Folha de S. Paulo
STF cumpriu seu papel ao sentenciar Bolsonaro
e seus principais apoiadores; é preciso agora evitar reversões
O STF cumpriu
seu papel de guardião da ordem constitucional ao condenar Jair
Bolsonaro e seus principais escudeiros por tentativa
de golpe de Estado e outros crimes. Essa é uma daquelas ocasiões em que
apor o adjetivo "histórico" à palavra "decisão" não
constitui exagero. Estamos, porém, no Brasil, país em que até o passado é
incerto.
O grande valor de uma condenação como a que foi imposta ao núcleo primordial do movimento golpista está em seu caráter dissuasório. Condena-se hoje para que, no futuro, ninguém imite quem tentou promover uma ruptura institucional.
Daí se segue que condenar e logo em seguida
anistiar ou conceder outro tipo de alívio significativo não só anula os
objetivos didáticos da pena como ainda pode gerar um efeito rebote, pelo qual o
caráter dissuasivo da sanção se torna um convite ao cometimento de novos
crimes. Se ninguém que tentou um golpe se deu mal, por que eu não arriscaria?
Ou a aposta dá certo e me torno ditador, ou dá errado e nada de mau me
acontece. Precisamos estar atentos aos riscos de reversão. O perigo está à
espreita. Já na semana que vem parlamentares
poderão votar um projeto de anistia, cujo alcance ainda não está claro.
Essa me parece ser uma ameaça limitada. O STF
já deu todos os sinais de que julgaria inconstitucional um perdão amplo, e o
próprio centrão não tem muito interesse em aprová-lo. O bloco conservador quer
um candidato presidencial que herde os votos de Bolsonaro, mas não sua rejeição.
Isso significa que o ex-presidente precisa permanecer carta fora do baralho.
Um perigo maior mas mais longínquo está na mudança de composição do STF. O
próximo presidente indicará ao menos três novos integrantes para a corte, o que
talvez seja suficiente para livrar Bolsonaro. Qual seria sua força política em
2030 é uma incógnita, mas não convém arriscar.
"Uma República, se vocês puderem mantê-la", teria dito Benjamin
Franklin sobre a natureza do regime criado pela Constituição americana. Lá eles
já fraquejaram. Nós, por enquanto não.
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