O Estado de S. Paulo
A
partir do encontro no Alasca com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o
presidente dos Est a dos Unidos, Donald Trump, não pretendeu apenas um
resultado que lhe dê o Nobel da Paz. Quis dar mais um passo em direção à
mudança da nova ordem mundial, para que tudo fique com sua cara.
Antes, uma carga de perplexidade: as instituições que construíram o sucesso político e econômico do império americano, de repente, não valem mais. São apontadas como razões do enfraquecimento dos Estados Unidos e do fortalecimento de outras potências emergentes, a ponto de exigir a virada que traga de volta a grandeza anterior.
A justificativa mais repetida por Trump para as convulsões que promove é a do definhamento da economia dos Estados Unidos, produzido pelo regime de livre comércio — um dos pilares do neoliberalismo, doutrina celebrada desde os tempos dos pais fundadores do país. Em seu lugar, Trump instituiu o protecionismo escrachado, baseado em tarifaços arbitrários. Denunciou a Organização Mundial do Comércio, o xerife global contra as práticas desleais do comércio, refundada em 1944 sobre os alicerces do GATT, junto com as outras instituições de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. O que conta não é mais a livre concorrência, estatuto adotado pelas elites dos Estados Unidos, mas o fortalecimento do capital americano por iniciativa do estado.
A
democracia é a vítima concomitante. Trump vai destruindo o sistema de freios,
pesos e contrapesos – essencial para impedir a concentração do poder político
–, sabota o judiciário e força o uso de leis autoritárias, como a Magnitsky,
para quebrar a oposição tanto dentro quanto fora dos Estados Unidos. A ONU e a
Unesco estão sob esvaziamento. As mais renomadas universidades são
escancaradamente sabotadas. Agências independentes de estado, como o banco
central americano, são fortemente combatidas. A encarregada das estatísticas de
emprego nos Estados Unidos foi demitida porque Trump não gostou dos números que
viu.
O
fim do regime de livre comércio e o protecionismo instaurado produziram uma
reviravolta no sistema de fluxos de produção e de distribuição de
matérias-primas e bens acabados.
A
forte deterioração das contas públicas, que vem de longe, acaba de ser
exacerbada pelo último pacote fiscal, a Big Beautiful Bill, que reduziu
impostos e cortou despesas sociais. É o que vem produzindo a desvalorização do
dólar, a alta dos juros de longo prazo e movimentos de rejeição do dólar como
moeda global de reserva.
Depois
de rejeitar o Acordo de Paris, Trump retirou o apoio à produção de carros
elétricos e voltou a fortalecer a produção de combustíveis fósseis. Para ele, o
esforço ambiental enfraquece o sistema produtivo local.
O
que mais o mundo terá de mudar na tentativa de moldá-lo à sua imagem e
semelhança? E como ficarão os Estados Unidos e sua relação com a China?
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