Correio Braziliense
Donald Trump trouxe a guerra para uma área
próxima à fronteira do Brasil, e as Forças Armadas ainda respondem a padrões da
Segunda Guerra Mundial e a estratégias inteiramente vencidas pela ação do tempo
O mundo vive tempos tempestuosos e belicosos. O presidente dos Estados Unidos deu a partida em um jogo de interesses que confronta boa parte do mundo. Ele pensa, primeiro, nos próprios negócios e, depois, no eventual ganho do consumidor norte-americano. Essa política desvairada resultou em que o conflito na Palestina se tornou mais agudo, com Israel desafiando o bom senso e praticando genocídio diante dos olhos fechados da democracia norte-americana. Na Ucrânia, nem o cessar-fogo foi alcançado. Os dois lados excluíram os ucranianos e buscam ganhar mais espaço, mais terreno, mais negócios e mais empresas. O conflito se transformou em algo muito parecido com a Guerra Civil Espanhola, nos anos trinta, quando os grandes testaram seus equipamentos militares.
A vida ficou precária. A diplomacia
brasileira, que sempre cultivou a tese de o país ser um poder suave, capaz de
convencer pela negociação e diálogo, está na posição de repensar sua maneira de
agir. Há guerras por todo o mundo. O líder norte-americano não hesita em mandar
aviões, submarinos nucleares e porta-aviões para dar tiros em pequenas
embarcações, com motor de popa, no mar do Caribe. É uma desproporção ridícula,
mas trouxe a guerra para uma área próxima à fronteira do Brasil. O presidente
Lula vai precisar tirar a venda dos olhos para enxergar a dificuldade de manter
a soberania no norte do país, ainda mais diante da disposição agressiva de
Donald Trump.
A questão básica é que o Brasil é um país
desarmado. Suas Forças Armadas ainda respondem a padrões da Segunda Guerra
Mundial e a estratégias inteiramente vencidas pela ação do tempo. Um bom
exemplo é a existência de quartéis. Desde que os alemães invadiram a França em
1940, ao contornar a famosa Linha Maginot, verificou-se que esses mastodontes
não servem para nada. A guerra moderna se faz com base na mobilidade. E o
Brasil ainda ostenta, com garbo e elegância, a cavalaria que não tem qualquer
utilidade no conflito atual. Os bichos são bonitos, cada general tem o seu.
Ajuda a compor o cenário para uma bela fotografia. Mas não possui nenhuma
utilização prática.
Em 1975, as Forças Armadas da África do Sul —
melhor exército da África — invadiram o território de Angola, depois da vitória
de Agostinho Neto, comunista, para dirigir o país. Chegaram a sitiar Luanda, a
capital. Em um mês, os cubanos de Fidel Castro colocaram na cidade cerca de 10
mil soldados em condições de lutar. O governo do Brasil, do general Geisel e do
ministro de Relações Exteriores Azeredo da Silveira, auxiliou com gêneros
alimentícios. Dois navios saíram de Santos abarrotados de comida para ajudar os
habitantes da capital de Angola. As forças da África do Sul foram empurradas de
volta à fronteira. Esse é o retrato de força de mobilidade rápida. O Exército
brasileiro está longe de ter e manter algo semelhante. A recente ameaça de
Maduro de invadir a Guiana mostrou que o Exército enfrentou enormes
dificuldades para transferir tropas de Rondônia e Manaus para Roraima.
Na guerra da Ucrânia, drones feitos de
papelão estão azucrinando as tropas russas. Eles voam com motor barulhento, uma
câmara e uma potente granada. Um pequeno artefato com custo de centenas de
dólares está destruindo tanques de milhões de dólares. E avacalha a infantaria.
Soldado em campo aberto é vítima fatal do drone. O Brasil não domina essa
tecnologia. As fronteiras nacionais estão abertas. São um permanente convite
para infiltração de traficantes de armas e de drogas. A missão básica das
Forças Armadas, que é defender o país, não está sendo realizada. A ação da
bandidagem no Rio de Janeiro e em São Paulo é uma fotografia da realidade da
defesa nacional.
É preciso lembrar que a Marinha de Guerra
está sucateada. Os marinheiros sonham alto com submarino nuclear, mas não
dispõem de corvetas, lanchas rápidas e contratorpedeiros para defender as
costas do país, nem os rios da Amazônia, por onde os traficantes navegam sem dificuldades.
Eles são capazes até de construir minissubmarinos na Ilha do Marajó. A Força
Aérea também sonha alto. Mas, até agora, só recebeu 10 unidades do moderno jato
Grippen. A Venezuela se prepara para a guerra com seus poderosos
Sukoi-30.
As Forças Armadas têm função importante na
educação de brasileiros. Elas dão emprego e ajudam a alfabetizar os mais
pobres. A arma terrestre possui a Biblioteca do Exército, fundada em 1881. É
uma importante editora. Recentemente, procurei o livro de memórias do general
Jukov, comandante das forças soviéticas na Segunda Guerra Mundial em várias
cidades do mundo através de amigos correspondentes. Só encontrei aqui na
Editora do Exército.
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