sábado, 20 de setembro de 2025

A guerra está mais próxima. Por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Donald Trump trouxe a guerra para uma área próxima à fronteira do Brasil, e as Forças Armadas ainda respondem a padrões da Segunda Guerra Mundial e a estratégias inteiramente vencidas pela ação do tempo

O mundo vive tempos tempestuosos e belicosos. O presidente dos Estados Unidos deu a partida em um jogo de interesses que confronta boa parte do mundo. Ele pensa, primeiro, nos próprios negócios e, depois, no eventual ganho do consumidor norte-americano. Essa política desvairada resultou em que o conflito na Palestina se tornou mais agudo, com Israel desafiando o bom senso e praticando genocídio diante dos olhos fechados da democracia norte-americana. Na Ucrânia, nem o cessar-fogo foi alcançado. Os dois lados excluíram os ucranianos e buscam ganhar mais espaço, mais terreno, mais negócios e mais empresas. O conflito se transformou em algo muito parecido com a Guerra Civil Espanhola, nos anos trinta, quando os grandes testaram seus equipamentos militares.

A vida ficou precária. A diplomacia brasileira, que sempre cultivou a tese de o país ser um poder suave, capaz de convencer pela negociação e diálogo, está na posição de repensar sua maneira de agir. Há guerras por todo o mundo. O líder norte-americano não hesita em mandar aviões, submarinos nucleares e porta-aviões para dar tiros em pequenas embarcações, com motor de popa, no mar do Caribe. É uma desproporção ridícula, mas trouxe a guerra para uma área próxima à fronteira do Brasil. O presidente Lula vai precisar tirar a venda dos olhos para enxergar a dificuldade de manter a soberania no norte do país, ainda mais diante da disposição agressiva de Donald Trump.

A questão básica é que o Brasil é um país desarmado. Suas Forças Armadas ainda respondem a padrões da Segunda Guerra Mundial e a estratégias inteiramente vencidas pela ação do tempo. Um bom exemplo é a existência de quartéis. Desde que os alemães invadiram a França em 1940, ao contornar a famosa Linha Maginot, verificou-se que esses mastodontes não servem para nada. A guerra moderna se faz com base na mobilidade. E o Brasil ainda ostenta, com garbo e elegância, a cavalaria que não tem qualquer utilidade no conflito atual. Os bichos são bonitos, cada general tem o seu. Ajuda a compor o cenário para uma bela fotografia. Mas não possui nenhuma utilização prática.

Em 1975, as Forças Armadas da África do Sul — melhor exército da África — invadiram o território de Angola, depois da vitória de Agostinho Neto, comunista, para dirigir o país. Chegaram a sitiar Luanda, a capital. Em um mês, os cubanos de Fidel Castro colocaram na cidade cerca de 10 mil soldados em condições de lutar. O governo do Brasil, do general Geisel e do ministro de Relações Exteriores Azeredo da Silveira, auxiliou com gêneros alimentícios. Dois navios saíram de Santos abarrotados de comida para ajudar os habitantes da capital de Angola. As forças da África do Sul foram empurradas de volta à fronteira. Esse é o retrato de força de mobilidade rápida. O Exército brasileiro está longe de ter e manter algo semelhante. A recente ameaça de Maduro de invadir a Guiana mostrou que o Exército enfrentou enormes dificuldades para transferir tropas de Rondônia e Manaus para Roraima.

Na guerra da Ucrânia, drones feitos de papelão estão azucrinando as tropas russas. Eles voam com motor barulhento, uma câmara e uma potente granada. Um pequeno artefato com custo de centenas de dólares está destruindo tanques de milhões de dólares. E avacalha a infantaria. Soldado em campo aberto é vítima fatal do drone. O Brasil não domina essa tecnologia. As fronteiras nacionais estão abertas. São um permanente convite para infiltração de traficantes de armas e de drogas. A missão básica das Forças Armadas, que é defender o país, não está sendo realizada. A ação da bandidagem no Rio de Janeiro e em São Paulo é uma fotografia da realidade da defesa nacional.

É preciso lembrar que a Marinha de Guerra está sucateada. Os marinheiros sonham alto com submarino nuclear, mas não dispõem de corvetas, lanchas rápidas e contratorpedeiros para defender as costas do país, nem os rios da Amazônia, por onde os traficantes navegam sem dificuldades. Eles são capazes até de construir minissubmarinos na Ilha do Marajó. A Força Aérea também sonha alto. Mas, até agora, só recebeu 10 unidades do moderno jato Grippen. A Venezuela se prepara para a guerra com seus poderosos Sukoi-30. 

As Forças Armadas têm função importante na educação de brasileiros. Elas dão emprego e ajudam a alfabetizar os mais pobres. A arma terrestre possui a Biblioteca do Exército, fundada em 1881. É uma importante editora. Recentemente, procurei o livro de memórias do general Jukov, comandante das forças soviéticas na Segunda Guerra Mundial em várias cidades do mundo através de amigos correspondentes. Só encontrei aqui na Editora do Exército.

 

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