleito americano, para dar um único exemplo. Líderes sábios não
se metem em processos eleitorais de outras nações.
Depois da crise, Lula não desperdiçou
oportunidades de dar estocadas em Trump. Materialmente, tem razão em todas elas
—e há muito mais que poderia ser dito. Mas, de novo, não é uma atitude
inteligente.
Lula, pelo cargo que ocupa e pela
possibilidade, ainda que remota, de vir a discutir diretamente com Trump
tarifas, é um dos poucos brasileiros que precisa pensar duas vezes antes de
falar mal do Agente Laranja.
Dadas as relações não exatamente amistosas entre
os dois, é curioso constatar que venha de Trump, "malgré soi", uma
relevante colaboração para a despiora da popularidade de Lula.
A desvalorização
do dólar, pela qual Trump dá a impressão de trabalhar duro, tem um
efeito anti-inflacionário que ajuda bastante o brasileiro, talvez até mais que
a bandeira da defesa da soberania nacional.
A última pesquisa Quaest mostra que foi entre os pobres do Nordeste que Lula mais ganhou pontos —uma população que costuma olhar mais para a conta do supermercado do que para as intrigas da política internacional.
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