domingo, 17 de agosto de 2025

Trump quer o mundo com a cara dele, por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A partir do encontro no Alasca com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente dos Est a dos Unidos, Donald Trump, não pretendeu apenas um resultado que lhe dê o Nobel da Paz. Quis dar mais um passo em direção à mudança da nova ordem mundial, para que tudo fique com sua cara.

Antes, uma carga de perplexidade: as instituições que construíram o sucesso político e econômico do império americano, de repente, não valem mais. São apontadas como razões do enfraquecimento dos Estados Unidos e do fortalecimento de outras potências emergentes, a ponto de exigir a virada que traga de volta a grandeza anterior.

A justificativa mais repetida por Trump para as convulsões que promove é a do definhamento da economia dos Estados Unidos, produzido pelo regime de livre comércio — um dos pilares do neoliberalismo, doutrina celebrada desde os tempos dos pais fundadores do país. Em seu lugar, Trump instituiu o protecionismo escrachado, baseado em tarifaços arbitrários. Denunciou a Organização Mundial do Comércio, o xerife global contra as práticas desleais do comércio, refundada em 1944 sobre os alicerces do GATT, junto com as outras instituições de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. O que conta não é mais a livre concorrência, estatuto adotado pelas elites dos Estados Unidos, mas o fortalecimento do capital americano por iniciativa do estado.

A democracia é a vítima concomitante. Trump vai destruindo o sistema de freios, pesos e contrapesos – essencial para impedir a concentração do poder político –, sabota o judiciário e força o uso de leis autoritárias, como a Magnitsky, para quebrar a oposição tanto dentro quanto fora dos Estados Unidos. A ONU e a Unesco estão sob esvaziamento. As mais renomadas universidades são escancaradamente sabotadas. Agências independentes de estado, como o banco central americano, são fortemente combatidas. A encarregada das estatísticas de emprego nos Estados Unidos foi demitida porque Trump não gostou dos números que viu.

O fim do regime de livre comércio e o protecionismo instaurado produziram uma reviravolta no sistema de fluxos de produção e de distribuição de matérias-primas e bens acabados.

A forte deterioração das contas públicas, que vem de longe, acaba de ser exacerbada pelo último pacote fiscal, a Big Beautiful Bill, que reduziu impostos e cortou despesas sociais. É o que vem produzindo a desvalorização do dólar, a alta dos juros de longo prazo e movimentos de rejeição do dólar como moeda global de reserva.

Depois de rejeitar o Acordo de Paris, Trump retirou o apoio à produção de carros elétricos e voltou a fortalecer a produção de combustíveis fósseis. Para ele, o esforço ambiental enfraquece o sistema produtivo local.

O que mais o mundo terá de mudar na tentativa de moldá-lo à sua imagem e semelhança? E como ficarão os Estados Unidos e sua relação com a China?

 

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